Vinte e sete dias depois do arranque do Qatar2022, o Campeonato do Mundo de futebol chega ao fim. Hoje é o dia da tão esperada final (15h00). Argentina-França encontram-se na batalha final de nações.

Os Direitos Humanos, a morte dos números incontáveis de trabalhadores durante a construção de estádios e infraestruturas, o respeito à diferença e os direitos das mulheres, foram temas que ficaram à entrada da competição, a primeira do género no mundo árabe. No fim, polémicas à parte, o Mundial da Vergonha deu lugar ao melhor mundial “de sempre”, nas palavras de Gianni Infantino, cidadão italiano com residência no Qatar, detentor da pasta da presidência da FIFA.

Messi e Mbappé, os dois “10”. O melhor do planeta e o que pode vir a ser melhor do mundo

Hoje, de um lado estará Lionel Messi, nº 10 da Argentina, liliputiano em tamanho, mas patagão de talento. Oriundo de um bairro da cidade de Rosário, partiu cedo para Barcelona à procura de crescer no mundo do futebol, juntamente com o seu pai, que também é seu empresário.

Do outro, Kylian Mbappé, filho de mãe argelina e pai camaronês, treinador de futebol e empresário do filho. Nascido numa comuna próxima de Paris, exemplo claro da composição da seleção francesa composta por europeus oriundos do Benin, Argélia, Congo, Camarões, Guiné-Bissau, Mauritânia, Costa do Marfim, Mali e Marrocos.

Frente a frente, no Estádio Nacional Lusail, em Lusail, nos arredores de Doha, uma obra de arte assinada em conjunto pelos ateliers Manica Architecture e Foster + Partners, as duas estrelas mundiais carregam as respetivas bandeiras nacionais às costas.

Messi, capitão da seleção Alviceleste, o melhor jogador do planeta, sete Bolas de Ouro, o melhor de todos os tempos (a par de Cristiano Ronaldo), e Mbappé, 23 anos, vestido com o azul-escuro dos Les Bleus, eleito Golden Boy uma única vez, o tal que pode vir a ser o melhor jogador do mundo e teve em CR7 um dos heróis de infância.

O peso do Deus Maradona e os números de Ronaldo ultrapassados

Leo ainda tem a marca do mais jovem argentino a jogar e marcar num Mundial (2006). Fê-lo, saído do banco, na estreia, frente à Sérvia e Montenegro. Soma 25 golos, mais do que qualquer outro jogador. Carregou a Argentina em cinco mundiais, o antepenúltimo dos quais, até à final. No Brasil2014 ficou, no entanto, a assistir à glória alemã. Ele e Di Maria, o outro sobrevivente desse Campeonato do Mundo.

Quatro anos depois, na Rússia, Kylian Mbappé tornou-se o mais jovem jogador, a seguir a Pelé, a marcar no jogo de atribuição do título mundial (4-2, diante a Croácia).

créditos: EPA/ABEDIN TAHERKENAREH

Aos 23 anos, o atacante transporta uma medalha de campeão do mundo, procura repetir a graça e a história ao ajudar a França a transformar-se na terceira seleção bicampeã mundial de forma consecutiva.

Messi, 35 anos, casado com a amiga de infância, mãe dos dois filhos, depois da final perdida em 2014, vencedor de Copa América 2021, na única das cinco finais que venceu pelo seu país, persegue o fantasma de Diego Maradona, o Deus que inspirou a Argentina à glória no México em 86, então no auge da carreira, 10 anos mais jovem.

Com nove golos em Mundiais, cinco dos quais feitos no mundial das Arábias, Mbappé ultrapassou Ronaldo, o herói que escolheu enquanto dava os primeiros pontapés na bola. Messi, por sua vez, chegou ao Qatar com seis tentos e já acrescentou cinco.

Messi vai ultrapassar o alemão Lothar Matthäus e passar a ser o jogador da história com mais jogos em Mundiais. Mbappé irá cumprir o 14.º jogo.

créditos: Kirill KUDRYAVTSEV / AFP

O homem que ficará sempre feliz. Quer ganhe a França, quer ganhe a Argentina

Esta será a sexta final da Argentina (1930, 1978, 1986, 1990, 2014, 2022), duas vezes campeã mundial, a última das quais em 1986, oito anos depois do primeiro título, em 1978, ganho em casa, em Buenos Aires, no Mundial da legitimação da ditadura militar do general Jorge Rafael Videla. A França soma os mesmos troféus, mas tem menos duas finais disputadas (1998, 2006, 2018 e 2022).

O polaco Szymon Marciniak será o árbitro da final do Mundial2022. Depois de ter falhado o europeu, por problemas de coração, não conteve a emoção ao ser-lhe entregue o último jogo de Messi ao serviço da Argentina, seleção que ficou no Mundial do Qatar (perdeu com a Arábia Saudita na partida de abertura) a um jogo do recorde de invencibilidade dos 37 jogos da Itália, entre 2018 e 2021.

Do lado argentino, o “En Argentina nací”, um hit inspirado na música "Muchachos, esta noche me emborracho" da banda La Mosca Tsé-Tsé, já ganhou a taça da música mais viral. De França, da pátria do “Allons enfants de la Patrie”, ecoa-se “Allez les Bleus” por enquanto, na expectativa de se criar um outro rap em honra de Mbappé, tal como aconteceu na conquista do campeonato do mundo da Rússia2018.

Espectador atento à final, na pele de júri, Nasser al-Khelaifi, chairman do Qatar Sports Investments, chairman da Associação de Clubes Europeus e presidente do Paris Saint-Germain, será o único no estádio a ter razões para celebrar, não importa o desfecho final. Pela simples razão que na final estão dois dos seus “meninos”. E um deles será coroado campeão do mundo.