Na passada sexta-feira, dia 16 de outubro, foi dado a conhecer por diversos meios de comunicação que Paul Pogba não estaria satisfeito com o seu novo papel no Manchester United. O médio francês está, alegadamente, frustrado por não gostar da função que Ole Gunnar Solskjær encontrou para si na equipa — uma posição mais recuada no meio campo. Como onde há fumo há fogo, apenas um dia depois de a notícia ter saído, Paul Pogba começa o jogo a partir do banco de suplentes, de onde só iria sair ao minuto 69’ para o lugar de Fred, que jogara precisamente na posição antes ocupada pelo médio francês.
Não faltou muito para que os rumores do despedimento de Solskjær se avultassem, ainda mais. Mauricio Pochettino, ainda livre após saída do Tottenham, tem sido dado sempre como o seu natural sucessor.
O que Paul Pogba tem dificuldades em perceber
Pogba não está contente com uma posição mais recuada no terreno e prefere jogar com mais liberdade. Por outras palavras: o médio prefere a posição ocupada neste momento por Bruno Fernandes. O que Pogba parece não perceber é o porquê de não poder fazer esse papel — e, muito sinceramente, tem dificuldades em fazer também aquele que Solskjær lhe atribuiu.
Todo o treinador tem onze opções para fazer. Todas elas (incluindo nalguns casos o guarda-redes) ou encaixam a tática e estratégia que este quer para o jogo ou o técnico adapta essa mesma tática ou estratégia a pensar nos jogadores. Infelizmente para Paul Pogba, o futebol de hoje em dia não se coaduna com, utilizando as palavras do jogador, "um papel com mais liberdade". Isto porque o problema em causa não é propriamente a liberdade ofensiva, uma vez que essa sempre existiu e continuará a existir. O problema é reconhecer que a liberdade de que Pogba tanto necessita para o seu jogo, coloca em ainda mais em causa a sua, quase inexistente, disciplina defensiva.
Sendo Pogba um jogador que muitas das vezes defende a passo, Solskjær — e bem! — colocou o francês numa posição que criasse o mínimo desgaste para a equipa e para o próprio. Atribuir ao médio uma posição mais restrita/defensiva é a única opção possível para a sanidade futebolística da equipa pois é a única, das duas, onde Pogba vê minimizados danos que pode causar à equipa caso não participe do processo defensivo. Assim:
Médio Defensivo - Jogando na sua atual posição, na altura de defender o médio está, à partida, numa zona mais central, e não tão avançado no terreno. Isto leva a que seja "obrigado" a defender uma vez que estará, maioritariamente, de frente para a bola. É a posição mais confortável (para Pogba) exercer o papel defensivo.
Médio Criativo - Ver o francês numa posição como a de Bruno Fernandes, que a cada ataque acaba numa posição diferente no terreno, requer que o jogador em causa tenha uma intensidade de pressão e recuperação muito acima da média. As equipas grandes atuais pressionam com onze jogadores e estes têm que ser disciplinados e ter uma enorme capacidade de trabalho. Paul Pogba, sempre que apanhado numa posição menos vantajosa, seria um jogador a menos a defender. E no futebol moderno não nenhuma equipa resistiria.
O triplo problema de Old Trafford
Paul Pogba não é o único problema de Solskjær. É o mais caro, mas não é o único. Além disso, faz parte de um problema que tem vindo a piorar e que, muito provavelmente, será responsável pela saída de Solskjær do Manchester United. Falo da dinâmica Paul Pogba, Victor Lindelöf e Harry Maguire.
O triângulo composto por Harry Maguire, Victor Lindelöf e Paul Pogba tornar-se-á, a meu ver, no factor mais importante na evolução, ou não, neste United em reconstrução. Os próximos anos prová-lo-ão.
O problema divide-se em qualidade e capacidade/oportunidade de restruturação.
Qualitativamente não vejo evolução em nenhum dos três jogadores. Lindelöf com 26 anos e Pogba e Maguire com 27, todos eles estão no auge das suas carreiras. Ambos os centrais têm problemas de posicionamento frequentes, tecnicamente apresentam muitas dificuldades para jogadores de classe mundial e a capacidade defensiva no um para um, seja de costas ou de frente para a própria baliza, é continuamente escrutinada — e raramente pelas melhores razões.
