Terminámos o artigo anterior com uma citação, portanto, porque não começar este com outra? O aclamado publicitário inglês John Hegarty escreveu um dia, para uma campanha duma conhecida marca de calças de ganga, que “quando o mundo fizer zig, faz zag”. Não sabemos se Dell Demps, o general manager dos New Orleans Pelicans, alguma vez viu esse anúncio, mas foi exatamente isso que ele fez.

Nesta era dourada dos bases e do “small ball”, em que nunca tantas equipas procuraram tanto o jogo exterior e em que o foco é colocado na abertura de espaço no meio do campo para os jogadores exteriores (bases e extremos móveis e rápidos) terem espaço para penetrar para o cesto, os New Orleans Pelicans escolhem a direção oposta e juntam na mesma equipa dois dos melhores “grandes” da liga. Tem tudo para correr mal? Ou talvez não?

Esta não é a primeira vez na história da NBA que uma equipa joga com “duas torres”. Os Houston Rockets foram os primeiros a fazê-lo, nos anos 80. Akeem Olajuwon (na altura, ainda sem “H”) e Ralph Sampson foram as Torres Gémeas originais.

O nigeriano de 2,13m e o americano de 2,24m foram selecionados na primeira posição no draft em anos consecutivos (83 e 84) e formaram uma dupla até então nunca antes vista.

Eram dois postes com altura, capacidade atlética e técnica individual ímpares. Sampson era um gigante capaz de jogar afastado e de frente para o cesto, driblar e lançar (na época, algo inédito para um jogador com a sua altura) e Olajuwon era ágil como poucos postes antes ou depois dele (o seu treinador universitário deu-lhe a alcunha “The Dream” pela graciosidade com que ele afundava).

Provavelmente, nunca tivemos dois “seven footers” (jogadores com 2,13m ou mais) deste calibre na mesma equipa e eram uma dupla que prometia dominar a NBA durante muitos anos.

Infelizmente, lesões recorrentes nos joelhos de Sampson (que forçaram a retirada precoce do jogador) hipotecaram essa possibilidade. O balanço final da experiência das Torres Gémeas ficou-se por uma ida às Finais (em 86, onde perderam 4-2 com os Celtics) e pela distinção, para os Rockets, de terem sido a única equipa a conseguir vencer os Lakers na conferência Oeste durante aquela década.

Mais tarde, no final dos anos 90, os San Antonio Spurs fizeram a alcunha regressar aos ouvidos dos fãs com a dupla Tim Duncan/David Robinson.

Robinson era já uma força no interior e os Spurs eram já uma das boas equipas do Oeste quando, em 96, o Almirante se lesionou e ficou fora dos campos quase toda a temporada de 96-97. Mas foi um mal que veio por bem. Como consequência da sua ausência prolongada, os Spurs acabaram a época com o terceiro pior registo da liga (20-62) e ganharam a primeira escolha no draft desse ano. Que usaram para escolher Duncan e formar uma dupla interior que os colocou instantaneamente no topo da liga.

Esta segunda versão das Torres Gémeas teve um tempo de vida mais longo do que a original e terminou com a retirada de Robinson em 2003. Balanço final? Dois títulos (em 99 e 2003) e meia dúzia de anos numa luta renhida com os Lakers de Shaquille O’Neal e Kobe Bryant pela supremacia no Oeste.

E agora, é a vez dos Pelicans tentarem a fórmula. Mas fazem-no numa época que nunca pareceu tão pouco propícia a Torres Gémeas. Por isso, à primeira vista, poderia parecer um modelo condenado ao insucesso. Só que esta não é uma versão igual às anteriores. Esta é uma versão moderna das Torres Gémeas. DeMarcus Cousins e Anthony Davis são dois jogadores dominadores no interior, mas também capazes de jogar no exterior. São móveis, capazes de jogar de frente para o cesto, bons lançadores e capazes de meter a bola no chão e driblar para o cesto.

É claro que ainda há mais dúvidas do que certezas em relação a esta equipa e têm muito trabalho pela frente (Cousins termina contrato na próxima época e terão de o convencer a renovar, precisam de reforçar o resto da equipa e o temperamento de Cousins é sempre uma incógnita).

Teremos, por isso, de esperar para ver se esta terceira encarnação das Torres Gémeas tem menos, igual ou mais sucesso do que as anteriores. Mas tem tudo para poder dar certo. Afinal, muitas vezes a melhor estratégia é fazer diferente de todos os outros. Ou, quando todos fazem zig, fazer zag.

Márcio Martins já foi jogador, oficial de mesa, treinador e dirigente. Atualmente, é comentador e autor do blogue SeteVinteCinco. Não sabe o que irá fazer a seguir, mas sabe que será fã de basquetebol para sempre.

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