Se as equipas de Pep Guardiola impõem a sua forma de jogar, neste caso o cenário muda de figura. Não porque o Liverpool não consiga impôr a sua superioridade se quiser, mas porque a forma que mais gosta de explorar os seus pontos fortes é deixando o jogo correr a um ritmo elevado, utilizando a velocidade dos seus jogadores da frente para contra-atacar ou atacar de forma rápida e direta. Tendo Jürgen Klopp estabelecido a forma predileta do Liverpool desenvolver o seu jogo, não quer com isso dizer que os Reds não possam dominar o jogo a seu belo prazer através de posse de bola e ataque continuado, sufocando o adversário até este ceder.
Do ponto de vista de José Mourinho
Por muito que José Mourinho tenha dito esta semana que o Liverpool é a melhor equipa do mundo da atualidade, estará nas mãos do treinador português a forma como este jogo será jogado.
O que preferirá, Mourinho? Jogar com mais controlo da bola, estando sujeito aos contra-ataques letais dos Reds, ou com mais controlo defensivo, com um bloco médio/baixo, permitindo assim, ao próprio Tottenham sair com mais regularidade para o contra-ataque. A resposta parece depender muito da atualidade clínica dos Spurs. Estivesse Harry Kane disponível para o embate frente ao primeiro classificado, o novo e renovado José Mourinho iria, provavelmente, preferir ter a chance de dominar mais a bola, de conseguir mais cruzamentos junto à linha, de ter acesso a maiores probabilidades de livres diretos e indiretos, abdicando assim de um jogo com menos picos de velocidade ofensivos que poderiam não favorecer na totalidade o seu homem alvo.
Mas a verdade é que o seu máximo goleador e capitão de equipa não está disponível e, com ele poderá ficar toda a estratégia que este jogo poderia requerer por parte da equipa do norte de Londres. Assim sendo o Tottenham de Mourinho terá que dar a iniciativa de jogo ao Liverpool. Em teoria, essa é a estratégia que mais beneficiaria os Spurs.
Bater este Liverpool poderá, neste momento, ser missão impossível seja qual for a tática ou estratégia a adoptar. Em futebol tudo pode acontecer, mas se analisarmos os factos de forma racional, a equipa de Klopp desenvolveu uma confiança tal que neste momento se encontra em ‘piloto automático’. Muito pouco tem falhado nesta formação e a resolução de problemas parece resumir-se a um simples acelerar de intensidade e de todos os sistemas da equipa.
Sinais de preocupação
Um ponto a favor do Liverpool, ou neste caso, contra o Tottenham, é o facto de José Mourinho, depois de um período em que teve um grande impacto psicológico na equipa, ter nos último três jogos utilizado três sistemas táticos diferentes. Depois do inicial 4x2x3x1, as últimas três partidas foram encaradas em 3x4x3, 3x5x2 e até, a espaços, em 4x3x2x1 respetivamente. Todos eles a contar para a Premier League. Apesar de algumas lesões, de o plantel não ter jogadores propriamente idênticos, capazes de jogar nas mesmas posições ou de forma semelhante, este pode ser um sinal de que José Mourinho está à procura de algo. Algo que não está à vista e que poderá, inclusivamente, não existir.
A verdade é que o Tottenham, como equipa grande que é tem que ter uma identidade e tem que impor essa mesma identidade aos seus opositores, como fazem as equipas que dominam o futebol atual. Muitas das vezes estas mudanças táticas poderão servir para explorar fraquezas nos adversários ou anular alguns dos seus pontos fortes. A somar a essa, chamemos-lhe, falta de confiança, podemos encontrar nos últimos tempos alguma falta de vontade, de fome de vencer, lembrando-nos os tempos de Pochettino. O período/efeito de lua de mel, devido à chegada de um novo treinador, parece ter chegado ao fim e chegou a hora de a filosofia/métodos do treinador português entrarem em ação. Este poderá ser um teste demasiadamente difícil para tal, mas poderá também ele ser, um trampolim para uma nova era.
Um jogo a ser tomado como exemplo
O porquê de se poder agora dizer que este Liverpool é, em teoria, impossível de bater, vem desde há algum tempo, mas principalmente desde o jogo frente ao Leicester. A aura, a confiança e a certeza de que este era apenas mais um jogo foram óbvias desde o apito inicial. Defrontando o Leicester City - segundo classificado e detentor de um futebol entre os melhores da liga esta temporada - longe de Anfield, o Liverpool não pareceu minimamente ‘inseguro’. Não sentindo a necessidade de entrar a todo o gás, tentando acabar com o jogo de imediato, demonstrando, ao contrário de outros jogos, uma enorme confiança em si, independentemente do tempo de jogo continuar a correr, sem que o jogo parecesse decidido. O que aconteceu com 0-0 no marcador, mas também com 0-1 a seu favor, que permaneceu no marcador por 40 minutos de jogo.
A forma como os Reds deixaram o Leicester tomar as rédeas do jogo na primeira parte, a forma como controlaram o início do encontro ‘com os olhos na bola’, a forma como recuou o habitual bloco alto, jogando com um bloco médio - abdicando quase de três jogadores -, uma vez que a capacidade das Raposas de Brendan Rodgers de sair a jogar é tremenda, e sem serem pressionados, os jogadores do Leicester conseguem criar espaço suficiente no seu meio-campo para contornar a linha frontal de qualquer equipa que não pressione alto e que ao mesmo tempo não recue os homens da frente, precisamente o que fez o Liverpool. A forma como mesmo assim os pupilos de Klopp controlaram a seu belo prazer o segundo tempo e como foram capazes de encostar a equipa de Brendan Rodgers às cordas, criando oportunidades em ataque continuado com extrema facilidade, diz muito sobre o atual primeiro classificado da Premier League.
Ainda assim, este é o jogo que mais poderá servir de exemplo e mais poderá ajudar o Tottenham a preparar o encontro de sábado, quer pela sua proximidade temporal, mas também pela forma como os Spurs poderiam, eventualmente, querer tomar as rédeas do jogo. Mesmo que essa possibilidade seja a mais remota, das duas possíveis, uma vez estabelecido acima que, devido à indisponibilidade de Kane, o Tottenham deverá recuar. Haverão momentos do jogo em que os londrinos terão que tentar ainda assim vir para a frente e dominar, principalmente caso se encontre a perder e, aí, o Liverpool estará nas suas sete quintas.
Resumindo, esta será uma missão quase impossível e do lado oposto ao líder do campeonato estará um treinador que nestas circunstâncias se supera a si e motiva os seus jogadores de tal forma que estes acabam por dar tudo o que têm e muitas vezes render mais do que o habitual. Portanto: mais um encontro de sonho na melhor liga de futebol do mundo.
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