Se a qualidade não corresponde ao desejado, porque não renovar? Porque não vender com a mesma assertividade que se compra? Devido às astronómicas quantias gastas em jogadores que se praticam hoje em dia, sem que os mesmos sejam de classe mundial, ou se adaptem à filosofia do clube comprador. Tal leva os clubes a um beco sem saída.
Beco sem saída
Despender fortunas em jogadores leva a que estes ganhem um estatuto que muitas vezes não lhes pertence e que acaba por ser demasiado pesado para o que estes conseguem carregar. É nitidamente o caso dos três jogadores a quem hoje damos destaque. A culpa não é dos mesmos, mas sim das políticas de aquisição do United. Se concordo com o reconstruir a partir de um treinador que não chama a si a pressão de títulos, uma vez que nunca os ganhou, já não posso concordar nem perceber as ideias por detrás da restruturação do plantel.
Restruturar não se compadece com enormes lacunas no onze base da equipa, principalmente quando essas lacunas são ocupadas por jogadores contratados com o propósito de as colmatar.
De um mau resultado — derrota caseira por 6-1 frente aos Spurs — passámos a queixas do jogador, monetariamente falando, mais influente da equipa e à especulação, mais uma vez, sobre o despedimento de Solskjær e consequente contratação de Mauricio Pochettino. Deve ser cansativo para os adeptos do United tanta instabilidade sempre que as coisas correm menos bem. Ou se está num período de restruturação ou não se restrutura de todo.
Qual a solução?
Essa é a mais fácil e deveria ter sido acionada na última janela de transferências. Mas como decisões de venda ditas radicais — para mim a compra de Maguire e Pogba por as respectivas quantias parecem-me actos muito mais radicais do que as suas vendas por valores consideravelmente mais baixos — raramente acontecem em futebol, o United continua, muito devagar, à procura da melhor fórmula.
Façamos um pequeno exercício de imaginação, onde o United levava a sério a palavra restruturação, renovava o espírito e se optava por encontrar jogadores que fossem de encontro à imagem real do mesmo, uma equipa aguerrida, veloz e atacante.
Todos os jogadores apresentados são jogadores referenciados há anos e que poderiam, realisticamente, ter sido comprados pelo Manchester United em qualquer uma das últimas quatro janelas de transferência. À exceção de Nathan Aké, estão ainda todos disponíveis. E, curiosamente, um dos titulares defesas centrais a atuar frente ao PSG, é uma promessa da academia do United. Axel Tuanzebe poderia muito facilmente fazer o papel de Nathan Aké, agora no Manchester City, adaptando-se à posição mais à esquerda dos centrais. Se assim fosse o valor de 10M€ (negativos) apresentado no parágrafo seguinte passaria a um extraordinário saldo positivo de (35M€).
Gastando apenas 10M€, os Reds apresentar-se-iam com mais agressividade defensiva, melhor posicionamento, mais jovens e energéticos, e com tremendo poder de fogo de meia distância. Tudo isto aliado a uma capacidade de pressão mais alta e maior velocidade na transição defensiva por parte dos seus centrais, o que significaria uma adaptação a um estilo de jogo de pressão e contra-ataque/ataques rápidos que vão de encontro ao ADN da equipa.
Consequentemente, teria de lidar com mais volume de ataques rápidos do adversário e não tanto com um volume de ataque continuado, o que levaria a que o jogo do adversário fosse cada vez mais de encontro aos atributos atléticos da equipa, beneficiando o United comparativamente com o ter que defender de forma contínua e organizada como o faz, muitas vezes, nos dias de hoje.
Esta semana na Premier League
Na semana passada chamámos à atenção para uma jornada perfeita, onde o equilíbrio entre equipas era por demais evidente para ser ignorado. O resultado foi uma jornada com seis empates, três jogos a terminar 1-0 e um jogo apenas com diferença superior a um golo entre as duas equipas. Algo extraordinário na Premier League.
Esta semana não se espera o mesmo. Os resultados e golos irão muito provavelmente voltar ao normal, o que em linguagem de Premier League significa golos e surpresas. O grande destaque irá precisamente para o Manchester United que após bater um recorde do clube, ao vencer o seu décimo jogo consecutivo fora de casa, recebe o Chelsea em Old Trafford, onde o último resultado não foi tão positivo como os nos jogos fora de portas.
Comentários