A histórica meio-fundista, medalhada de ouro em Atlanta1996 e de bronze em Sydney2000 nos 10.000 metros, mostrou-se otimista com os resultados lusos nos Jogos Olímpicos, deixando elogios a vários atletas, mas lembrou a efemeridade do evento, que faz com que os resultados dependam de inspirações nos próprios dias de prova.

“Nós temos candidatos, como o [Pedro] Pichardo, que é favorito. Temos uma atleta no salto em comprimento [Agate Sousa], outra atleta no lançamento do disco [Liliana Cá]… Candidatos somos muitos, mas ,depois no dia, tem de ser um ‘dia sim’, só aí é que podemos ver. Estar lá já é especial, todos os anos. Eu já tenho saudades da corrida, da competição. Eu faço atletismo por prazer, mas não é igual à competição”, constatou, em entrevista à agência Lusa, à margem de uma cerimónia que lhe fez homenagem, num centro comercial na Maia.

Fernanda Ribeiro reconheceu que a realidade portuguesa, ao nível do meio-fundo e no fundo, está muito diferente, com Portugal a passar por uma “fase mais complicada”, apontando que houve uma transição para um maior protagonismo das disciplinas técnicas.

“Antigamente, íamos a uma competição e muitos de nós, fundistas, fosse na maratona, nos 10.000 ou nos 5.000, éramos candidatos a medalhas. Neste momento, não somos, estamos a passar por uma fase mais complicada. Na minha opinião, não treinam menos do que nós, se calhar até mais. Mas nós viemos quase todos de mundo de dificuldades. Os meus pais tiveram muita dificuldade para me dar umas sapatilhas, que custavam 200 escudos. Vim para o FC Porto com 12 anos, a fazer hora e tal de comboio. O sacrifício foi decisivo para a nossa geração”, recordou.

Nesse sentido, rejeitou a ideia de que haja falta de condições para que os grandes resultados desportivos sejam alcançados.

“É mais fácil agora do que no meu tempo. Eu ouço sempre dizer que há falta de condições, de que não temos apoio. Acho que os atletas que são candidatos não têm essa falta e, se formos a falar nisso, então nós nunca teríamos ganho nada para trás, porque nós tivemos muito menos apoio do que aquilo que eles têm agora”, sentenciou.

Desde a difícil transição para a atleta sénior, com os resultados discretos em Seul1988 e Barcelona1992, que fizeram a atleta ponderar desistir da carreira, até às lesões recorrentes, a penafidelense fez um percurso caracterizado pela resiliência até ao topo, com cinco presenças olímpicas, usando o seu exemplo para aconselhar aqueles que agora representam o país.

“Uma das mensagens que eu deixo sempre é para que nunca deixem de acreditar, porque eu, em 1992, estive para deixar o atletismo. Correu mal a toda a gente [em Barcelona, Portugal não conseguiu qualquer medalha] e eu fui uma das atletas que foi muito criticada. Se tivesse abandonado, não seria campeã olímpica em 1996. Mas não é fácil muitas vezes ouvir o que o atleta ouve. Todo atleta dá o seu melhor, não há ninguém que vá a para uma competição brincar”, sublinhou, acrescentando que “agora exigem a qualquer campeão do mundo que seja campeão olímpico e há muitos que nunca o são”.

A antiga corredora do FC Porto, atleta feminina mais medalhada de sempre por Portugal, deixou ainda uma palavra ao canoísta Fernando Pimenta, que assume o mesmo título no masculino, numa altura em que o porta-estandarte da comitiva portuguesa em Paris2024 poderá chegar ao pódio olímpico pela terceira vez.

“É um atleta espetacular. Só quem não percebe nada de desporto poderá dizer que não. É também uma das nossas esperanças. Sou portuguesa e conheço os meus colegas das outras modalidades, estou a torcer por eles. Gostava muito que a minha modalidade ganhasse mais medalhas também e sobretudo mais uma de ouro”, concluiu.

THYG // JP

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