O passado dia 14 de setembro marcou 15 anos desde a estreia de Ânderson Luis da Silva com a camisola do SL Benfica. Aos 23 anos, Luisão chegava a Portugal e ao clube da Luz vindo do Cruzeiro de Belo Horizonte, equipa ao serviço da qual venceu duas Copas do Brasil (2000 e 2003, tendo marcado na 2.ª mão da final desta última) e um Brasileirão (em 2003, competição que abandonou antes do seu término precisamente para viajar para Lisboa).
Essa equipa do Cruzeiro, de resto, era composta por vários jogadores bem conhecidos do público português. Treinados por Vanderlei Luxemburgo, na Raposa que venceu Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Brasileirão nesse ano jogavam nomes como Artur Moraes (que reencontraria Luisão no SL Benfica, anos mais tarde), Gladstone e Mota (que passaram pelo Sporting CP), Alex (histórico fantasista do Fenerbahce), Cris (uma espécie de “Luisão do Lyon”, clube onde passou 8 épocas), Gomes (atual guarda-redes do Watford), Maicon (defesa direito que passou por Inter de Milão, Manchester City e Roma) ou Felipe Melo (médio internacional brasileiro que já passou por Juventus, Galatasaray e Inter de Milão).
Não se pode por isso dizer que o defesa-central saísse do Brasil sem saber o que era ganhar. Sem saber o que era jogar com jogadores que viriam a ser referências nas suas equipas, na Europa. Já internacional brasileiro, Luisão chega à Luz pela mão de Camacho, sendo lançado no tal dia 14 de setembro, frente ao Belenenses. Nesse jogo, de resto, apontou um golo, numa partida que o SL Benfica estava a vencer por 3-1 até aos 90 minutos, altura em que, com dois golos sofridos de rajada, se deixou empatar.
Provavelmente, e apesar do golo, esta não seria a estreia mais desejada para o homem que se viria a tornar no 2.º jogador a vestir mais vezes a camisola benfiquista. 538 vezes, para ser mais preciso, só superado por Nené e à frente de nomes como Veloso, Coluna, Humberto Coelho e Manuel Bento. Ao longo destes 15 anos, Luisão superou desconfianças iniciais para se tornar um símbolo do clube da Luz. Para termos uma ideia clara: nos Top-20 de jogadores que mais vezes vestiram a camisola do SL Benfica existem dois estrangeiros: Luisão, no 2.º lugar, e Maxi Pereira, em 20.º (com 333 jogos, menos 200 que o central brasileiro).
Mas a importância do “Girafa” no SL Benfica vai para além do número de jogos de águia ao peito. Na verdade, a história de Luisão na Luz mistura-se com a história de... Luís Filipe Vieira, presidente do clube praticamente desde a mesma altura que o brasileiro chegou a Lisboa (Vieira venceu as eleições em novembro de 2003, dois meses depois do defesa-central se ter estreado).
Muitas vezes apontado como um dos principais responsáveis pela recuperação do SL Benfica, Luís Filipe Vieira teve em Luisão o seu par ao longo destes últimos anos no que respeita à conquista de títulos e, se quisermos, à extensão de uma liderança que começa no presidente, continua no treinador e culmina no capitão que, num clube com a história do da Luz, tem quase forçosamente de ter estatuto de símbolo, na linha de outros nomes como os acima mencionados.
O que mais impressionou em Luisão, contudo, foi a regularidade. São 15 anos ao mais alto nível, a fazer sempre mais de 30 jogos por época, com exceção da época de estreia, de uma temporada 2015/2016 em que foi arreliado por uma lesão e do ano passado, em que ainda assim participou em 24 partidas e apontou um golo. Golos, de resto, é algo com que o capitão das águias foi habituando os adeptos do clube da Luz. São 47 os golos que apontou, com a particularidade de ter marcado em todas as temporadas em que vestiu o “manto sagrado” benfiquista.
Ora, se somarmos a regularidade à referida capacidade de liderança, é impossível não caracterizar Luisão como um dos esteios dos seis campeonatos conquistados pelo SL Benfica ao longo desta década e meia, aos quais se juntam três Taças de Portugal, sete Taças da Liga, quatro Supertaças e ainda a participação em duas finais da Liga Europa.
De entre estes títulos, talvez o principal destaque vá para o primeiro campeonato de todos, conquistado em 2004/2005. Tinham passado 10 anos desde o último campeonato conquistado pelo SL Benfica e a equipa então comandada por Giovanni Trapattoni recebeu o Sporting CP (curiosamente treinado por... José Peseiro) no Estádio da Luz. Leões e águias chegavam à penúltima empatados na frente, com vantagem para a equipa de Alvalade, pelo que o jogo da Luz tinha caráter decisivo. E teve. Aos 83 minutos de uma partida que perdura na memória de benfiquistas e sportinguistas (por razões diferentes), um livre de Petit colocou a bola na cabeça de Luisão, que a empurrou para o fundo da baliza, ao mesmo tempo que “empurrava” o SL Benfica para um título que viria a ser confirmado uma semana depois, no Estádio do Bessa.
Ao todo, o “Girafa” conquistou 20 títulos com a camisola do SL Benfica, sendo a pedra basilar da defesa benfiquista ao longo dos últimos 15 anos e fazendo dupla com nomes tão distintos como Ricardo Rocha, David Luiz, Lindelof, Ruben Dias e, talvez numa das mais memoráveis parelha de centrais das águias dos últimos anos, Garay. É inegável a sua influência na formação de todos estes jogadores, da mesma forma que é inegável a extensão dentro de campo que representou para treinadores como Camacho, Ronald Koeman, Jorge Jesus ou Rui Vitória. A sua capacidade de liderar a defesa benfiquista ao longo da última década e meia tornaram-no respeitado dentro e fora do clube da Luz.
No momento em que pisar o relvado da Luz para se despedir do futebol, o menino-gigante que com 23 anos se estreou no Restelo de águia ao peito, é agora, aos 37 anos, uma das principais referências da história de um clube centenário. Luisão ganhou o seu lugar no Olimpo do SL Benfica e do futebol. Deixará saudades.
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