Na época passada tive a oportunidade de relatar a experiência de ver um jogo da Premier League ao vivo. Este ano descemos na divisão, mas por certo que não descemos na emoção e riqueza da experiência. Antes de irmos ‘a jogo’, uma pequena pausa para conhecer melhor a equipa anfitriã, o Luton Town.

A cidade de Luton

A aproximadamente cinquenta quilómetros a norte de Londres, Luton é uma cidade com tradições bem vincadas na sociedade inglesa. Entre muitas outras indústrias, aquela que viria a torná-la mais famosa, e que ainda hoje em dia dá nome às pessoas que lá nascem, seria a industria dos chapéus. Até à segunda grande guerra, a indústria chapeleira dominou a cidade e viria a ser a mais marcante na história moderna de Luton.

Com a sua proximidade a Londres e a uma das principais auto-estradas do país (M1), Luton é um ponto de referência na ligação entre o sul e o norte de país e uma das localizações de eleição para quem necessita de estar perto de grandes centros urbanos, como Londres, mas não tem a capacidade financeira ou a motivação para residir na grande metrópole.

‘The Hatters’ e não ‘The Haters’

Numa cidade cheia de tradição, o clube da terra não poderia ser diferente. Fundado em 1885, o Luton Town FC tem uma massa de adeptos muito fiel e que nunca, em circunstância alguma, deixou de apoiar a equipa. A equipa é conhecida pelo nome Hatters (Chapeleiros) - não confundir com o termo 'haters', que está muito em voga e que se refere a pessoas com propensão para serem negativas.

Os Chapeleiros passaram os primeiros setenta anos da sua história sem conhecerem o sabor do principal escalão inglês, mas em 1955-56 não só conseguiram subir à mais alta divisão do futebol inglês, como por lá permaneceram durante cinco anos. Contudo, seria apenas nos anos 80 que o Luton viria a conhecer maior sucesso desportivo.

De 1982 a 1992, o Luton subiu e manteve-se mais uma vez na primeira divisão inglesa. Infelizmente para o clube, a descida veio precisamente no ano de criação da Premier League. Falhando a ‘bolha’ do futebol moderno, o clube ainda se manteve na League Division One (segundo escalão na altura) por mais quatro anos mas viria a descer de divisão em divisão até acabar no escalão amador, a Conference. Durante o período de ouro o clube conseguiu, ainda assim, alcançar as meias-finais da Taça de Inglaterra por três ocasiões (1985/88/94).

Mas o momento mais alto foi a conquista da Taça da Liga frente ao Arsenal, numa final jogada em Wembley na época de 1987/88. Até hoje, é o principal troféu no museu do clube.

Em 2009-10, com a descida aos escalões amadores do futebol inglês, o clube atingiu o ponto mais baixo da sua história, o que levou a comunidade e os empresários da cidade a envolverem-se e a apoiar a equipa. Desde aí que o Luton tem vindo a crescer e as suas ambições são chegar, pela primeira vez, à Premier League. Com um centro de treinos acabado de construir e com um novo estádio com capacidade para vinte e três mil pessoas que, apesar dos atrasos, está previsto estar completo em 2020, o Luton prepara o futuro com detalhe e qualidade.

Com uma excelente academia, consistência nas escolhas e apostas para jogadores e equipa técnica, o Luton parece estar no caminho certo. Acabado de chegar esta época à League One (terceiro escalão), e após alguns jogos de adaptação, a equipa está de volta à forma do ano passado, que a viu subir de divisão em grande estilo, e já ganha jogos com alguma regularidade. O Luton Town é neste momento décimo classificado, entre vinte e quatro equipas, encontrando-se a apenas três pontos dos lugares de acesso ao playoff de subida à Championship.

