Desde que desembarcou no Rio de Janeiro, muito se falou sobre como poderia Jorge Jesus implementar diferentes ideias de futebol em terras tupiniquins, ultimamente fadadas ao estilo de jogo defensivo, sem priorizar a posse de bola, abusando de contra ataques e jogadas rápidas, sendo ao mesmo tempo escassas durante as partidas, não por falta de qualidade técnica, mas talvez por falta de padrão tático.
Jorge Jesus mudou rapidamente o estilo de jogo proposto anteriormente por Abel Braga. Mesmo contando com um dos melhores plantéis brasileiros na atualidade, Abel era criticado pela falta de volume ofensivo, ainda que contando com jogadores tidos como goleadores, nomeadamente Gabriel "Gabigol" Barbosa e Bruno Henrique. Jesus mudou este cenário, e não por acaso fez a produção do ataque subir, tendo como ponto de partida do Brasileirão um expressivo 6-1 contra o Goiás (um hat-trick de Giorgian De Arrascaeta, que curiosamente não se havia firmado titular com Abel, dois golos de Gabigol e um de Bruno Henrique).
Poderia isto ser um "déjà vu" dos inícios alucinantes do treinador como também foram com o Benfica e o Sporting? Sim, porque muito se falou na intensidade do rubro-negro durante o jogo, na marcação no campo adversário, e como isto nas equipas portuguesas sucedeu-se num desgaste excessivo do plantel ao final das competições. É possível que não aconteça no "Fla" pois, como já foi dito, o plantel é um dos melhores e mais vastos na competição canarinha, porém os altos e baixos já se mostraram presentes neste novo trabalho.
Se por um lado a estreia no Brasileirão foi empolgante, as jornadas decisivas na Copa do Brasil, competição também importante pelo alto valor do prémio dado ao vencedor, foram a parte ruim de seus primeiros dias. Dois empates em 1-1 com o Athletico Paranaense (o primeiro deles a estreia oficial de Jorge Jesus pelo Flamengo, independente da competição) e a eliminação nos pénaltis na segunda mão, com direito a erro de Diego Ribas e Éverton Ribeiro.
O clima péssimo após a eliminação no quartos de final da Copa fez os adeptos protestarem contra a equipa e o treinador, nos dias que antecederam viagens do plantel. Isto certamente deixou Jesus preocupado, talvez até por já ter vivido coisas parecidas (mas piores) na invasão da academia do Sporting. E a sua fase de adaptação também passa por um certo incómodo dos demais treinadores brasileiros, algo que também acontece com Jorge Sampaoli no Santos, que compõe a dupla de novidades estrangeiras no Brasil.
Chega a ser confundido com uma certa xenofobia que alguns treinadores tenham uma posição firme e contrária a treinadores estrangeiros, como Jesus. A descrença nos métodos aplicados (que muitos dizem não serem métodos novos, apenas reestilizados do que já era feito no Brasil), ou mesmo o pessimismo quanto ao resultado dessa mudança de filosofia, também parece com o que chamam de reserva de mercado. Assim, treinadores brasileiros protegem-se e aproveitam os deslizes dos estrangeiros para fazer com que, se demitidos, consigam de volta vagas em grandes equipas, que assim podem desistir de apostar em treinadores de fora.
Para quem aprecia o futebol e de facto vê que as equipas brasileiras só têm a ganhar com diferentes estilos de jogo, mudanças táticas e o intercâmbio de ideias trazidas da Europa, as chegadas de Sampaoli e Jorge Jesus são uma porta aberta para o conhecimento, a diversidade e obviamente o entretenimento no desporto. Um exemplo simples mostra o desejo do treinador de ter uma equipa mais ofensiva, capaz de reter a bola por mais tempo, e de trabalhar sempre no relvado adversário. Jesus, diferente de Abel Braga, trocou o sistema tático do Flamengo ao sacar um médio defensivo e jogar com um jogador a mais no ataque. O famoso 4-2-3-1 (com dois médios defensivos à frente dos centrais) transformou-se em um 4-1-3-2 (apenas um médio defensivo e dois avançados dividindo o ataque) ou mesmo um 4-1-4-1 (um médio ofensivo a mais, para dar mais opções ao avançado).
Com as recentes chegadas de Rafinha (lateral direito, ex-Bayern), Filipe Luís (lateral esquerdo, ex-Atlético de Madrid), Pablo Marí (defesa central, ex-Manchester City) e Gerson (médio ofensivo, ex-Roma), o plantel carioca definitivamente se tornou o mais completo do Brasil, tendo Jorge Jesus já tratado de colocá-los como titulares na equipa no intuito de integrá-los o mais breve possível. E não é improvável que tornar a equipa mais internacional tenha sido um reflexo das chegadas de Sampaoli e Jorge Jesus, que acabam por dar ainda mais visibilidade às competições brasileiras ou que os brasileiros disputem (basta ver também as chegadas de Dani Alves e Juanfran ao São Paulo, Adriano ao Athletico Paranaense, e até no interesse do próprio Flamengo por Balotelli, e de outras equipas em Fernando Llorente, Frank Ribery e até na sondagem de empréstimo de Neymar).
Por fim, o treinador português tem até aqui nove jogos pelo Flamengo, quatro vitórias, três empates e duas derrotas (somando todas as competições), e um aproveitamento de 55,5%. Se contarmos apenas o Brasileirão, o aproveitamento melhora para 66,6% em cinco jogos, sendo três vitórias, um empate e uma derrota. Números que, apesar da queda na Copa do Brasil, mantém o Flamengo vivo na Libertadores da América, onde enfrenta o Internacional de Porto Alegre nos quartos-de-final, e também na briga pelas primeiras posições no Brasileirão (3º colocado até a reta final da 1º volta). Fez crescer o futebol de Gabigol e Arrascaeta, e conta com destaques positivos como Éverton Ribeiro e Rafinha, e certamente continuará sendo assunto até o final desta emocionante época.
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