Jurgen Klopp está, desde janeiro, a construir ao detalhe a solidez defensiva que este Liverpool tanto necessitava. Depois de reinventar a máquina atacante dos Reds e tornar a equipa de Liverpool numa das equipas mais temidas da Europa - recorde-se os 135 golos marcados em todas as competições na época transata -, chegou a vez de optimizar os resultados e exibições com uma defesa à altura do ataque.
O primeiro passo do alemão foi acreditar na matéria prima que tinha à sua disposição. Após lesões de Alberto Moreno e Nathaniel Clyne, Klopp não teve problemas em entregar uma das posições laterais da defesa a um jovem promissor contratado ao Charlton em 2015, de seu nome Joe Gomez. Contudo, as posições para as quais o jovem foi chamado não lhe assentavam na perfeição já que, desde cedo se percebeu, o eixo central favorecia mais as qualidades do atleta. Mas já lá vamos.
A reconstrução alemã
Com remendos à direita e à esquerda, era notório que o Liverpool, se queria ter outro tipo de aspirações, teria que ter soluções mais sólidas do que James Milner adaptado a defesa-esquerdo. Assim sendo, o primeiro passo de Klopp foi, mais uma vez confiar num jovem, neste caso da própria academia. Trent John Alexander-Arnold, acabado de fazer 18 anos, estreava-se na mais competitiva liga de futebol. Sessenta e oito minutos no dia 15 de Outubro de 2016 que, sabemos hoje, viriam a tornar Alexander-Arnold no futuro ala direita do Liverpool.
Se na direita o solução estava em casa, para a ala esquerda foi necessária a contratação de um escocês. Andrew Robertson de seu nome. Até então pouco conhecido, veio do Hull City para solucionar mais uma posição. Em dezembro de 2017, aproveitando uma lesão de Alberto Moreno, entrou no onze do alemão. Robertson não demorou muito a provar que merecia a confiança do técnico e em Janeiro de 2018, numa fantástica exibição que ajudou à vitória sobre o Manchester City, por 4-3, ganhou o lugar em definitivo. Com dois problemas solucionados, não faltaria muito para resolver o terceiro, aliás, estaria por dias.
Precisamente treze dias depois da vitória sobre os Citizens, o Liverpool apresentava o holandês Virgil van Dijk, de longe o melhor central da liga de há dois anos a esta parte. O eixo central começava a ganhar forma e solidez. Virgil van Dijk viria a comprovar toda a sua qualidade e é hoje o líder do quarteto defensivo dos Reds.
Com a entrada de três novos jogadores, a linha defensiva ficava completa com Dejan Lovren, o defesa central croata que ajudou a sua selecção à final do Campeonato do Mundo ainda este verão. Mas seria no início desta temporada, devido a uma lesão abdominal do croata, que Klopp teria que recorrer a Joe Gomez para aquela que é a sua posição de eleição, defesa central.
Se os infortúnios de Alberto Moreno e Nathaniel Clyne já tinham resultado em ‘males menores’, com as suas alternativas a provarem ser ainda mais fiáveis e consistentes, é muito provável que agora a história se repita.
O percurso e perfil de Joe Gomez
Ao ver Joe Gomez atuar, muitos referem o talento do jovem promissor inglês. Só que a palavra "talento"muitas vezes não é suficiente para explicar a qualidade de um jogador. Ainda que muitos de nós não tenham conhecimento do percurso de formação do atleta, além do facto da mesma ter sido feita no Charlton, uma coisa nós sabemos, a formação do jogador foi feita nos últimos dez anos e como tal ‘apanhou’ grande parte da revolução na formação inglesa (da qual já falámos aqui e aqui.
Joe Gomez tem uma propensão física e psicológica que o beneficiam na prática da sua atividade. Depois de assinar pelo Liverpool, em Junho de 2015, o central inglês já passou por duas lesões complicadas, uma das quais, no joelho direito, que o obrigou a parar durante aproximadamente um ano. Provando que cada acontecimento é um desafio, Gomez tem ultrapassado todas as dificuldades e agora que chegou o momento de mostrar toda a capacidade física e técnica acumulada ao longo dos anos, parece estar a conseguir faze-lo.
Ao lado do mais experiente Virgil van Dijk, Gomez tem demonstrado uma capacidade de passe acima da média. Capaz de colocar na perfeição a bola à disposição dos médios e avançados, não só o consegue fazer no ‘homem’, como consegue faze-lo, com grande precisão, também no ‘espaço’. Já por diversas vezes o demonstrou nestes primeiros quatro jogos da liga.
Não só a passar Joe Gomez tem mostrado ser muito acima da média, com a bola nos pés e sobre pressão o jovem não parece ser peixe fora de água. Grande parte da manutenção da posse de bola, um dos pontos fortes fortes de van Dijk, tem passado pela combinação e excelente entendimento entre ambos. E os resultados estão à vista: um Liverpool mais capaz de aguentar a pressão adversária e com mais capacidade de organização de jogo, não tendo que recorrer sempre ao contra-ataque ou ataque rápido, conseguindo assim oferecer menos oportunidades aos adversários de terem a bola e poderem, também eles, criar perigo.
Se a disponibilidade técnica tem impressionado, a física não se fica atrás. Com uma capacidade de recuperação impressionante, o número 12 dos Reds parece ser o pesadelo, mesmo dos mais rápidos avançados da liga, mostrando por diversas vezes que não dá um único lance como perdido e, mesmo que os seus colegas de defesa sejam ultrapassados, este está lá para dar o corpo às balas. Demarai Gray que o diga, como exemplificado na fotografia colocada no Twitter pelo jovem central.
Tem ainda que evoluir, principalmente na marcação ao homem em ataque continuado pela equipa adversária, mas terá o apoio de jogadores experientes e de um treinador que parece, cada vez mais, no caminho certo após um começo que, apesar de positivo, colocou a certa altura algumas dúvidas sobre se seria ele o homem capaz de tornar o histórico Liverpool novamente num candidato ao título.
Joe Gomez é um jogador muito completo que vem dar ao Liverpool precisamente aquilo que faltava - calma e capacidade técnica -, e que juntamente com van Dijk, o promissor Alexander-Arnold e Robertson fazem dos Reds uma equipa candidata a todas as competições em que participa. E poderão tornar-se, caso cheguem ao título devido à sua nova consistência defensiva, no segundo quarteto mais famoso de Liverpool.
Disputadas quatro jornadas o Liverpool tem apenas um golo sofrido. Um golo que foi praticamente oferecido pelo guarda-redes Alisson que, apesar da grande qualidade que tem, tem também propensão a arriscar quando joga com os pés. Tendo este percalço acontecido cedo na época e não afetando o resultado do jogo, poderá ter sido outro raio de sorte para o treinador alemão, já que será agora mais fácil para o novo guardião dos Reds aprender a sua lição.
E será desta forma, com a aposta de clubes em ‘prata da casa’ que, com tempo, a selecção inglesa irá encontrar o seu ponto de equilíbrio, com jogadores que farão a diferença e poderão manter o nível de sucesso alcançado no Mundial da Rússia. Joe Gomez cresceu nos escalões de formação da selecção inglesa e é já uma das apostas da selecção principal, com 3 jogos no currículo.
Esta semana no futebol inglês
A selecção dos três leões receberá duas equipas em jornada dupla de jogos amigáveis. Primeiro a Espanha, Sábado dia 8, em Wembley e, três dias mais tarde, Terça-feira dia 11, a Suíça no estádio do Leicester City.
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