No dia 13 de Junho de 1989, Kareem Abdul-Jabbar fez o seu icónico “skyhook” pela última vez. Estávamos em Los Angeles, no jogo 4 das Finais de 89, os Los Angeles Lakers estavam com uma desvantagem de 0-3 nessa série final frente aos Detroit Pistons e a maioria dos fãs presentes nesse dia no Fórum não estava lá por acreditar numa reviravolta, mas sim para se despedir do seu velho Capitão.
Kareem tinha anunciado, no início da temporada, que essa época seria a sua última. E, salvo algum milagre (Magic Johnson e Byron Scott estavam lesionados e de fora das Finais e Kareem já não era um jovem capaz de carregar uma equipa às costas), este era o último jogo da sua carreira. Como se confirmou. Os Pistons venceram a partida e o seu primeiro título, e Kareem despediu-se da NBA frente ao seu público.
O lendário poste dos Bucks e dos Lakers era um caso inédito de longevidade. Se descontarmos o caso de Nat Hickey (que, em 1948, aos 45 anos e quando treinava a equipa dos Providence Steamrollers, participou num jogo da temporada regular), Abdul-Jabbar retirou-se como o jogador mais velho de sempre. E o jogador com mais temporadas jogadas.
Eram dois feitos que pareciam sobre-humanos. Na altura, a carreira de um jogador durava em média uma dezena de temporadas. Uma dúzia, se tudo corresse bem. 15, em casos muito excecionais. Antes de Kareem, o recorde de temporadas jogadas era 16, uma marca conseguida por um quarteto de jogadores: Dolph Schayes, John Havlicek, Paul Silas e Elvin Hayes. E havia registo de apenas um jogador que tinha jogado até aos 40 anos: Bob Cousy.
Depois de Kareem e antes de 2000, os quarentões contavam-se pelos dedos das mãos: Robert Parish, Herb Williams, Charles Jones, John Long, Rick Mahorn, James Edwards e Danny Schayes. Depois de 2000? Precisamos das duas mãos e dos dois pés: Michael Jordan, Dikembe Mutombo, John Stockton, Karl Malone, Grant Hill, Kurt Thomas, Danny Schayes, Cliff Robinson, Charles Oakley, Juwan Howard, Jason Kidd, Steve Nash, Andre Miller, Tim Duncan, Vince Carter, Manu Ginobili e Jason Terry.
Ao todo, na história da NBA, 27 jogadores ultrapassaram a barreira dos 40 anos. Dezoito fizeram-no depois de 2000. Avanços nos métodos de treino, na medicina desportiva, na fisioterapia e na reabilitação e na nutrição ajudam a explicar o fenómeno. Bem como a cada vez maior preocupação dos jogadores com a sua saúde.
Robert Parish, que jogou até aos 43 anos e venceu um título pelos Bulls em 1997, é o detentor do recorde de “campeão mais velho de sempre”. O segredo para a sua longevidade: alimentar-se bem, dormir muito e cumprir religiosamente a rotina diária. Basicamente, cuidar muito bem da sua ferramenta de trabalho, o seu corpo. Algo de que os jogadores estão cada vez mais conscientes.
Começam cada vez mais cedo a preocupar-se com isso e começam desde cedo a tomar medidas para prolongar a carreira. Se antes, começavam a preocupar-se com isso apenas quando começavam a sentir nas pernas os efeitos da passagem do tempo, agora cada vez mais jogadores desenham os seus planos de treino e o seu quotidiano a pensar nisso.
Há muitos anos que LeBron James não descura o seu rigoroso regime de treino e está a jogar o melhor basquetebol da sua carreira aos 33 anos. E não mostra sinais de abrandar nos tempos mais próximos. Kyrie Irving é o exemplo mais recente de um jogador que adoptou uma dieta vegan. Marc Gasol deixou de consumir açúcar, refrigerantes e alimentos processados há um par de anos e a diferença foi dramática:
E se, apesar do aumento desses casos, jogar até aos 40 ainda é um feito para poucos, há cada vez mais jogadores a jogar para lá dos 35 anos. Este ano há 21 jogadores na liga com 35 anos ou mais. E a maioria deles ainda a contribuir dentro de campo e de forma significativa para as suas equipas. Não são apenas veteranos sentados no fundo do banco e importantes apenas pela liderança no balneário, são jogadores também importantes pela sua produção. Manu Ginobili, Dwyane Wade, Vince Carter, Dirk Nowitzki, Tony Parker, Jamal Crawford, Pau Gasol, David West, Joe Johnson, Zach Randolph ou Kyle Korver são alguns desses trintões que ainda estão aí para as curvas.
Os 40 anos já não são uma meta inalcançável e no futuro deveremos ter cada vez mais casos de jogadores que conseguem atingir e ultrapassar essa marca. Ótimo para nós, que podemos ver os nossos jogadores favoritos durante mais tempo. Porque esta liga é para cada mais vez mais velhos. Qual será o primeiro a bater o recorde de Robert Parish?
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