Guardiola tornou-se, com a vitória sobre o Manchester United, no quarto treinador da história a ganhar os seus primeiros quatro jogos da Premier League, juntando-se, assim, a José Mourinho, Guus Hiddink e Carlo Ancelotti. No total, Pep leva seis vitórias em seis jogos oficiais.

Tal como escrevi na semana passada, também Pep terá pensado que Rashford e Martial seriam sérias opções ao onze titular de Mourinho e, por isso mesmo, optou por ser pragmático e não utilizar um esquema tático que exigisse a ’inversão’ dos defesas-laterais para posições centrais quando o City estivesse na posse da bola. Assim, reconhecendo o perigo das alas do United – que, na verdade, acabou por ser não existir –, Guardiola foi conservador e “permitiu” à sua equipa um jogo mais simples. Desta forma, o City apresentou-se paciente com bola, a utilizar as rotações do seu triângulo “interior” para penetrar na faixa central e a recorrer ao triângulo “exterior” (com o suporte de Kolarov e Sagna) para desequilibrar nas alas. Uma tática simples, que resultou na perfeição e que mostrou que De Bruyne e David Silva são, claramente, os motores ofensivos dos Blues.

Um plantel recheado de estrelas

O plantel do Manchester City é, desde que o investimento árabe chegou ao clube há uns anos, consecutivamente considerado um dos melhores do mundo. Vejamos então as soluções ao dispor de Guardiola. Na baliza, o chileno Claudio Bravo vem dar o que poucos guarda-redes dão. Jogando fora da área, acrescenta “paciência” à posse de bola do City e apresenta-se como uma solução extra de passe. Os defesas‑centrais John Stones e Otamendi providenciam, respectivamente, poder aéreo e capacidade de penetração no meio campo - no início de época Otamendi levou algum tempo a convencer Guardiola mas agora é, de longe, o patrão da defesa. Nas alas, Pep tem tudo menos problemas: Sagna, Zabaleta, Kolarov e Clichy dão experiência, competência a cruzar, velocidade, capacidade de jogar pelo corredor central, enfim, um leque de opções invejável que permite a Guardiola escolher consoante a tática que queira utilizar.

No meio-campo, Fernandinho mostra ser um exemplo claro da capacidade de adaptação do catalão às qualidades dos seus jogadores. Tendo capacidade técnica para virar jogo e fazer passes de rutura, terá menos capacidade de quebrar linhas em drible. Daí que Guardiola, em jogos de total domínio, lhe peça para recuar para o meio dos centrais, deixando para jogadores mais capazes tecnicamente as posições no meio campo que necessitam de mais rotação e penetração com a bola no pé – a “inversão” dos laterais “entra” aqui. Num jogo contra uma equipa mais forte, como é o United, Fernandinho já pode ocupar essa posição, visto haver mais espaço e também uma maior ameaça nas alas para os defesas do City. O brasileiro teve, então, a responsabilidade de “varrer” toda a zona central à frente da defesa dos Blues e fê-lo com nota dez.

De Fernandinho para a frente, não há muito que enganar. O onze-base completa-se com Nolito e Sterling bem abertos nas alas e um triângulo “interior” composto por David Silva, Kevin De Bruyne e, em condições normais, Sergio Aguero. Recorrendo a uma constante rotação, quem conseguir receber um passe no interior desse triângulo tem capacidade técnica para, a partir desse momento, começar a criar perigo com penetrações e combinações.

Uma última nota para o banco de luxo dos Blues: Ilkay Gundogan, Jesús Navas, Vincent Kompany, Fabian Delph, Yaya Touré, Leroy Sané e Iheanacho são algumas das soluções a que o catalão pode recorrer, todos eles jogadores com capacidade de serem titulares na maior parte dos clubes do mundo.

Os três vectores de Guardiola na adaptação à Premier League

Pep adaptou-se rapidamente ao campeonato inglês, recorrendo a três vectores fundamentais que foram bem visíveis no derby de Manchester. Em primeiro lugar, paciência e risco a sair a jogar, mas só até certo ponto. De facto, quando pressionada, a equipa do City não tem problemas em aliviar a pressão recorrendo a passes longos. As características dos jogadores e o pouco tempo de trabalho podem estar na causa dessa solução, muito pouco “guardioliana”. Contra o United, por mais de dez vezes – e apenas na primeira parte! – o City colocou a bola na frente através de passes longos. Ainda assim, o interessante é perceber que o fez, mas com a lição bem estudada. Na maioria das vezes os Blues foram mesmo capazes de ganhar as chamadas “segundas bolas” e reter a posse de bola já no meio campo dos Red Devils.

Depois, a adoção de mexidas táticas como, no caso do último jogo, a entrada de Fernando para a saída do homem mais avançado, Iheanacho. O que poderá parecer apenas uma substituição é, a meu ver, uma demonstração de humildade. Pep percebeu que, em Inglaterra, nem sempre poderá estar em controlo do jogo. Assim, com o United a bombear constantemente a bola para a frente, Guardiola refletiu, mudou de estratégia e resignou-se a apostar maioritariamente no contra-ataque. O mais impressionante é o fato da substituição ter acontecido apenas sete minutos após o início da segunda parte, o que demonstra que a perceção e reação aos acontecimentos do jogo foi muito, muito rápida.

Por fim, o respeito por jogadores fisicamente fortíssimos. Martial, Rashford, Valencia, Sadio Mané, Alex Oxlade-Chamberlain, Michail Antonio, Sturridge ou Willian são atletas de clubes adversários que “obrigam” Guardiola a ajustar a sua forma de jogar, provando que veio para se adaptar à Premier League, mais do que para impor o seu estilo num campeonato com características muito próprias.

A única grande questão que falta colocar é: como estará este City com mais dois meses de trabalho? Demolidor? Quanto ao campeonato, o destaque desta semana acontece já hoje. A abrir a jornada, o Liverpool coloca um ponto final ao infernal início da competição, em que jogou com quatro potenciais candidatos aos lugares cimeiros da tabela nas cinco primeiras jornadas. O adversário é o Chelsea, de Antonio Conte.

Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Neste momento a representar a academia do Luton Town, deseja fazer aquilo que nenhum outro treinador português fez: ir do 4º escalão das Ligas Inglesas até ao estrelato da Premier League. Até lá, podemos sempre ir lendo as suas crónicas.