“Antes este tipo de ligas era visto como uma liga para uma reforma, para se ganhar alguns milhões no final da carreira. O projeto, agora, é outro. Há dinheiro para chamar todos os melhores jogadores da Europa e do Mundo. Ronaldo foi o chamariz e está a resultar”, disse ao SAPO24 o jornalista desportivo árabe Santi Aouna, descrevendo depois o projeto milionário dos árabes.

“Está a ser preparado ao pormenor desde que se lançaram na corrida pelo Campeonato do Mundo de 2030. Antes dessa decisão, de onde será o Mundial, querem ter uma liga competitiva, para provarem que podem receber uma competição deste nível. E o projeto não abrange apenas jogadores, abrange tudo, desde treinadores, dirigentes, árbitros, tudo mesmo”, disse, descrevendo depois o que se pensa para um futuro mais longínquo.

“Lutar contra os principais campeonatos e competições europeias. Falou-se muito numa nova Super Liga europeia, para lutar contra a Champions, e é algo assim que eles pensam fazer. Uma competição onde estejam os melhores jogadores do mundo, na Arábia Saudita. É apenas um projeto, mas é algo com que eles sonham e é isso que eles estão a mostrar a jogadores, treinadores, dirigentes, árbitros, etc. Não pensem que é apenas um sonho. Há um projeto sério e dinheiro para convencer os melhores, não apenas os reformados”, referiu.

Cristiano Ronaldo foi assim a primeira grande estrela a aceitar este desafio, seguindo-se também já este ano Benzema, Kanté, Hakim Ziyech, Edouard Mendy e Koulibaly. Se os dois primeiros já passaram dos 35 anos, os outros entraram agora na casa dos 30. Resumindo, começa a ver-se um olhar diferente de algumas estrelas sobre esta nova liga e o dinheiro parece que não é a única 'desculpa'.

"Falou-se muito numa nova Super Liga europeia, para lutar contra a champions e é algo assim que eles pensam fazer. Uma competição onde estejam os melhores jogadores do mundo, na Arábia Saudita"

“Claro que não. Muitos desses jogadores não vêm ganhar muito mais do que ganhariam se aceitassem outros projetos. Nem todos vêm ganhar o que Cristiano Ronaldo ou Benzema ganham, nada disso. Claro que poderão receber um pouco mais, mas mais dois ou três milhões não os fariam aceitar a Liga árabe em detrimento de uma liga inglesa ou espanhola. É mesmo o projeto, é quererem ser os pioneiros de uma liga que vai dar muito que falar”, referiu Aouna, analisando nomes de outros jogadores que poderão fazer parte deste campeonato.

“Rúben Neves, Bernardo Silva são alguns dos que se falam agora, há outros como Paquetá, Ansu Fati, Brozovic, Busquets sobre os quais também há interesse. E ninguém os vê a desmentir o interesse de jogarem numa liga destas, bem pelo contrário. Claro que será difícil, complicado, virem todos de uma só vez, mas no meu entender bastará dois ou três, para que depois mais possam vir nos próximos anos”, disse.

"Claro que poderão receber um pouco mais, mas mais dois ou três milhões não os fariam aceitar a Liga árabe em detrimento de uma liga inglesa ou espanhola. É mesmo o projeto, é quererem ser os pioneiros de uma liga que vai dar muito que falar"

Refira-se que já este mês o ministro do desporto confirmou que o Fundo de Investimento Público (PIF) ficará com 75 por cento dos quatro principais clubes árabes, nomeadamente o Al Ittihad, Al Ahli, Al Nassr e Al Hilal. Aouna diz que é apenas o começo de uma nova geração.

“Antes era o Estado que controlava, agora começou a dar o controlo a privados. Agora não há limites para esses quatro clubes, não há 'regras' rígidas salariais, de transferências, etc. É dada uma liberdade para que se consigam os objetivos claros de transformar a Liga numa das melhores do mundo, com os melhores jogadores”, concluiu.

A qualidade que já existe

Chegou Cristiano Ronaldo, vai chegar Benzema e muitos outros. Mas, a verdade, é que já lá estão outros com imenso talento. Há nomes conhecidos dos portugueses, como Talisca, Fábio Martins, Carrillo, Vietto, etc. Ou seja, há já muita qualidade na liga árabe.

"Falava-se muito dos jogadores que estavam nos Emirados, mas há muito tempo que os melhores jogadores da Ásia estão na Arábia Saudita, há mesmo muita qualidade. Se as melhores equipas jogassem em alguns dos principais campeonatos da Europa não iriam desiludir, algumas delas até poderiam fazer uma gracinha. Há mesmo muita qualidade, ano após ano", disse ao SAPO24 o brasileiro Fábio Carille, que orientou o Al-Ittihad, referindo acreditar no crescimento dos que já lá jogam há muito tempo.

"Estes novos futebolistas vão fazer com que os outros, que já são bons, tenham de crescer ainda mais. Há um crescimento grande, isso não há dúvidas. Há muito empenho, deles, de quem os treina e de quem os vai buscar. É um investimento sério na qualidade", afirmou.

Quem também conhece bem esta realidade é o português Fábio Martins, que valoriza a competitividade na Arábia Saudita. "As equipas são muito competitivas. É um pouco como em outros países, há sempre três, quatro ou cinco conjuntos que são candidatos e que, normalmente, lutam pelo título. Mas os jogos são quase todos competitivos", assinalou, referindo que a chegada de Ronaldo, e de outros, será muito importante: "Não só para a Liga, mas também para o país".