Atletas para manter debaixo de olho
A segunda vez dos Refugiados nos Jogos
Vai dar pela falta deles
Portugal pode bater o recorde de medalhas
Polémicas olímpicas
Curiosidades para queijinho
Quando soa o hino
Quem ganha é o ambiente
Com os olhos em Paris2024

0. É redondo o número de espectadores permitidos nas bancadas de Tóquio, Hokkaido e Fukushima. Depois de fecharem o acesso a bilhetes a residentes no Japão, o governo japonês decidiu que os Jogos Olímpicos vão decorrer sem público em todos os locais de prova (estima-se que tenham sido reembolsados cerca de 600 mil bilhetes).

São os primeiros Jogos à porta fechada, algo inédito, com a cidade que os recebe em estado de emergência devido ao aumento do número de casos de infeção por Covid-19. O número de 'positivos' na Aldeia Olímpica ascendia, nas vésperas do início cerimónia de abertura, a uma centena.

Perante este contexto, dezenas de milhares de participantes, desde atletas a oficiais e jornalistas, estão sujeitos a severas restrições devido aos riscos para a saúde. Mas o que acontece se um atleta testar positivo? Vamos por partes.

Os atletas serão testados diariamente (testes de saliva) e as suas temperaturas registadas cada vez que entram na Aldeia Olímpica.

Se um atleta testar positivo, não poderá treinar ou competir e é obrigado a cumprir isolamento num alojamento fora da Aldeia Olímpica. A duração do isolamento é determinada pelas autoridades de saúde japonesas, dependendo da gravidade dos sintomas.

Imaginemos que um atleta de uma modalidade coletiva testa positivo, toda a equipa é afastada da competição? As diretrizes são diferentes para cada modalidade, mas respeitam três princípios. Nenhum atleta ou equipa será designado como “desqualificado” após testar positivo e não vai perder o resultado mínimo que teria conseguido nas provas em que participaria. Na prática, por exemplo, um atleta que se apure para uma final disputada a dois ganhará uma medalha de prata, mesmo que outra seja atribuída, ao repescar outro competidor para a disputar. Por fim, sempre que possível, qualquer atleta ou equipa que não puder competir será substituído pelo próximo atleta ou equipa mais elegível para que a competição prossiga normalmente.

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Se um atleta tiver tido contactado com alguém infetado, isto é, se tiver estado pelo menos 15 minutos, a menos de um metro de distância e sem máscara, para continuar a competir terá de ter dois resultados negativos diários (teste PCR) num período a designar pela organização. No entanto, cada caso será avaliado individualmente.

Em Tóquio, os atletas vivem num sistema de "bolha". Em traços largos, apenas têm permissão para deixar as suas acomodações para ir aos locais oficiais dos Jogos e estão proibidos de usar o transporte público. Passear pela capital japonesa, ir a um restaurante ou manter contacto com outras delegações está fora de questão. Os atletas que violarem estas regras podem enfrentar uma série de consequências que incluem a desqualificação dos Jogos, a deportação ou até penalidades financeiras.

 

Atletas para manter debaixo de olho

"Viajámos" pelos nomes e biografias dos atletas presentes. Apontamos uns conceituados e que podem ficar eternos, outros de quem se pode vir a falar. No Japão, em Paris 2024 e por aí adiante. Seguem-se cinco duplas e alguém que poderá não ter par.

  • Skate: Rayssa Leal e Sky Brown

Invertemos a ordem e comecemos pela disciplina de estreia e pelos mais novos. Rayssa Leal (Brasil), que disputará o “street”, enquanto, por Inglaterra, a mais jovem será Sky Brown, pronta para se mostrar ao mundo em “park”. Embora ambas tenham 13 anos, o título de mais nova vai para a inglesa.

A parca idade faz lembrar as pequenas ginastas dos anos 80 (Nadia Comadeci, olímpica aos 14) e os 45 segundos de prova podem colocar a única brasileira a subir ao pódio do Mundial de Skate Street, em Roma (Itália) ou a jovem inglesa, filha de mãe japonesa e pai britânico, nascida em Miyazaki, no Japão, e que já escreveu um livro nas estrelas do Olímpio.

