Fernando Santos convocou os possíveis novos estreantes Dyego Sousa, Diogo Jota, José Sá (não é a primeira vez que está nos trabalhos da Seleção Nacional, mas falhou a estreia anteriormente) e João Félix. No entanto, a grande novidade está no regresso de Cristiano Ronaldo às Quinas, depois de não ter sido chamado durante as janelas internacionais de setembro, outubro e novembro do ano passado.

O que fará Fernando Santos perante a reintrodução de Cristiano Rolando na estratégia de jogo, uma vez que Portugal apresentou um estilo de jogo intenso, ritmado e interessante nos encontros anteriores? E a chamada de Dyego Sousa era mesmo necessária? Qual é o objetivo de ter mais um avançado de área entre os convocados?

Várias questões, dúvidas e problemas que propomos analisar para perceber melhor o que se vai passar entre os dias 22 e 25 de Março no Estádio da Luz.

Ronaldo é capitão e líder, e isso mais ninguém consegue trazer

A ausência de Cristiano Ronaldo dos trabalhos e dos jogos da Seleção Nacional no final do ano de 2018 e no início de 2019 fez soar os alarmes dos adeptos, ansiosos pelo regresso de um verdadeiro “marciano” e líder da Armada Portuguesa.

No entanto, os 34 anos de idade do madeirense são um posto, e nem sempre fácil de conciliar. O deteriorar das capacidades físicas, inerentes à idade, é natural e tenderá a acentuar-se com o passar do tempo.

A grande questão passará, sem dúvida, pela introdução de novas caras num processo de renovação da Seleção Nacional que peca apenas por tardio. O falhanço do Mundial de 2018 (sim, ninguém se desengane e pense que a eliminação ante o Uruguai nos oitavos-de-final é algo de natural para o Campeão Europeu) fez perceber que não só alguns jogadores se encontravam em fim de ciclo (casos de Bruno Alves, Cédric, Adrien e Quaresma, por exemplo), como urgia uma renovação com “sangue” jovem que trouxesse mais ambição e irreverência a uma Seleção que se tornara previsível.

As entradas de Rúben Dias, João Cancelo, Nélson Semedo, Rúben Neves, Bruno Fernandes e Gonçalo Guedes (ainda que este já tenha estado presente no Mundial), bem como a ascensão de João Félix e de Diogo Jota demonstram essa vontade de trazer algo à Seleção que se perdera no Mundial da Rússia. Adicionalmente, a grande preponderância conferida a Bernardo Silva, a estrela da companhia na ausência de Ronaldo, demonstrou que Portugal tem grandes valores individuais para atacar títulos, mesmo após a inevitável reforma do melhor jogador português de todos os tempos.

créditos: EPA/MIGUEL A. LOPES

Poderá ser argumentado que o regresso de Ronaldo à Seleção, após uma campanha tão bem-sucedida na Liga das Nações sem o avançado português, poderá ser extemporâneo e até colocar em causa o processo de afirmação destas novas estrelas que necessitarão, com certeza, do seu espaço. Recentemente, Joachim Low tomou a decisão, no mínimo, controversa, de excluir Thomas Muller, Jerome Boateng e Mats Hummels das suas convocatórias, passando uma mensagem clara de renovação e de quebra com o passado. Qual a grande diferença, então, para o caso de Ronaldo? A questão prende-se com o facto de que um falhanço não pode ser justificado para excluir um dos dois melhores jogadores do mundo das convocatórias.

A qualidade de Ronaldo é irrepetível e o seu carisma e liderança são incomparáveis no Mundo do Futebol. Se por um lado se pode argumentar que este preteriu a Seleção em favor de uma melhor adaptação ao emblema de Turim, também pode ser argumentar que a Liga das Nações seria a plataforma perfeita para o lançamento de novos jogadores e efetuar experiências que possam criar uma base que sustente a Seleção nos próximos anos.

Ronaldo é o líder da Seleção Portuguesa. Já o demonstrou em inúmeras ocasiões e qualquer grupo necessita do seu líder. Numa fase de enorme dúvida acerca da identidade da Seleção nos próximos anos, da necessidade de encontrar mais um jogador que lidere as Quinas como antes de Ronaldo havia liderado Figo, a presença de Ronaldo ajudará estas novas caras a integrarem-se, compreenderem a exigência da Seleção e dar-lhes-á a oportunidade de treinarem com um exemplo reconhecido de profissionalismo. Ronaldo não traz apenas qualidade; traz profissionalismo e exigência, como tão bem os seus colegas da Vecchia Signora o explicaram. As “crianças” precisam disso e nós precisámos do capitão a comandar as hostes rumo àquele que poderá ser o seu último Europeu.

Renovação em curso, mas da melhor forma?

Como dito acima, a renovação da Seleção Nacional está em curso. O papel de Bernardo Silva é cada vez mais predominante, as entradas de jovens como Félix e Jota espelham a vontade de renovar a Seleção das quinas. Mas será esta a melhor forma?
As entradas dos jovens valores é, claro, indiscutivelmente boa. Dar minutos e experiência de Seleção às jovens promessas é o caminho. O problema é, a pouco mais de um ano do Europeu, a renovação estar a dar os primeiros passos. Sim, jogadores como Gonçalo Guedes, Bernardo Silva e até João Cancelo já estão bem integrados no grupo, mas o mesmo não acontece com todos. A integração tardia de Rúben Neves e a idade envelhecida do eixo da defesa são problemas que Fernando Santos tem um ano para resolver.

Como descrito acima, a Seleção sem Ronaldo tem que ser preparada e a chamada desta nova vaga de talento vai de encontro a isso. Jogadores como Félix e Jota são o futuro da Seleção e podem ser já o presente. Têm qualidade para fazerem a diferença já no Euro 2020 na defesa do título português. No caso da defesa, Rúben Dias é uma adição interessante à equipa, mas continuam a faltar soluções para fazer render os “experientes” Pepe e José Fonte.

A renovação que vemos hoje na convocatória é interessante, mas tem um nome que salta à vista: Dyego Sousa. É inegável a sua qualidade e a época estrondosa que o avançado do Braga está a fazer. Mas há lugar para ele no futuro da Seleção ou é uma chamada independente da renovação falada acima? Dyego Sousa tem 29 anos e nasceu no Brasil. Olhando para o passado dos jogadores naturalizados podemos ver que casos destes raramente resultam.

Pepe e Deco entraram na Seleção muito mais novos do que Dyego Sousa e com isso tiveram carreiras longas e prósperas com a Seleção das quinas. No outro extremo tivemos o caso de Liedson, que fez 15 jogos pela Seleção e marcou 4 golos, um deles importante no apuramento para o Mundial 2010. Apesar disso, chegou tarde à Seleção e contribuiu pouco.

Com o regresso de Ronaldo, a presença de André Silva e a integração de jogadores como Rafa, Félix e Jota, é necessário mais um avançado para a Seleção? A convocatória é um reconhecimento ao trabalho do avançado do Braga, mas não encaixa com o projeto que Fernando Santos parece querer desenvolver. Dar tempo de jogo a um jogador naturalizado de 29 anos quando, ao mesmo tempo, se entra num processo de renovação para o pós-Ronaldo, é paradoxal. Veremos o que Dyego Sousa consegue trazer para esta Seleção e se chega a fazer parte da equipa do próximo Europeu.