"O que se passou com a camioneta do Benfica é um crime tão grave. É das coisas mais nojentas e mais maquiavélicas que vi. Não sei se são benquistas, o que é que são, mas há uma coisa que nós fazemos, um apelo às autoridades: têm de descobrir quem fez isto ao Benfica", disse Luís Filipe Vieira no final da Assembleia-Geral da liga de clubes, em conferência de imprensa com os jornalistas.

O presidente dos encarnados disse que tendo em conta a estrada, se o "pedregulho que bateu onde bateu" tivesse batido no "vidro do motorista, o acidente poderia ter sido muito grave e poderíamos ter mortos".

"Se forem benquistas, com certeza que serão afastados do Benfica", sublinhou.

Luís Filipe Vieira recordou ainda um “atentado com alguma gravidade” que o visou a si e ao seu motorista, numa viagem a Paços de Ferreira, que, segundo o dirigente, “ficou em ‘águas de bacalhau’”.

Sobre a equipa o dirigente disse que "o grupo está forte, é sério, é profissional. São todos amigos, funciona como uma família. As pessoas querem fazer um caso, quando não existe".

Na quinta-feira, após o empate sem golos frente ao Tondela, na jornada que marcou o regresso da I liga depois de uma paragem de mais de dois meses devido à pandemia de covid-19, o autocarro do Benfica foi atingido por pedras, na saída da autoestrada A2, tendo os jogadores Weigl e Zivkovic sido atingido por estilhaços.

Em comunicado, o clube da Luz confirmou que o autocarro foi alvo de um “criminoso apedrejamento” e explicou que os dois futebolistas foram conduzidos ao hospital para “serem observados, na sequência dos estilhaços que os atingiram”.

Na mesma noite, as casas de alguns futebolistas do Benfica foram grafitadas com ameaças, segundo indicou fonte oficial da Polícia de Segurança Pública.

Relação empresarial com o Desportivo das Aves? "Tudo o que foi colocado na rua é legal"

Questionado sobre notícias que davam conta da relação empresarial dos ‘encarnados’ com o Desportivo das Aves, Luís Filipe Vieira sublinhou a legalidade destes negócios.

“Tudo o que foi colocado na rua é legal. O FC Porto faz, o Sporting faz, toda a gente faz e é legal”, frisou o presidente ‘encarnado’.

Vieira reiterou a robustez financeira do Benfica, assumindo “toda e qualquer responsabilidade com os seus profissionais”, admitindo que, em caso de recidiva da pandemia de covid-19, podem surgir dificuldades para o clube e para a sociedade.

“Se, em outubro ou novembro, tivermos outro caso [de confinamento] semelhante ao que se passou recentemente há empresas que vão desaparecer e, logicamente, os clubes de futebol também se vão ressentir e alguns poderão desaparecer”, salientou.

De acordo com o líder ‘encarnado’, as dificuldades estão a ser amenizadas por moratórias de créditos e pelos ‘lay-off’, “mas, se calhar, quando isso acabar, vai haver muitos problemas neste país”.

“E o futebol, logicamente, também vai sofrer com isso, se os sócios e adeptos que vão ao futebol deixarem ou baixarem os rendimentos. Há quem diga que há dinheiro para tudo, mas não há, tem de haver dinheiro é para as pessoas comerem”, vincou.

Questionado sobre a continuidade da disputa da I Liga sem público, Vieira identificou “algumas situações caricatas”, escusando-se a concretizar, dando ainda conta de que a retoma do campeonato se ficou a dever ao primeiro-ministro, António Costa, e à Direção-Geral da Saúde (DGS).

Modelo de governação da Liga de clubes “tem de ser melhorado”

"O modelo tem de ser melhorado e aprovado. É importante para a LPFP esta mudança, para uma visão mais empresarial. O modelo que existe [atualmente] foi criado há muito tempo, tendo os três ‘grandes’ como impulsionadores da máquina", disse Luís Filipe Vieira.

O líder dos ‘encarnados’ reconheceu ter uma divergência com Pedro Proença, mas garantiu que na reunião magna de hoje "não houve nenhum ataque" ao presidente da LPFP, evitando falar de sucessores na liderança do organismo.

"Todos sabem que a divergência tem a ver com uma carta que foi escrita ao Presidente da República, na qual Pedro Proença falou em nome do Benfica, sobre jogos em canal aberto. Isso é algo impensável para qualquer clube, hoje são os operadores que dão o ‘sangue' aos clubes. Mas não houve ataque ao presidente da LPFP. Se o novo modelo de governação para a LPFP que hoje discutimos for aprovado, terá de haver eleições e aí vão surgir candidatos", disse Luís Filipe Vieira.

O presidente do Benfica acrescentou que essa divergência com Proença "não é pela qualidade da sua gestão, mas sim pela forma como gere a vontade de todos os presidentes da LPFP".

"Se houver eleições, tenho a certeza de que haverá mais candidatos e aí o Benfica dirá quem vai apoiar. Já duas pessoas me vieram dizer que estavam disponíveis para se se candidatar", partilhou o dirigente dos ‘encarnados'.

Vieira quis ainda esclarecer que o Benfica nunca defendeu a mudança da sede do organismo para a Lisboa, considerando até supérfluo o gasto com a delegação da LPFP na capital.

"Nem entendo, sequer, porque existe uma delegação da LPFP em Lisboa. Nem a Federação [Portuguesa de Futebol] tem delegação no Porto, é um custo desnecessário. A LPFP deve ficar no Porto e no edifício onde está, até por homenagem às pessoas que a fizeram, nomeadamente, o major Valentim Loureiro", esclareceu Luís Filipe Vieira.

O presidente do Benfica teceu estas considerações no final Assembleia-Geral da LPFP que validou a possibilidade de serem feitas cinco substituições na I Liga e também a promoção de Nacional e Farense ao principal escalão.

Na reunião foi também decidido criar de um grupo de trabalho para avaliar a implementação de um novo modelo de governação para a LPFP, que caso seja aprovado vai implicar a realização de eleições para organismo.

A atual direção da LPFP conta com representantes de FC Porto, Sporting, Tondela, Gil Vicente, Mafra e Leixões, depois da saída de Benfica e Cova da Piedade.