Kenilworth Road: Luton Town vs. Charlton Athletic

De Londres a Luton, a viagem de comboio faz-se em aproximadamente trinta e cinco minutos. Chegados à estação de Luton, espera-nos uma caminhada de cerca de vinte minutos até ao estádio, que se faz tão bem, quanto melhor esteja o tempo. Num dia de sol e temperatura amena, como fomos presenteados no dia 29 de Setembro, o percurso, já entre adeptos de ambos os clubes, não poderia ter sido mais fácil e pacífico.

Para quem nunca foi a Luton, a primeira surpresa do dia é o estádio, colocado estrategicamente entre as casas e com uma simplicidade não nos deixa depreender que estamos perante a estrutura na qual vamos presenciar um jogo de futebol. Inaugurado em 1905, seria devaneio não dizer que o Kenilworth Road Stadium já está relativamente 'ultrapassado'.

Não sendo o estádio mais antigo das principais divisões inglesas, a casa dos Chapeleiros (alcunha pela qual são conhecidos os adeptos do Luton) é com toda a certeza dos estádios mais antigos com menos remodelações ao longo dos anos. Com capacidade para 10.356 pessoas, o ambiente vivido dentro e fora do mesmo é o mais aproximado possível ao futebol ‘não moderno’, onde o conforto dos espetadores não era prioridade. Contudo, há que aproveitar e desfrutar da experiência.

O jogo em si foi muito bem jogado. O adversário do Luton era outro histórico, que recentemente passou pela Premier League e onde o ex-internacional português Jorge Costa chegou a jogar: o Charlton Athletic. Apesar deste ser o terceiro escalão do futebol inglês, o futebol em si não mostrou isso: ambas as equipas a tentar sair a jogar na maior parte das vezes, com alguns jogadores de qualidade, outros nem tanto, mas principalmente com uma mentalidade de futebol britânico, onde nenhuma bola é dada como perdida.

Nas bancadas confesso que esperava mais apoio por parte dos adeptos da casa. Já assisti a muitos jogos dos Hatters e os cânticos vindos da zona de adeptos mais ‘ferrenhos’ são constantes. No passado sábado não foi esse o caso. Com cerca de 9.500 espetadores presentes, sendo que cerca de 1.000 eram apoiantes da equipa visitante, os Chapeleiros só ‘espevitavam’ com os golos da sua equipa. Por outro lado os adeptos que viajaram de Londres para apoiar o Charlton foram mais activos e principalmente mais audíveis.

Se nas bancadas o Charlton ganhou, no campo o jogo foi mais renhindo, e inclusivamente o Luton poderia muito bem ter saído com os três pontos. Com um final de loucos com cantos, bolas ao poste e remates rejeitados em cima da linha de golo, resultado da pressão do Charlton, a equipa londrina acabaria mesmo por chegar ao empate (2-2) já nos descontos de tempo.

Uma excelente tarde de futebol, em que a proximidade ao relvado e a energia dos adeptos são os atrativos principais que tornam única a experiência de ver um jogo de futebol da League One.

Esta semana na Premier League

O City não vence em Anfield Road, estádio do Liverpool, desde 2003, o que se traduz em dezanove tentativas falhadas. Impressionante o quão difícil pode ser jogar em casa dos Reds, mesmo quando estes não estão na melhor forma, como terá sido o caso em diversas vezes, desde 2003. E se assim é, imagine-se quando estes estão em grande forma, como é o caso da equipa comandada por Jürgen Klopp.

Se na semana passada fomos confrontados com a possibilidade do Liverpool poder perder dois jogos seguidos, o que não se veio a concretizar, esta semana, após a derrota a meio da semana frente ao Nápoles na Liga dos Campeões, vemo-nos confrontados com a possibilidade dos Reds poderem não encontrar o sabor da vitória em quatro jogos consecutivos, o que diríamos ser quase impossível, dada a forma em que se encontra desde o final da temporada passada.

O desafio está lançado e o adversário não poderia ser mais desafiante. De forma a fechar a jornada em grande estilo, o Liverpool recebe o Manchester City naquele que promete ser o jogo da oitava jornada. Domingo dia 7, pelas 16h30, a partida a não perder em mais uma jornada de futebol inglês.