  • Atletismo: Shelly-Ann Fraser-Pryce e Noah Lyles

Os segundos mais esperados no planeta estão nas pistas de atletismo. A bicampeã olímpica Shelly-Ann Fraser-Pryce, 34 anos, tem vivido na sombra do compatriota Usain Bolt. Agora, sem a rapidez do homem para ofuscar, 4 anos depois de ter sido mãe, voou na véspera das Olimpíadas para o segundo tempo mais rápido de sempre (10,63), o melhor tempo nos últimos 32 anos, a 14 centésimos de Florence Griffith-Joyner (1988).

Noah Lyles (EUA) bem pode vir a ser a próxima grande estrela norte-americana. Campeão mundial em 2019 nos 200m, aos 24 anos (19.50 melhor tempo), na estreia na competição de 4 em 4 anos poderá ser a bala pronta a disparar nas pistas nipónicas e bater o recorde de Bolt na segunda distância mais rápida.

  • Ginástica: Simone Biles e Sunisa Lee

Saltemos para a ginástica. E para o duelo Simone Biles e Sunisa Lee, ambas representantes da bandeira das 50 Estrelas (Estados).

Biles desafia ela própria a gravidade. A força e a velocidade fazem da ginasta americana mais condecorada de sempre em competições internacionais, um palmarés no qual cabem cinco medalhas (quatro de ouro e uma de bronze) nos Jogos do Rio de Janeiro em 2016, uma atleta estratosférica. Em Tóquio, poderá ser condecorada como a primeira mulher em 53 anos a defender o título olímpico de all-around.

Em paralelo, aparece Sunisa Lee, a jovem estrela emergente, três medalhas de ouro nos Mundiais, parte integrante da equipa de 4 pronta a conquistar o terceiro ouro olímpico e procurar um lugar no pódio no all-around. Nascida no Minnesota, pertence à etnia Hmong, grupo original das regiões montanhosas da China, Vietname, Laos e Tailândia, o que faz dela a primeira deste grupo étnico nos Jogos Olímpicos.

  • Natação: Katie Ledecky e Caeleb Dressel

Na natação, a americana Katie Ledecky, 24 anos, quer, em Tóquio, escrever mais uma página de sucesso de um legado que totaliza cinco medalhas de ouro espalhadas por Londres 2012 (então com 15 anos) e Rio 2016.

O fantasma Phelps cabe em poucas toucas. Caeleb Dressel (EUA) é um digno sucessor. O rapaz da Flórida é apontado como alguém que entrará para a galeria de deuses do Olímpo como Matt Biondi, Mark Spitz e Michael Phelps.

  • Ténis e ténis de mesa: Naomi Osaka e Tomokazu Harimoto

Os Jogos disputam-se no Japão. Por isso, finalizamos as duplas com dois atletas debaixo dos olhares de todos os espectadores nipónicos.

Naomi Osaka tem sido um fenómeno nos courts e uma celebridade e furacão fora deles. Fazendo parte do novo Japão que abraça o multiculturalismo, a n.º 2 do ranking mundial do WTA, abanou o mundo das raquetes ao retirar-se de Roland Garros por não aceitar que a obrigassem a falar com os media e não pôs um pé em Wimbledon devido à ter posto as fichas todas na conquista do ouro no país que a viu nascer. À beira dos Jogos, no dia 16, estreou uma mini-série intimista, na Netflix, em que durante três episódios a tenista e ativista explora as suas raízes culturais e identidade.

Igualmente de raquete e bola na mão e uma rede no meio, Tomokazu Harimoto tem todo o Japão a olhar para si. Em 2017, tornou-se o mais jovem (14 anos) vencedor do circuito mundial de ténis de mesa. Um ano e meio depois, aos 15, repetiu a graça da idade ao ser o mais novo vencedor a vencer o Tour Mundial. Filho de mesa-tenistas chineses, o prodígio japonês pode destronar o domínio do país do pai que arrecadou 13 de 18 medalhas em singulares desde 1996.

  • Eliud Kipchoge (Maratona)   

Por fim, alguém que não tem igual nem par no Desporto. O queniano Eliud Kipchoge é o maior maratonista de sempre e o único homem a quebrar a barreira das duas horas nos 42 195 metros. Vencedor nos Jogos do Rio, a lenda do fundo quer continuar de ouro ao peito na prova presente desde a 1.ª edição dos Tempos Modernos, 1896, em Atenas, Grécia. Se, aos 36 anos, vencer em Sapporo, cidade japonesa que sediará a maratona em 8 de agosto, no exato campo cujo enfoque é na corrida em si e não na velocidade, ficará difícil a escolha entre o melhor Atleta da história dos Jogos Olímpicos: Kipchoge ou Bolt.

