Formada em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade Nova de Lisboa, Margarida Fernandes fez o Mestrado Integrado, em 2017, e um ano depois concluiu o Internato de Formação Geral, no Hospital Garcia de Orta.

Conquistado o direito de exercer, a jovem algarvia integrou há pouco mais de um ano a equipa do Serviço de Urgência do Hospital de Beatriz Ângelo, em Loures, mas resolveu inverter as prioridades e apostar numa carreira como jogadora de padel.

“A experiência no Hospital tem sido ótima. Mas, em 2019, fiz a minha primeira pré-temporada a sério no padel e mudei o foco para jogar o circuito mundial, o World Padel Tour, a tempo inteiro e a Direção do Serviço Urgência apoiou-me neste projeto misto”, começa por contar a internacional portuguesa à agência Lusa.

Os planos, contudo, duraram pouco e, após fechar a última temporada em dezembro, Margarida Fernandes, de 28 anos, só disputou uma prova este ano, o Marbella Master, antes de se ver impossibilitada de competir, por cancelamento dos torneios e o encerramento dos clubes de padel, na sequência do novo coronavírus.

Face ao estado de emergência decretado pelo Governo português, a vice-campeã europeia por equipas, em 2017, e atleta do ‘Team FPP’, da Federação Portuguesa de Padel, reajustou prioridades e passou a cumprir cerca de 40 horas semanais no Hospital, deixando, para já, o padel em segundo plano.

“Sendo médica, o meu contributo pode ser importante nesta fase. Tem sido desafiante. Comecei a trabalhar mais horas, visto que não podemos treinar, e assim ajudo e reforço a equipa da Urgência. Achei que era a decisão mais acertada porque, apesar de ser jogadora de padel, não deixo de ser médica e isso implica outras responsabilidades”, explica.

Habituada a treinar cerca de 16 horas por semana, à tensão da competição e ao desgaste das viagens, a médica padelista atualmente depara-se com outro tipo de desafios no Hospital e, garante, “os turnos têm sido mais duros do que o normal.”

“Dentro do circuito dos doentes suspeitos de covid-19, temos de usar equipamentos de proteção individual e, claro, todos estamos desconfortáveis. Passamos muitas horas com os equipamentos, sem poder beber água, comer, ir à casa de banho ou simplesmente respirar normalmente, uma vez que temos de usar sempre a máscara”, especifica.

Além de lidar com casos confirmados e suspeitos de covid-19, a filha e neta de médicos lembra que “não deixaram de existir outras doenças, de igual ou superior gravidade”, embora reconheça que lhe “custa ver a evolução rápida que esta doença tem em algumas pessoas.”

“Apesar dos cuidados de saúde prestados, há algumas pessoas que não sobrevivem. Por outro lado, há outras que, apesar da evolução desfavorável inicial, conseguem arranjar forças para sobreviver e, isso, é muito gratificante para os profissionais”, admite.

Margarida Fernandes garante que tem “sido um grande desafio de resiliência e capacidade de adaptação de todos”, mas revela também acreditar que “depois desta pandemia vamos todos ser pessoas diferentes, nem que seja só pela vitória pessoal de sobreviver a um período muito exigente.”

Dedicada ao Serviço Nacional de Saúde, Margarida Fernandes não esconde, porém, as saudades que já sente de treinar e jogar ao lado da sua parceira Patrícia Ribeiro, com quem partilhou os ‘courts’ na última época, partilhando “rotinas, objetivos e um projeto comum”, bem como o título de vice-campeã nacional.

“Sinto falta de treinar e, sobretudo, jogar. Mas, claro, isto só pode voltar a acontecer quando a pandemia estiver controlada e não colocar ninguém em risco”, defende a antiga jogadora de ténis de alta competição, que descobriu o padel em 2015.

Enquanto não estiverem reunidas as condições de segurança, a atleta diz que vai continuar a treinar em casa, cinco vezes por semana, fazendo circuitos e sessões de resistência e agilidade, e sempre que possível utilizar o terraço do tio para exercícios com raqueta e bola.

“Nem sempre consigo render o que gostaria, devido ao cansaço, mas esforço-me por tentar manter a forma física para o regresso à competição ser o menos doloroso. Digamos que não tenho tido descanso nesta quarentena, até porque continuo a fazer a minha pós-graduação em Medicina Desportiva, que me ocupa nove horas todos os sábados”, finaliza a ‘doutora’ do padel.

Por: Sofia Ramos Silva da agência Lusa