Auriol Sally Dongmo Mekemnang. Nasceu nos Camarões e foi pelo seu país de nascimento que competiu até 2017. Foi bi-campeã africana, duas vezes vencedora dos Jogos Africanos, recordista no lançamento do peso e finalista nos Jogos do Rio de Janeiro (2016), onde foi 12ª classificada (com um arremesso de 16,99 metros). "Por falta de valorização do desporto e de cultura desportiva", assim se lê na sua biografia oficial do Sporting, abandonou os Camarões.
Estava em França quando uma amiga lhe disse que havia um clube português que valorizava o atletismo e apoiava os atletas. Problema: não conhecia ninguém por cá. Criou uma conta no Facebook e entrou em contacto com o Sporting, "colocando-se ao dispor dos leões para vestir de verde-e-branco". E desde que 2017 são essas as suas cores.
Dois anos depois, ao verde juntou-lhe o vermelho e o amarelo da seleção nacional quando, em outubro de 2019, obteve a nacionalidade portuguesa. Vive e treina em Leiria, perto do Santuário de Fátima, local de devoção. "Muita da minha força mental vem da minha fé", disse à TSF.
O andebol foi a primeira paixão desportiva, já o lançamento do peso não foi logo amor à primeira vista. Foi desafiada por um professor de Educação Física, mas não gostou da primeira experiência. Tanto a chatearam e lhe fizeram ver o seu talento que hoje está num relacionamento sério com a disciplina.
"Treinar, treinar, casa, supermercado, treinar, infantário, casa", essa é a sua rotina nos dias de hoje, disse à rádio. Está também a tirar a carta para, por exemplo, poder ir mais vezes ao Santuário. "Porque não se vai a Fátima, ou se acredita em Deus, apenas quando se tem um problema".
Em 2018 foi mãe, o que a obrigou a interromper a competição. A maternidade não a fez desistir e o Sporting manteve a aposta na atleta, que retomou o desporto um ano depois. O filho e o treinador Paulo Reis são as pessoas com quem a lançadora de 30 anos espera partilhar novas vitórias.
À TSF partilhou que prometeu a Paulo Reis ser finalista nas olimpíadas, um sonho do seu treinador — e é mulher de palavra. Auriol Dongmo precisou de apenas um lançamento para carimbar o bilhete para a final olímpica do lançamento do peso, em Tóquio.
Já estabeleceu por várias ocasiões um novo recorde nacional (três vezes em 2020), mas a primeira grande conquista internacional pelas 'quinas' aconteceu só em março deste ano. Na sua estreia pela seleção, sagrou-se campeã europeia de pista coberta em Torun, na Polónia — com um arremesso de 19,34 metros. Nunca Portugal tinha conseguido uma medalha no peso em Europeus indoor e Auriol emocionou-se a ouvir e a cantar "A Portuguesa".
A atleta, de 30 anos, chegou a Tóquio com o quinto registo do ano, com o recorde nacional de 19,75 metros, alcançado em Huelva (Espanha), a 3 de junho, e tinha como meta os 20 metros. Não conseguiu e ficou a muito pouco da medalha de bronze: apenas cinco centímetros. Auriol Dongmo terminou a final do lançamento do peso em quarto lugar com a marca de 19,57.
Hoje não se ouviu o hino, mas um lugar na história do atletismo nacional já ninguém lhe tira. Se tudo começou em França, teremos sempre Paris2024.
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