Na audição que abriu a 16.ª sessão do julgamento no Tribunal Central Criminal de Lisboa, Luís Fernandes foi confrontado com o email que lhe tinha sido reenviado pela advogada da PLMJ Paula Martinho da Silva no dia 26 de outubro de 2018, por suspeitas de que se pudesse tratar de ‘spam’, uma vez que representava um suposto email da Autoridade Tributária e tinha um endereço para descarregar documentos.
“Quando fui à Polícia Judiciária é que me disseram que teria sido este o email que teria dado acesso às credenciais”, revelou a testemunha, que disse não ter encarado o email na altura como ‘spam’, sublinhando: “Posso ter clicado no ‘link’. E admito ter inserido as credenciais para prestar melhor apoio à utilizadora.”
De acordo com o depoimento de Luís Fernandes, formação em segurança informática “não era um requisito” para aquelas funções, nem tal lhe foi alguma vez perguntado. Aliás, o técnico reconheceu também não saber “como se processa” a captação de credenciais através de ‘phishing’, o método alegadamente utilizado pelo criador da plataforma eletrónica para aceder ao sistema informático da sociedade de advogados.
De seguida, o coletivo de juízes ouviu a advogada Paula Martinho da Silva, que vincou ter suspeitado de imediato do email recebido e que, por prática pessoal, sempre reencaminhou esse tipo de correspondência para o apoio informático.
“É uma prática que tenho há anos e que faço ainda hoje. Sempre que vejo um email que parece suspeito, envio para a informática. Estou muito atenta a estas situações, achei que não parecia um email normal da Autoridade Tributária e fiz o que costumo fazer: enviar para a Informática”, afirmou a jurista, que enfatizou nunca ter aberto o referido email e que só “muito mais tarde” teve conhecimento de que esse email tinha permitido a intrusão.
A advogada, que está há 13 anos naquele escritório, explicou que a conta de correio eletrónica da PLMJ era a “única” que tinha e servia para correspondência profissional e pessoal. Entre os emails estavam desde marcações de consultas a “muita informação” relacionada com denúncias de corrupção, salientando o efeito “avassalador” do acesso ao seu email.
“Foi muito difícil enfrentar esta situação. Uma coisa é assaltarem-me a casa, em que levam as minhas coisas; aqui, levaram as minhas e as dos meus clientes. Como advogada, foi muito difícil tornar-me vulnerável. Ainda hoje não sei qual foi o propósito do acesso aos meus documentos e permanece sempre a dúvida do que pode ser feito. É uma permanente incerteza que me coloca vulnerável”, disse.
A sessão prossegue agora de tarde com as audições dos advogados João Carminho, José Formosinho Sanchez e Sara Estima Martins.
Rui Pinto, de 31 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
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