 

A segunda vez dos Refugiados nos Jogos

Nomes e modalidades dos 29 atletas da equipa dos Refugiados

Atletismo (9)

  • Dorian Keletela, 100m masculino. Nasceu no Congo, treina em Portugal.
  • Rose Nathike Lokonyen, 800m feminino. Sudão do Sul, treina no Quénia.
  • James Nyang Chiengjiek, 800m masculino. Sudão do Sul, treina no Quénia.
  • Anjelina Nadai Lohalith. 1500m feminino. Sudão do Sul, treina no Quénia.
  • Paulo Amotun Lokoro, 1500m masculino. Sudão do Sul, treina no Quénia.
  • Jamal Abdelmaji Eisa Mohammed, 5000m masculino. Sudão, treina em Israel.
  • Tachlowini Gabriyesos, maratona. Eritreia, treina em Israel.

Badminton (1)

  • Aram Mahmoud, simples masculino. Síria, treina na Holanda.

Boxe (2)

  • Wessam Salamana, peso leve masculino. Síria, treina na Alemanha.
  • Eldric Sella Rodriguez, peso médio masculino. Venezuela, treina em Trinidad e Tobago.

Canoagem velocidade (1)

  • Saeid Fazloula, 1000m masculino. Irão, treina na Alemanha.

Ciclismo

  • Masomah Ali Zada, contrarrelógio feminino. Afeganistão, treina na França.
  • Ahmad Badreddin Wais, contrarrelógio masculino. Síria, treina na Suíça.

Halterofilismo (1)

  • Cyrille Fagat Tchatchet II, - 96kg masculino. Camarões, treina no Reino Unido.

Judo (6)

  • Sanda Aldass, equipa mista feminino. Síria, treina na Holanda.
  • Ahmad Alikaj, equipa mista masculina. Síria, treina na Alemanha.
  • Muna Dahouk, equipa mista feminina. Síria, treina na Holanda.
  • Javad Mahjoub, equipa mista masculina. Irão, treina no Canadá.
  • Popole Misenga, equipa mista masculina. República Democrática do Congo, treina no Brasil.
  • Nigara Shaheen, equipa mista feminina. Afeganistão, treina na Rússia.

Karaté (2)

  • Wael Shueb, kata masculino. Síria, treina na Alemanha.
  • Hamoon Derafshipour, kumite - 67kg masculino. Irão, treina no Canadá.

Luta greco-romana (1)

  • Aker Al Obaidi, - 67kg masculino. Iraque, treina na Áustria.

Natação (2)

  • Alaa Maso, 50m livre masculino. Síria, treina na Alemanha
  • Yusra Mardini, 100m mariposa feminino. Síria, treina na Alemanha.

Taekwondo (3)

  • Dina Pouryounes Langeroudi, - 49kg feminino. Irão, treina na Holanda.
  • Kimia Alizadeh, - 57kg feminino. Irão, treina na Alemanha.
  • Abdullah Sediqui, - 68kg masculino. Afeganistão, treina na Bélgica.

Tiro (1)

  • Luna Solomon, carabina de ar 10m feminino. Eritreia, treina na Suíça.

Na noite de 5 de agosto de 2016, Rose Nathike Lokonyen, corredora do Sudão do Sul, liderou a primeira Equipa Olímpica de Refugiados (EOR) transportando a bandeira do Comité Olímpico Internacional (COI).

Ao todo, 10 atletas oriundos do Sudão do Sul, Síria, República do Congo e Etiópia desfilaram no Estádio Maracanã durante a Cerimónia de Abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Esse dia/noite entrou para a História do olimpismo e do Desporto mundial.

Rose fugiu da guerra aos oito anos e encontrou segurança no campo de refugiados de Kakuma, norte do Quénia.

Cada um dos outros nove tinha e tem uma narrativa de vida por contar. As histórias de sobrevivência e superação abriram caminho para um ciclo olímpico e cinco anos mais tarde, em Tóquio, a segunda equipa de Atletas Refugiados volta a competir.

