No âmbito da campanha "Num oceano ocupado por plásticos nem os humanos têm lugar", promovida pelo canal televisivo Discovery, o canoísta Fernando Pimenta, medalhado olímpico, fez uma publicação a dizer que "já não existem mais condições" para praticar a modalidade.

O surfista Vasco Ribeiro mostra-se preparado para "o novo desafio", de agente imobiliário, a bodyboarder Joana Schenker, no papel de contabilista, lamenta ter deixado de haver condições para fazer aquilo de que mais gosta e Miguel Lacerda, desportista de mergulho, munido de equipamento de soldador, manifesta as saudades "de quando era possível mergulhar nas mais baixas temperaturas".

Não sendo uma mensagem verdadeira, "não é uma brincadeira", considera Fernando Pimenta, porque o assunto é sério e é um problema com o qual muito se identifica, não andasse o canoísta todos os dias em cursos de água, de onde assiste, na primeira fila, ao resultado da "falta de civismo".

O impacto dos plásticos no mar, com animais a ficarem presos e a ingerirem os detritos, ou a exposição da vida marinha a produtos químicos, com que os humanos também têm contacto, através da cadeia alimentar, relativizam os constrangimentos com que o atleta do Benfica se depara.

"Acontece apanhar sacas de plástico no leme, ou pedaços de plástico que vêm a boiar e apanho esse lixo no caiaque. Tenho de parar, remar para trás, para remover esse lixo e poder voltar ao treino", descreve à agência Lusa o campeão do mundo em K1 1.000 e 5.000 metros.

Quando acontece, é uma situação que afeta a preparação.

"Prejudica o treino. Se estiver a simular uma série como se fosse ao ritmo de competição, isso, para nós, é mau, interfere", explica Fernando Pimenta, 30 anos, habituado a ver pelos cursos de água onde passa garrafas, embalagens de plástico, maços de tabaco, pneus e "todo o tipo de lixo".

Por vezes, mesmo nos rios onde mais treina, inclusive o Lima, na sua terra natal, além deste tipo de poluição nota também vestígios de descargas, quer através do mau cheiro, quer do aspeto gorduroso das águas. "Felizmente", ainda não viu nenhuma máscara, um dos objetos que começa a ir também parar aos oceanos.

"Parece-me evidente preservarmos o que é nosso. Não é preciso ir à escola aprender isso. É uma coisa básica, um dever cívico", vinca o canoísta, para logo lembrar a sensação agradável de quando rema e a transparência da água permite ver o fundo do rio.

Fernando Pimenta recicla, reutiliza e foi essa mensagem que pensou transmitir a um numeroso grupo de jovens que, perto do seu local de treino, em Sevilha, bebia cerveja ao pôr-do-sol e no final atirava as garrafas ao rio. Acabou por não os abordar, como não fez com as inúmeras famílias, na Cidade do México, que, no final do piquenique, viu atirarem os objetos descartáveis à água.

A normalidade com que o faziam deixou o atleta olímpico "muito chocado". Até porque, afiança, no meio desportivo em que se move as pessoas são ambientalmente responsáveis.

Não levantou a voz em outras ocasiões e encontrou nesta campanha uma forma de o fazer.

A mensagem de que ia mudar de vida não convenceu a maioria que o segue nas redes sociais. "Pelas reações, muitos perceberam que devia estar relacionado com alguma campanha", conta o canoísta, medalha de prata na prova de K2 1.000 em Londres2012, ao lado de Emanuel Silva.

Com este envolvimento pretende pedir que "todos tomemos conta do nosso planeta" e espera que os comportamentos mudem a um ritmo mais rápido que o que imprime na pagaia.

"Se calhar, algumas pessoas só se vão aperceber quando forem comprar um peixe para comer e lhes sair lá de dentro um pedaço de plástico", vaticina Fernando Pimenta.

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