Três semanas depois do início do Mundial da Rússia, os rebeldes pro-russos em Donetsk, na Ucrânia, cumpriram a sua promessa de abrir um espaço de adeptos numa cafeteria localizada na Donbass Arena, que foi o orgulho dos habitantes, mas ficou abandonada desde a explosão do conflito com o Exército ucraniano em 2014, que já deixou mais 10 mil mortos.

Hoje, este recinto ultramoderno inaugurado em 2009 nesta cidade industrial do leste e frequentado por estrelas do futebol há alguns anos, abriga um museu, um café para acompanhar os jogos  e organiza visitas guiadas.

Decorado com as cores do clube local, o Shakhtar, que teve que deixar Donetsk no início da guerra, o estádio é equipado com várias telas que transmitem as partidas pela televisão russa e pela Internet. O toque de recolher imposto pelos separatistas devido aos combates e que começa às 23h00 locais e dura toda a noite, foi adiado até 01h00, permitindo que os fãs de futebol se reúnam para ver as partidas noturnas pela televisão.

As autoridades separatistas justificaram a decisão com a "estabilização da situação" na frente onde há um cessar-fogo precário desde a assinatura dos acordos de paz em 2015.

"Todas as mesas estão reservadas para a Rússia-Croácia esta noite, e o toque de recolher permitirá que as pessoas passem um momento bom juntas", disse Youlia, gerente de 27 anos do café Donbass Arena.

"É como um sonho: tínhamos algo do passado e voltámos a ver isso, estou com uma sensação de 'déjà vu'"

"Acho que é normal ver as pessoas a apoiar a seleção da Rússia. Habituaram-nos mal, já estão nos quartos de final. Esperamos que se classifiquem para as meias finais", declarava Sergei Serdiouk, visitante do estádio, satisfeito com o relativo retorno à normalidade do local que uma vez foi motivo de orgulho desportivo em Donetsk. "É como um sonho: tínhamos algo do passado e voltámos a ver isso, estou com uma sensação de 'déjà vu'", brinca.

A Donetsk Donbass Arena foi sede dos jogos do Europeu 2012, organizado conjuntamente pela Ucrânia e pela Polónia, e lá puderam ver grandes estrelas como Cristiano Ronaldo, Andrés Iniesta e Xavi Hernández.

Danificado durante a batalha que sacudiu esta grande cidade industrial, o estádio teve que fechar e viu os seus jogadores irem para Kiev.

Após a partida dos jogadores, o presidente do clube Shakhtar, o oligarca ucraniano Rinat Akhmetov, primeiro tentou manter o controle do estádio e se esforçou para organizar a distribuição de ajuda humanitária aos moradores da cidade, atingidos por fortes bombardeamemtos e privações.

Akhmetov gastou 350 milhões de euros para construir a Donbass Arena e contratou os arquitetos que trabalharam nos projetos do estádio Allianz Arena do Bayern de Munique e do Estádio Nacional de Pequim.

O estádio e outras propriedades do oligarca foram tomadas pelos separatistas, acusados por Kiev e pelos ocidentais de serem militarmente apoiados pela Rússia, o que Moscovo nega.

A tímida iniciativa neste Mundial pode não durar e o estádio, com o relvado parcialmente amarelado e a iluminação a não funcionar, pode ser tornar mais uma marca da ruína causada pelo conflito ucraniano.