Em França, Itália, e Inglaterra já é comum as mulheres serem juízes em jogos da primeira divisão, mas como assistentes, nunca como donas do apito. Espanha, país que acolhe outra das principais ligas europeias, parece ter mais dificuldade em assimilar a ideia de uma mulher a integrar umas das três equipas presentes em campo no futebol masculino. Mas, a partir da próxima época, o campeonato alemão, a Bundesliga, vai dar o pontapé de saída: Bibiana Steinhaus, que até aqui apitava na segunda divisão da Alemanha, vai tornar-se a primeira mulher árbitra nas cinco grandes ligas europeias.
A Alemanha, onde o futebol feminino recebe grande investimento, torna-se assim o primeiro país a deixar de lado o preconceito de género, integrando Steinhaus, uma funcionária da polícia de Hannover de 38 anos, no quadro de 24 árbitros que poderão apitar jogos da Bundesliga na próxima temporada.
"Sempre foi meu sonho. É o reconhecimento pelo duro trabalho que me trouxe até aqui e uma grande motivação para continuar o meu trabalho", afirmou a árbitra.
"É claro que tenho consciência de que por ser a primeira mulher a apitar na Bundesliga serei observada de perto pelos media e pelo público. Mas estou habituada a essa pressão e tenho certeza de que vou rapidamente encontrar meu lugar", garantiu Steinhaus, que apitou 80 jogos da segunda divisão desde 2007 e atuou como quarta árbitra em diversos jogos da primeira divisão.
Descrita como discreta, Bibiana Steinhaus já foi alvo da curiosidade dos media antes, devido ao seu namoro com o famoso árbitro inglês Howard Webb e, em seguida, devido a dois incidentes que na época agitaram a imprensa alemã.
O dia em que acalmou Pep Guardiola
O primeiro aconteceu em 2014, quando Pep Guardiola a agarrou nos ombros durante um jogo entre o Borussia Monchengladbach e o Bayern de Munique, irritado pelo pouco tempo de acréscimo dado pelo árbitro do jogo. No papel de quarta árbitra, Steinhaus calmamente afastou os braços do técnico espanhol, evitando assim que os ânimos se exacerbassem.
A imprensa condenou a atitude "inapropriada" do técnico e elogiou a calma da árbitra.
Na temporada seguinte, num jogo da segunda divisão, ela voltou a ser notícia após expulsar Kerem Demirbay, que jogava na época no Fortuna Düsseldorf. O alemão de origem turca acabou por ser punido com cinco jogos de suspensão por ter afirmado ao sair de campo que as mulheres não deveriam estar no futebol.
O próprio clube do jogador - hoje no Hoffenheim, da primeira divisão- condenou a sua atitude e obrigou-o a apitar uma partida de futebol feminino.
Árbitra da Federação Alemã desde 1999 e árbitra Fifa desde 2005, Bibiana Steinhaus foi responsável na carreira pelos maiores eventos do futebol feminino. Esteve em campo nas finais do Campeonato do Mundo da Alemanha-2011 e dos Jogos Olímpicos de Londres-2012.
Steinhau está também escalada para a final da Liga dos Campeões feminina, a 1 de junho em Cardiff, entre Lyon e Paris Saint-Germain.
"O meu estilo de arbitragem baseia-se na comunicação intensiva", explicou. "Quando tomamos decisões firmes suficientemente rápido, isso dá uma boa linha de conduta a todos as partes envolvidas".
A "empatia com os interlocutores" e "a conversa de igual para igual" também são fundamentais, segundo a árbitra.
Ela garante, porém, que sua maneira de apitar um jogo não é fundamentalmente diferente da que fazem os homens: "Todos nós procuramos apitar de maneira homogénea em relação à interpretação das regras, todos temos que preencher as mesmas condições básicas".
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