“O FC Porto é um emblema com sentimento e essência de vitória muito grandes. Refiro-me aos jogos, mas também ao dia a dia. Quando há esse pensamento competitivo, sem relaxar e a tentar evoluir em todos os aspetos, as coisas acabam por acontecer. Existe o fator sorte, mas tive o enorme prazer de ter passado por clubes que conquistaram vários títulos”, frisou o ex-médio, de 41 anos, que recentemente treinou os brasileiros do Ceará.
Contratado ao River Plate, Lucho González foi tetracampeão nacional e conquistou duas Taças de Portugal na primeira passagem pelo FC Porto (2005-2009), do qual sairia para Marselha (2009-2012), antes de mais dois cetros no retorno aos ‘dragões’ (2012-2014).
“Quando começou a negociação com o FC Porto, antes do Mundial2006, muita imprensa argentina duvidada muito da minha possibilidade de continuar na seleção ao mudar-me para a I Liga, que não era tida como uma das mais importantes. O Deportivo da Corunha também me queria, mas o FC Porto foi o primeiro clube a mostrar interesse”, enquadrou.
O ex-médio, apelidado de ‘el comandante’, chegou “a um país e cidade fantásticos e ao maior clube” que representou na sua carreira para sobressair com 241 jogos e 61 golos.
“Sinto-me muito identificado com os valores do clube e da cidade. Sentia-me ali como se estivesse a viver na Argentina e sempre fui tratado com muito respeito e carinho. Aliás, a própria admiração de outros jogadores, equipas e adeptos não era propriamente normal”, admitiu, falando da convivência com o treinador neerlandês Co Adriaanse, em 2005/06.
Acostumado “a ter alguém próximo dos jogadores”, Lucho González reparou num técnico “algo frio e distante”, que tinha sido recrutado pelo presidente Jorge Nuno Pinto da Costa para “recolocar o clube na ordem” a seguir ao êxito na Liga dos Campeões, em 2003/04.
“Lembro-me de duas situações na pré-época. Primeiro, pensávamos que iriamos ter um domingo de folga e obrigou-nos a fazer 60 quilómetros de bicicleta. Da outra vez, quando já tínhamos sido campeões e ele falava português, levou-nos num outro domingo a fazer remo. Desde então, acho que nunca mais entrei numa canoa [risos]. São escolas e até formas de trabalho, mas não quer dizer que não tenham êxito no futebol”, exemplificou.
O antigo centrocampista recordou ainda como “um dos golos mais bonitos” da carreira o tento de fora da área que abriu caminho ao triunfo do FC Porto em Hamburgo (3-1), em novembro de 2006, em encontro da quarta jornada do Grupo G da Liga dos Campeões.
“Sei que podia rematar mais umas 20 vezes que não fazia outro igual e mandava a bola para a bancada [risos]. É dos momentos em que nem pensas. Chutei e lá entrou. O facto de termos vencido faz com que o golo seja recordado de forma mais especial”, assumiu.
Lucho González terminou a carreira em 2021 pelos brasileiros do Athletico Paranaense, então orientados pelo português António Oliveira, que passaria a coadjuvar, antes de ter iniciado o percurso de treinador principal no Ceará, que orientou de agosto a setembro.
“Pode-se imaginar e ouvir falar de como é viver o dia a dia do futebol brasileiro, mas não se tem noção em concreto da dificuldade que se encontra. Por isso, costumo dizer que não é um país, mas de um continente a nível de futebol. Se na Europa vais de um país para o outro em uma hora, no Brasil já não consegues fazer isso entre cidades”, confidenciou.
Os ‘alvinegros’ foram despromovidos ao segundo escalão, numa época assinalada pela conquista do 11.º título do Palmeiras, de Abel Ferreira, que representa uma “geração de novos técnicos portugueses que são referências e cultivam perfis muito bem definidos”.
“Os portugueses mostram-se convictos de algo e vão até ao fim com esse pensamento, independentemente do resultado. Dá-me a sensação de que o sucesso de Abel Ferreira assenta nessa convicção, na renovação feita a cada ano e no facto de estar num clube importante, com recursos e sob uma pressão muito grande”, terminou Lucho González.
A cimeira Thinking Football decorre entre sexta-feira e domingo, no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, sob inédita organização da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP).
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