Quem acompanha o emblema ‘verde rubro’ já ouviu falar de José Milagres, o massagista de 95 anos que acompanha os escalões jovens do clube madeirense há mais de 40 anos.
‘Txitxo’, como é chamado, é conhecido por ter sempre doces para oferecer aos jovens atletas, mas também a todos quantos se cruzam consigo.
Foi a caminho de um jogo de futsal, no complexo desportivo maritimista, que José Milagres foi explicando como surgiu a alcunha ‘Txitxo’, entre as várias paragens para cumprimentar atletas, ex-atletas e adeptos, que faziam questão de sublinhar a “grande figura do clube.
“Sinceramente já não me recordo de quando começou o ‘Txitxo’, na altura que o Marítimo fazia casa no 1.º de Maio já era assim. Chamo ‘Txitxo’ aos jogadores e eles a mim. Até parece que sempre foi assim”, explicou José Milagres, adiantando que assim se tornou mais fácil em vez de decorar todos os nomes.
As guloseimas são outra tradição, mas também um incentivo para os mais novos.
“Gosto de andar sempre com doces para dar aos miúdos e eles já estão à espera. Já o faço há muitos anos mesmo. Primeiro, deixo o treinador falar e, depois, peço autorização. Aviso-os que vão receber o prémio antes do jogo e distribuo sempre três doces, um de cada, a todos os jogadores”, conta.
Aos pais já explicou várias vezes que é por causa destas crianças que com a idade que tem ainda se apresenta bem, garantindo que os jovens lhe trazem felicidade e lhe dão vida.
Nascido em 09, de outubro de 1928, desempenhou a profissão de maquinista, na Empresa de Eletricidade da Madeira, durante 36 anos. As mazelas, sobretudo na visão e na audição, levaram-no à reforma antecipada para, posteriormente, chegar ao emblema do Almirante Reis, como massagista, no qual permanece há mais de 40 anos.
Sócio ‘verde rubro’ desde 1994, mas adepto já muito antes, José Milagres viu o emblema insular crescer, tendo acompanhado a construção do estádio, inaugurado em 05 de maio de 1957, mas, apenas cedido ao Marítimo pelo Governo Regional em 13 de setembro de 2007, mas também a mais recente renovação, em 2016, e, agora, com o complexo desportivo.
“Foi muito gratificante ver esta evolução. São lembranças que vou guardar até ao fim dos meus dias”, garantiu o massagista de profissão, adiantando que já trabalhou para quatro presidentes, “seis anos com o António Henriques, com o Rui Fontes duas vezes, 24 anos com o Carlos Pereira e, agora, com o Carlos André Gomes”.
O sócio de mérito, distinção que recebeu em 2018, já viu passa várias gerações por si, lembrando a alegria que sente ao ver ex-atletas que chegam aos treinos para deixar os filhos e os netos.
“Já vi passar muitas gerações por aqui. Fico tão feliz por ver jogadores que passaram aqui pelo clube chegarem com os seus filhos e até netos. Todos me cumprimentam e fazem-me uma festa. Enche-me o coração poder acompanhar parte da vida deles”, enaltece.
Atualmente trabalha apenas aos fins de semana, ou quando é mesmo preciso durante a semana, mas adianta que ainda permanece no ativo com 95 anos, porque se sente bem no “ambiente, no desporto, que sempre foi uma parte muito importante na vida”.
Levado a contar o momento mais marcante, adianta que surgiu no meio das lágrimas, primeiro de felicidade, depois de tristeza.
Em 11 de junho último, festejou, como já muitas vezes o fez, a conquista do título em sub-14, mas no final do encontro rodeado de jogadores entre festejos começou a chorar.
“Nunca tinha acontecido, já presenciei centenas de conquistas, mas nunca me tinham levado às lágrimas”, recorda.
Menos feliz foi o que se seguiu: “No mesmo dia fui ver o plantel principal disputar o jogo do play-off da I Liga, frente ao Estrela da Amadora, e voltei a chorar, mas desta vez de tristeza, porque o Marítimo tinha descido de divisão, 38 anos depois”.
“Este dia vai marcar-me até ao dia que morrer”, admite, ambicionando, celebrar, “nem que seja com lágrimas”, o regresso dos madeirenses à I Liga.
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