Scot Pollard. Este nome, provavelmente, não dirá nada a quem acompanha de forma ocasional a liga norte-americana de basquetebol (e mesmo a muitos fãs mais atentos não dirá grande coisa), mas veio à baila esta semana, a propósito da reunião dos Celtics de 2008 que Rajon Rondo está a organizar. A notícia era o facto de Ray Allen, uma das estrelas dessa equipa, não ter sido convidado para essa reunião, mas o que roubou as atenções foi este tweet de Scot Pollard:
Sim, aparentemente, Rondo não se lembrou que Pollard fazia parte dessa equipa e esqueceu-se de o convidar. E ele só soube da reunião pelas notícias. Auch.
Para os fãs, houve três reações possíveis a este tweet, dependendo do número de horas de sono perdidas a ver jogos e de há quantos anos se é praticante dessa privação de sono: “O Scot Pollard estava nessa equipa? Já nem me lembrava!” ou “O Scot Pollard? Isso é aquele tipo que tinha uns penteados malucos, não é?” ou então, a mais provável, “Quem é o Scot Pollard?!”
Pollard (agora nunca mais se vão esquecer do nome dele) é o mais recente jogador de fundo do banco a ganhar fama por outra coisa que não o seu talento, mas não é o único. Tal como ele, vários outros jogadores na história da NBA são mais recordados por algum facto exterior ao jogo do que por aquilo que faziam dentro de campo.
Pois em homenagem aos Scot Pollards desta liga (prometemos que é a última vez que dizemos Pollard), recordamos aqui algumas das maiores figuras desse panteão dos desconhecidos mais ilustres/infames/queridos de sempre. Uma espécie de Hall of Fame de jogadores que nunca serão recordados pela sua produção dentro de campo, mas que fazem parte do imaginário da NBA. Estes são alguns dos maiores jogadores de que nunca ouviram falar pelos feitos basquetebolísticos.
Chuck Nevitt, o Human Victory Cigar
Chuck Nevitt tinha tanto de altura (2,26m) como de falta de talento. Em nove temporadas na liga, jogou um total de 826 minutos (para uma média de carreira de 5 minutos por jogo) e ganhou a alcunha de Charuto da Vitória Humano, porque quando ele entrava em campo era sinal de que o jogo estava resolvido.
Era, à época em que jogava, o jogador mais alto de sempre e ainda é, até hoje, o jogador mais alto a ser campeão (com os Lakers, em 85).
Kermit Washington
Ficar na história da liga por quase matar outro jogador não é o melhor cartão de visita, mas foi o cartão que, após esse incidente, seguiu Washington ao longo de toda a carreira.
O infame momento aconteceu no dia 9 de Dezembro de 1977, quando, no meio de uma luta num jogo entre os Lakers e os Rockets, Washington atingiu Rudy Tomjanovich com um murro que lhe provocou fraturas no nariz, maxilar e crânio e um derrame de fluido cerebrospinal.
Washington era até um extremo-poste bastante decente (com médias de carreira de 9.2 pontos e 8.3 ressaltos) e chegou mesmo a ser All Star em 1980, mas será para sempre recordado por este momento:
Matt Steigenga
Este é o cúmulo, o epítome daquilo que é um jogador desconhecido que fica na história.
Steigenga era um extremo que tinha sido selecionado pelos Chicago Bulls na 52.ª posição do draft de 92, mas que nunca tinha jogado na NBA e tinha feito a sua carreira no estrangeiro (Espanha e Japão) e em ligas americanas secundárias.
Em 1996, pouco antes do final da temporada regular, ligou ao general manager dos Chicago Bulls, Jerry Krause, para lhe pedir bilhetes para um jogo. A braços com várias lesões no plantel e a precisar de corpos para preencher o banco, Krause ofereceu-lhe um lugar na equipa. Steigenga fez dois jogos na temporada regular e não voltou a ser utilizado.
Resumo da sua temporada: 2 jogos, 12 minutos, 3 pontos. E um anel de campeão. Tentem bater isto.
Jack Haley
Bem, na verdade, há outro ex-Bull que pode tentar. Haley era um veterano da NBA que era amigo de Dennis Rodman e tinha jogado com ele nos San Antonio Spurs na época de 94-95.
Os Bulls contrataram-no em 1995 (dizem as más-línguas que apenas o contrataram para ser o babysitter de Rodman), passou a temporada na lista de lesionados, mas acabou com um título de campeão no currículo e foi membro da melhor equipa de sempre.
Independente do tempo de jogo, os seus antigos colegas dos Bulls não esqueceram Haley aquando a notícia do seu súbito desaparecimento, em 2015.
Gheorghe Muresan
O romeno de 2,31m é o jogador mais alto de sempre a jogar na NBA (Manute Bol foi medido para o Livro dos Recordes do Guiness e listado com 2,305m, por isso, oficialmente, Muresan ganha-lhe por meio centímetro).
Deste até ficaram boas recordações daquilo que fazia dentro de campo (fez seis temporadas decentes na liga e foi o Jogador Mais Evoluído da época 95-96 — que acabou com médias de 14.5 pontos, 9.6 ressaltos e 2.3 desarmes de lançamento), mas a carreira foi encurtada devido a problemas recorrentes nas costas e será para sempre recordado por duas coisas: a sua altura e a sua participação no filme “O Meu Gigante”, ao lado de Billy Cristal.
Brian Scalabrine, o White Mamba
Este é, provavelmente, o jogador de fundo do banco mais conhecido de todos. Scalabrine é aquele tipo que nos faz acreditar que não é preciso ser um espécime físico sobre-humano para jogar na NBA. Se ele, com o seu físico de jogador de fim-de-semana, conseguiu, todos podem conseguir.
Os seus feitos desportivos são inexistentes, mas todos os colegas o recordam como um dos melhores companheiros de equipa que tiveram, um trabalhador árduo, um tipo divertido no balneário e o melhor cheerleader e abanador de toalhas de sempre. E jogadores desses fazem falta a qualquer equipa.
A prova disso é que, ao contrário de Scot Pollard (afinal ainda repetimos o nome dele mais uma vez), foi convidado para a reunião dos Celtics de 2008. Sim, Scalabrine fazia parte dessa equipa e é mais um deste lote que tem um anel de campeão sem ter jogado um minuto nos playoffs.
Shawn Bradley
O esguio poste dos Sixers, Nets e Mavericks será recordado pela sua altura (do alto dos seus 2,29m é outro dos jogadores mais altos de sempre) e pelos afundanços… que levou na cara. Se Dominique Wilkins era conhecido, pela espetacularidade dos seus afundanços, como o Human Highlight Film, Bradley é um Human Highlight Reel. Mas dos outros jogadores:
Nenhum destes nomes será imortalizado no Hall of Fame do Basquetebol em Springfield, mas neste Hall of Fame têm lugar cativo. E a história da NBA não seria a mesma sem eles.
Márcio Martins já foi jogador, oficial de mesa, treinador e dirigente. Atualmente, é comentador e autor do blogue SeteVinteCinco. Não sabe o que irá fazer a seguir, mas sabe que será fã de basquetebol para sempre.
Comentários