Quatro dos que estiveram no Brasil prolongam o “cenas dos próximos capítulos” para Tóquio 2020. Rose, (atletismo, 800 m), o judoca Popole Misenga, da República Democrática do Congo, a nadadora síria Yusra Mardini, Anjelina Nadai Leohaliht (1500), James Nyang Chiengjiek (800m) e Paulo Amotun Lokoro, todos do atletismo, todos do Sudão do Sul e a treinarem no Quénia.

No Japão, vão estar ao lado de Dorian Keletela. É um dos 29 atletas, 10 mulheres e 18 homens, de 11 nacionalidades, a treinarem em 14 países, prontos a competir em 12 desportos, do judo, à natação, passando pelo boxe, ciclismo, atletismo, canoagem, badminton, halterofilismo, luta greco-romana, karaté e... tiro. Em representação de uma bandeira para relembrar o mundo da atual crise de refugiados que tem continuado durante a pandemia.

Dorian foi forçado a deixar a República Democrática do Congo. Órfão na adolescência, devido a perseguições políticas, Portugal atravessou-se no destino. Mal colocou os pés em território nacional tratou de pedir asilo. Tinha 17 anos. Num piscar de anos entra pela porta do Sporting Clube de Portugal e começa a treinar no Centro de Alto Rendimento do Jamor, na companhia de Francis Obikwelu, nigeriano naturalizado português em 2011. Corredor de 100 metros, aos 22 anos cumpre o sonho: está na competição dos 5 anéis.

 

Vai dar pela falta deles

Logo para começar, vai dar pela falta de dois.

Michael Phelps, nadador americano, detém dois recordes olímpicos bem acima das medalhas. Colocou ao pescoço oito delas, de ouro, em Pequim 2008, e, em Londres 2012, tornou-se o atleta mais medalhado da história olímpica quando conquistou o 19.º metal precioso.

Mas não ficou por aqui. Tem 28 pódios em 30 provas disputadas ao longo de cinco edições, despedindo-se dos Jogos no Rio 2016 com uma mão cheia de ouro e um dedo (da outra mão) de prata.

Rio 2016 marcou igualmente a despedida de outro fenómeno: Usain Bolt, velocista jamaicano detentor de oito medalhas de ouro, tricampeão de forma consecutiva de 100m e 200 e bicampeão de 4x100. A 14 de agosto de 2016, a terceira medalha dourada (100m) no Brasil trouxe gravados nove segundos e oitenta e um centésimos nos pés do Lightning Bolt. Estava concretizado o adeus aos Jogos do homem mais rápido do mundo.

Phelps e Bolt não serão vistos no desfile dos Jogos da XXXII Olimpíada da Era Moderna. O legado destes dois atletas para a eternidade começa a ser disputado por outros nomes, uns olímpicos, outros a dar os primeiros passos.

Por outras razões, quem também está fora está fora dos Jogos é o tenista Roger Federer. O suíço conquistou a medalha de prata em singulares em 2012 e a de ouro em 2008 na variante de pares. Agora, uma lesão no joelho afasta-o de Tóquio.

A desistência de Federer dos Jogos Olímpicos junta-se às de outros tenistas de renome, casos de Rafael Nadal, Dominic Thiem ou Nick Kyrgios, em masculinos, e Serena Williams, em femininos.

A norte-americana Sha’Carri Richardson, grande sensação da atualidade nas provas de velocidade, acusou marijuana num teste antidoping nas seletivas olímpicas do seu país e vai falhar os 100 metros. Em abril, a atleta tinha corrido os 100 metros em 10,72 segundos, passando a ser a sexta mulher mais rápida do mundo.

No basquetebol, o extremo/poste Kevin Love, lesionado, é a segunda baixa na seleção dos Estados Unidos, depois da saída de Bradley Beal devido aos protocolos de saúde relacionados com a covid-19. Mas mesmo sem ‘estrelas’ como LeBron James, Stephen Curry, Kahwi Leonard, Anthony Davis e James Harden, a nação da "Dream Team" é a favorita.

Mo Farah, detentor de quatro ouros olímpicos, falhou a qualificação nos 10.000 m para os Jogos. O britânico falhou a marca por 19 segundos e não vai conseguir defender o título conseguido em Londres2016 e no Rio2016.

