Uma cerimónia de abertura em tempos de pandemia.
"Separados mas nunca sozinhos". A atleta (boxe) e enfermeira japonesa Arisa Tsubata correu numa passadeira no centro do palco da cerimónia para lembrar o período por que muitos atletas passaram durante o confinamento. A abertura oficial dos Jogos Olímpicos não deixou esquecer, nem que por minutos, a pandemia. Aliás, foi mesmo respeitado um momento de silêncio pelas vítimas da Covid-19.
As cores vibrantes do Rio2016 ficaram no Brasil. Tóquio optou por um lado mais soturno, silencioso e com um palco mais despido. Poucas dezenas de bailarinos dançaram — e sapatearam — ao ritmo de música japonesa e apenas o fogo-de-artifício disparado do topo do estádio olímpico iluminou as bancadas, vazias.
Vazias não ficaram as ruas. À mesma hora, fora do estádio nacional e nas principais ruas de Tóquio, várias manifestantes insurgiram-se contra a realização dos Jogos. Uma parte da população japonesa está contra o início do torneio, tendo em conta a nova vaga de casos de covid-19 no país, que motivou o quarto estado de emergência.
[Pormenor interessante: A organização de há quase 57 anos e o seu legado não foram esquecidos. Os anéis olímpicos que fecharam a primeira parte do espetáculo foram feitos de matéria-prima oriunda de árvores plantadas aquando dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964.]
O que não muda é o habitual desfile das delegações nacionais. Bom, se não se contar com a redução para mais de metade de algumas (por exemplo, apenas 17 atletas portugueses, de um total de 92 qualificados, marca presença) e a entrada por ordem alfabética... mas do alfabeto japonês.
A Grécia foi a primeira comitiva a dar entrada no Olímpico de Tóquio, como manda a tradição. Seguiu-se a equipa Olímpica de refugiados, composta por 29 atletas. Portugal foi a 168.ª comitiva de 205 nações a participar neste desfile.
[Outro pormenor interessante, se for gamer: as delegações fizeram a sua entrada no estádio ao ritmo de algumas bandas sonoras de videojogos.]
No recomeço do espetáculo, e depois do juramento olímpico, outro tom. De esperança, diversidade e união. Várias caixas foram dispostas no centro do relvado, manuseadas por dezenas de jovens voluntários. Nos céus, centenas de drones (1.824!) voam e iluminam os céus de Tóquio. Depois de uma imagem do planeta terra desenhada pelos drones, uma versão “Imagine”, de John Lennon, é cantado (num vídeo previamente gravado) por várias vozes, entre as quais a do americano John Legend.
Estão oficialmente abertos os Jogos Olímpicos de Tóquio2020, palavra do imperador Naruhito, e a pira olímpica foi acesa pelas mãos da tenista japonesa Naomi Osaka. Depois de dar uma volta nas mãos de vários antigos atletas, jovens estudantes e profissionais de saúde, foi levada por Osaka, vencedora de quatro torneios do 'Grand Slam' e favorita ao torneio, até à estrutura, em formato de flor, que representa o Monte Fuji.
Mas o país do futuro ficou-se, respeitosamente, pelo presente. Numa cerimónia para ver em casa, ao longo de quase quatro horas de emissão, mas muito aquém de um produto televisivo.
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