O dia 27 de fevereiro ficará marcado para sempre como um dia negro para o futebol nacional com a eliminação, na mesma jornada europeia, das quatro equipas portuguesas a disputar os 16-avos da Liga Europa. O Sporting de Braga caiu aos pés do Glasgow Rangers, o FC Porto não conseguiu dar a volta à derrota na Alemanha diante do Bayer Leverkusen, o Sporting CP desperdiçou a vantagem de dois golos que trazia de Alvalade, diante do Başakşehir, e o SL Benfica falhou em conseguir a reviravolta contra o Shakhtar Donetsk.
Há 32 anos que não acontecia tal coisa. Na época de 1988/89, os protagonistas eram os mesmos, com a diferença que o Belenenses de John Mortimore fazia as vezes do Braga de Amorim. Do outro lado, daqueles que deram um pontapé no orgulho português, o leque também era bastante diferenciado.
Os dragões, que com Artur Jorge tinham ganho dois anos antes, em 1986/87, a Taça dos Campeões Europeus, caíram aos pés do campeão em título, os holandeses do PSV.
Os homens do Restelo, depois de dois empates a zero, fracassaram no desempate a grandes penalidades frente ao Velez Mostar, da Bósnia e Herzegovina.
As águias, comandadas então por Toni e com Chalana no onze foram incapazes de virar uma derrota por 2-1, na primeira mão, em casa dos belgas do FC Liègeois.
Já o Sporting também se sem forças para operar uma reviravolta na eliminatória diante da Real Sociedad. Os leões, então comandados pelo uruguaio Pedro Rocha, numa equipa que contava com Oceano e Damas, perderam por 1-2 no antigo estádio de Alvalade e, no País Basco, não conseguiram fazer melhor.
O acontecimento desta quinta-feira é histórico e longe de ser pelos melhores motivos. Os números da jornada, olhados agora com distância, após o final da eliminatória pareçam ainda mais dolorosos. Em oito jogos apenas dois não foram derrotas (vitória do Sporting em casa e empate caseiro do Benfica). 19 golos marcados e 12 golos sofridos.
Mas há mais. Para além desta ser a primeira vez em mais de 30 anos que quatro equipas portuguesas caem de uma só vez numa jornada europeia, é também a primeira vez que em mais de quatro décadas que os oitavos-de-final das taças europeias vão decorrer sem nenhuma equipa portuguesa.
É uma interrupção de um ciclo que ia em 40 anos, iniciado em 1979/80, e, curiosamente, numa edição de uma competição em que Portugal era o país mais representado.
A época de 1978/79 tinha sido a última sem formações nacionais nos ‘oitavos’, numa temporada em que competiram as mesmas quatro equipas que estiveram nos 16 avos de final da segunda competição da UEFA em 2019/20.
Então, o FC Porto foi eliminado pelo AEK Atenas na primeira ronda da Taça dos Campeões Europeus (1-6 fora e 4-1 em casa) e o Sporting caiu na mesma fase da Taça dos Vencedores de Taças perante o Banik Ostrava (dois desaires por 1-0).
Na Taça UEFA, Benfica e Sporting de Braga passaram a primeira ronda, mas caíram na segunda, correspondente aos 16 avos de final, os ‘encarnados’ face ao Borussia Mönchengladbach (0-0 em casa e 0-2 fora, após prolongamento) e os ‘arsenalistas’ frente ao West Bromwich (0-2 em casa e 0-1 em Londres).
Depois dessa temporada, e até 2018/19, Portugal conseguiu colocar sempre pelo menos uma equipa no ‘top 16’, entre Taça e Liga dos Campeões, Liga Europa, Taça UEFA e Taça das Taças, com um recorde de quatro em 1987/88 e 1993/94.
Na última vez, o FC Porto chegou às meias-finais da Liga dos Campeões e o Benfica à mesma fase da Taça das Taças, o Boavista atingiu os quartos de final da Taça UEFA e, na mesma competição, o Sporting caiu na terceira eliminatória.
Os piores registos, com apenas um representante luso nos últimos 16, datavam de 1980/81, 1984/85, 1988/89, 1997/98 a 2000/01, 2005/06 e 2014/15.
Há vida para além de Benfica, Sporting, Porto e Braga
Resta agora a Portugal acompanhar a vida de outros portugueses lá fora. Embora a vida não aparente estar fácil para José Mourinho, treinador do Tottenham que, em casa, perdeu por 0-1 diante dos alemães do RB Leipzig, Cristiano Ronaldo, que perdeu fora, com a Juventus, 1-0, frente ao Lyon, e Gonçalo Guedes que viu o seu Valência ser goleado pela Atalanta (4-1), todos nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, a vida vai sorrindo na liga milionária a João Félix (Atlético de Madrid), Anthony Lopes (Lyon), Rapahel Guerreiro (Borussia Dortmund) e Bernardo Silva e João Cancelo (Manchester City). E na Liga Europa a Pedro Martins (Olympiacos), Nuno Espírito Santo (Wolves) e Luís Castro (Shakhtar Donetsk). Todos eles nomes que são motivos de sobra para continuar a acompanhar as competições europeias.
Por alguma sorte, Portugal poderá ficar descansado em relação ao seu ranking da UEFA uma vez que a Rússia (7.ª) já não tem equipas em competição e que a Bélgica (8.ª) e a Holanda (9.ª) viram Club Brugge, Ajax e Az Alkmaar a serem também eliminados nesta jornada europeia. No entanto, apanhar a França e entrar no top cinco das melhores ligas europeias tornou-se uma miragem.
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