A lista é longa, e os motivos também (doping, lesões, Covid-19). O Quartz faz um apanhado de todos os atletas que não carimbaram passaporte para Tóquio.

Quem também falhará estes Jogos é a Coreia do Norte — "para proteger os nossos atletas da crise de saúde global causada pela infecção por um vírus malicioso". 

A Coreia do Norte participou em todas as edições dos Jogos de Verão desde 1972, exceto em 1984, em Los Angeles, quando aderiu ao boicote soviético, e em 1988 em Seul, na Coreia do Sul. Os atletas norte-coreanos já conquistaram 16 medalhas de ouro.

 

A terceira maior delegação lusa pode bater o recorde de medalhas

Portugal vai estar representado em 17 modalidades. Os 92 atletas igualam o número do Rio2016 como a terceira maior missão de sempre, apenas superada pelos 107 de Atlanta1996 e dos 101 de Barcelona1992.

Do total da Missão de Portugal, 36 são mulheres, o que constitui a maior representação feminina da história, embora seja a segunda em termos de igualdade de género, atrás de Londres2012.

Apesar de não ter alinhado nos 20 quilómetros marcha de Sydney2000, devido a doença, o marchador João Vieira vai para a sua sexta participação olímpica, sendo que o atleta de 45 anos igualará o velejador João Rodrigues, com sete presenças, caso se qualifique também para Paris2024.

Portugal vai estar ainda representado por 27 oficiais, juízes e árbitros, com o maior contingente no futebol, com os quatro elementos da equipa chefiada por Artur Soares Dias.

Além de Portugal, a seleção lusa é composta três elementos nascidos no Brasil e outros tantos em Cuba, dois na China e um nos Camarões, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Costa do Marfim, Congo, Suíça, França, Ucrânia, Geórgia e Estados Unidos.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (E), intervém durante a Cerimónia de despedida da Missão Olímpica de Portugal aos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, em Lisboa, 5 de julho de 2021. MIGUEL A. LOPES/LUSA

A Missão de Portugal conta com 55 estreantes e 35 ‘repetentes’, entre os quais se incluem atletas que representaram outras nações, como foi Lorene Barzolo duas vezes pelo Congo e Auriol Dogmo uma pelos Camarões, enquanto Luciana Diniz representou o Brasil na primeira das suas três presenças.

A comitiva lusa para Tóquio2020 integra quatro medalhados olímpicos, designadamente o campeão Nelson Évora (Pequim2008 no triplo salto), os canoístas Fernando Pimenta e Emanuel Silva (vice-campeões em K2 1.000 em Londres2012) e a judoca Telma Monteiro (bronze no Rio2016 em -57kg).

No seu historial de 24 pódios, Portugal só tem quatro títulos olímpicos, todos no atletismo, e nunca foi além das três medalhas por edição (Los Angeles1984 e Atenas2004). Será este ano? Algumas ‘profecias’ assim o apontam.

Jogos Olímpicos. O calendário dos atletas portugueses em Tóquio
Jogos Olímpicos. O calendário dos atletas portugueses em Tóquio
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A Associated Press, por exemplo, ‘atribui’ o ouro ao judoca bicampeão do mundo Jorge Fonseca na categoria de -100 kg, e o bronze a Fernando Pimenta, em canoagem K1 1.000, a Pedro Pichardo, no triplo salto, e ao veterano João Vieira, nos 50 quilómetros marcha. Já o site especializado Olympic Medals Predictions repete o ouro de Jorge Fonseca e alarga o lote da prata a João Vieira, Pedro Pichardo e ainda à judoca Bárbara Timo, em -70 kg.

Antes da partida para Tóquio, desafiámos alguns dos atletas a responder a um Questionário Olímpico. Qual a coisa mais inusitada que leva na bagagem para o Japão? Se ganhar uma medalha, a quem a vai dedicar? O que é um bom resultado olímpico para Portugal?

A judoca Rochele Nunes (+78 kg) aponta à "dourada" e Rui Silva, um dos heróis do andebol nacional, promete dedicar a medalha a Alfredo Quintana, guarda-redes do FC Porto e da seleção nacional que faleceu no início do ano depois sofrer uma paragem cardiorrespiratória.

O surfista Francisco Morais fala do principal adversário, o mar, e Francisco Belo, lançador do peso, conta que para Tóquio leva uma pequena figura do Hulk — "Só para me lembrar que às vezes temos de nos transformar e ir à luta”.

