O lance começa com Jonas mais ou menos isolado na cara do guarda-redes do Boyacá Chicó, equipa colombiana que o Grémio defrontava naquele dia, em jogo a contar para a Taça Libertadores, competição sul-americana que poderá ser comparada à Liga dos Campeões europeia. O avançado brasileiro remata mas o guardião dos colombianos defende a bola para a frente. Jonas recupera o esférico, ultrapassa o guarda-redes e, sem ninguém na baliza, remata ao poste. A bola ressalta novamente para o avançado que ultrapassa um defesa (entretanto chegado ao lance) e remata novamente à baliza (ainda sem guarda-redes mas com um defesa a fazer as suas vezes), para novo falhanço.
Nascia o mito de "pior avançado do mundo", atribuído pelo jornal espanhol Mundo Deportivo, numa publicação que aparentemente já foi apagada mas que a Internet não deixa morrer.
"Nunca quis dar uma resposta a este facto", disse o avançado brasileiro, em declarações reproduzidas pelo Jornal Record na sequência de uma conferência de imprensa no ano passado. Admitindo que foi um momento difícil, o avançado brasileiro referiu que se fez eco de um lance isolado de um jogo e que se ignorou toda a sua história e carreira. "Fiquei chateado", disse.
Hoje, Jonas não está chateado. Pelo contrário. "Estou muito feliz por ficar num clube com que estou bastante identificado. Estou contente e isso vê-se dentro de campo. Sempre que visto a camisola para defender o Benfica é uma alegria imensa. Estou satisfeito por ampliar o meu contrato até 2019. Espero continuar a conquistar muitos títulos. Quero, ainda, agradecer o carinho dos adeptos, a confiança do presidente e de todas as pessoas”, afirmou, na sequência da confirmação oficial de que ficaria ao serviço do clube da Luz até completar 35 anos.
Porto Alegre, Valência, dispensa e... Luz
Nascido em Bebedouro, no estado brasileiro de São Paulo, a carreira profissional de Jonas começou em 2005 no Guarani, clube brasileiro de Campinas, no mesmo estado. Em 26 jogos apontou 12 golos, prestação que lhe valeu a transferência para o Santos no ano seguinte. Fica um ano e meio no clube de sempre de Pelé (37 jogos e 6 golos) e transfere-se depois para o Grémio de Porto Alegre, clube brasileiro do estado do Rio Grande Sul que formou um tal de Ronaldinho Gaúcho. Em Porto Alegre fica quatro anos, com um empréstimo à Portuguesa dos Desportos pelo meio. No ano dos "falhanços" acima referido, marca 24 golos em 49 jogos e no ano seguinte faz ainda melhor: 42 golos em 65 jogos e título de melhor marcador do Brasileirão.
Com uma cláusula de rescisão relativamente acessível (pouco mais de 1 milhão de euros), Jonas sai do Grémio em janeiro de 2011 e assina pelo Valência de Espanha. Pelo clube che, o avançado brasileiro marca 51 golos em 156 jogos e partilhou a frente de ataque valenciana com nomes como Roberto Soldado, Aritz Aduriz ou... Hélder Postiga. Foram épocas de relativo sucesso, apesar de não ter vencido títulos. Mas serviram para a sua afirmação no futebol europeu.
Contudo, no início da época 2014/2015, tem lugar uma autêntica revolução no Valência. A chegada de Peter Lim, investidor de Singapura e amigo de Jorge Mendes, traz um novo treinador - um tal de Nuno Espírito Santo... - e novas caras para o plantel: André Gomes (agora no Barcelona), João Cancelo e, mais relevante para Jonas, Álvaro Negredo (à data, emprestado pelo Manchester City) e Rodrigo Moreno, avançado adquirido ao SL Benfica por 30 milhões de euros.
Sem espaço numa frente de ataque que via ainda nascer o fenómeno Paco Alcácer (atualmente companheiro de equipa de André Gomes no Barça), Jonas acaba dispensado e rescinde o seu contrato com o clube che. Livre para decidir o seu futuro. Acaba no SL Benfica, campeão nacional em título e treinado por Jorge Jesus, agora seu adversário no outro lado da Segunda Circular.
Na primeira época na Luz, marca 31 golos em 35 jogos e dissipa todas as dúvidas relativamente à sua qualidade. Forma uma dupla mortífera com Lima - juntos, marcam 39 dos 86 golos do SL Benfica - e é peça fundamental numa época em que as águias, para além do campeonato, vencem também a Supertaça e a Taça da Liga.
No ano seguinte, já sem Jesus, supera o que tinha feito. Apesar do início "tremido", o Benfica de Rui Vitória tem um ano histórico no campeonato e Jonas é considerado por muitos o principal responsável por isso. Supera Slimani na luta pelo lugar mais alto no pódio dos goleadores da principal competição portuguesa e vence ainda a sua segunda Taça da Liga.
Este ano, e mesmo depois de problema de saúde que o fez falhar muitos jogos nesta primeira metade da época, Jonas - o "Pistolas", como é carinhosamente tratado pelos adeptos benfiquistas - contabiliza 9 golos em 16 jogos. Apesar de cobiçado por clubes chineses (tanto no início da época, como também no mercado de inverno), o atacante brasileiro acabou por ficar no clube da Luz e vê agora essa lealdade premiada como a extensão do contrato até 2019.
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