Numa intervenção realizada no âmbito do debate “Football Leaks e a proteção dos denunciantes – o papel de Rui Pinto”, em Lisboa, no qual estiveram ainda presentes os advogados Francisco Teixeira da Mota e William Bourdon e o denunciante Antoine Deltour, Ana Gomes assumiu ter confiança na justiça, mas também garantiu não ser ingénua.
“Tenho [confiança] e tenho de ter, mas também sei que a criminalidade e a corrupção estão infiltradas em certos setores, como o desporto, a política e a economia. Mas não sou ingénua, e há gente criminosa infiltrada, o que explica algumas disfunções da justiça ultimamente”, disse, reafirmando a sua suspeição anteriormente manifestada a propósito do caso ‘e-toupeira’.
Apelando à proteção jurídica dos denunciantes e incluindo Rui Pinto sob este estatuto, a eurodeputada portuguesa anunciou também que o Parlamento Europeu vai votar em abril uma diretiva que vai criar mecanismos de defesa para estes indivíduos.
“Esta diretiva que vai ser aprovada remete também, especificamente, para outras diretivas que estão em vigor, nomeadamente a quarta diretiva, contra o branqueamento de capitais e financiamento de terrorismo em todos os países europeus. Imagino que muitas das questões que o Rui Pinto tenha a transmitir às autoridades tenham a ver com branqueamento de capitais”, acrescentou.
Os advogados de Rui Pinto, Francisco Teixeira da Mota e William Bourdon, estiveram na manhã de hoje com o colaborador do Football Leaks, e o jurista português assegurou que o encontrou “bem” e sem arrependimento.
“Rui Pinto está bem, na medida em que pode estar. Está privado da sua liberdade, mas com força e disposição de combater. Sente que fez bem em revelar o que revelou e não está arrependido do trabalho de divulgação que fez”, disse, acrescentando: “A sua segurança está absolutamente salvaguardada. Está numa cela sozinho, os tempos de intervalo são diferentes dos outros reclusos e não tem encontrado um ambiente de hostilidade.”
A terminar, Francisco Teixeira da Mota negou ter conhecimento de qualquer pedido de cooperação das autoridades tributárias portuguesas em relação ao colaborador do Football Leaks.
Em prisão preventiva desde 22 de março, Rui Pinto, de 30 anos, foi detido na Hungria e entregue às autoridades portuguesas, com base num mandado de detenção europeu, indiciado pela prática de quatro crimes: acesso ilegítimo, violação de segredo, ofensa à pessoa coletiva e extorsão na forma tentada.
Na base do mandado estão acessos aos sistemas informáticos do Sporting e do fundo de investimento Doyen Sports e posterior divulgação de documentos confidenciais, como contratos de futebolistas do clube lisboeta e do então treinador Jorge Jesus, além de outros contratos celebrados entre a Doyen e vários clubes de futebol.
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