Nas memórias, o cavaleiro Rodrigo Torres recorda-se de ouvir falar no seu bisavô ter ganho uma medalha nos Jogos Olímpicos de 1936, e o tenista João Sousa da sensação "indescritível" ao entrar no Estádio do Maracanã com toda a equipa olímpica, na cerimónia de abertura do Rio2016.

Vários atletas confessam que o adiamento causou alguma ansiedade, mas o lutador Rui Bragança assume que é hoje "melhor atleta do que era há um ano", e o mesa-tenista Marcos Freitas lembra que o "importante é que os Jogos se vão realizar de uma maneira mais segura”.

Recorde aqui as todas as respostas.

 

Polémicas olímpicas

Vários casos têm alimentado a atualidade e várias tem sido as parangonas.

A Toyota, apesar de ser uma das principais patrocinadoras da atual edição dos Jogos Olímpicos, não vai exibir qualquer anúncio televisivo relacionado com o evento durante a realização da prova. A decisão, especula-se, pode resultar de uma tentativa da marca de se distanciar da realização destes Jogos Olímpicos, com uma taxa de aprovação cada vez mais baixa entre a população japonesa, e numa altura em que o número de casos de Covid-19 em Tóquio continua a aumentar. O presidente-executivo da Toyota Motor Corp., Akio Toyoda, e outros executivos também não comparecerão à cerimónia de abertura. No entanto, a Toyota irá, ainda assim, fornecer mais 3.000 veículos para apoiar na realização dos Jogos.

Keigo Oyamada, mais conhecido por Cornelius, demitiu-se do cargo de compositor da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio após ter admitido ter feito bullying, há varios anos, a colegas de escola, incluindo uma criança com deficiências cognitivas.

E esta não é a única demissão a dias da prova. Kentaro Kobayashi, um dos diretores artísticos da cerimónia de abertura demitiu-se por piadas antissemitas num espetáculo em 1998. O humorista e encenador renunciou ao cargo após terem sido trazidos à luz comentários que agora considera “inapropriados".

Uma "praga de ostras" pode ameaçar as provas de canoagem e remo na Sea Forest Waterway, na baía de Tóquio. As ostras “magaki” agarram-se às boias que têm como objetivo reduzir o número as ondas durante as provas olímpicas, fazendo com que estas se afundassem. Segundo a BBC, a invasão de ostras já custou mais de 1 milhão de euros em reparações de emergência visto que o equipamento, colocado numa extensão de 5,6 quilómetros, teve de ser limpo e reparado no local por equipas de mergulhadores. No total, já foram retiradas 14 toneladas de ostras. Fernando Pimenta (K1 1000), Emanuel Silva (K4 500) ou Joana Vasconcelos (K1 500) são alguns dos atletas portugueses que competem neste local. Esperemos que só encontrem ostras no prato.

O halterofilista ugandês Julius Ssekitoleko, dado como desaparecido pelas autoridades japonesas a dias do arranque dos Jogos, fugiu para começar uma nova vida no Japão. O jovem de 20 anos deixou escrita uma nota, encontrada no seu quarto de hotel, na qual explicava que não queria regressar ao seu país devido às condições de vida difíceis naquele país africano.

Escolher entre a carreia desportiva e a família. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio este foi um dilema para muitas "mães olímpicas". A capitã da equipa espanhola de natação sincronizada ainda tem o filho em período de amamentação, mas as restrições impostas impediram-na de o levar consigo. Ona Carbonell, uma das atletas mais medalhadas de sempre nesta disciplina, manifestou a sua desilusão nas redes sociais.

 

Curiosidades para queijinho no Trivial Pursuit

Ao todo são 33 modalidades em concurso em Tóquio2020. Mais cinco do que no Rio2016, incluem os estreantes surf, escalada, skate e karaté, bem como o regresso, após duas edições ausente, das equipas de basebol e softbol.

De registar ainda algumas novidades, nomeadamente a criação da variante de rua ‘3x3’ no basquetebol, da estreia do BMX Freestyle e do Madison no ciclismo de pista, bem como a primeira vez da estafeta mista do triatlo.

Os Jogos Olímpicos Tóquio1964 foram os primeiros de sempre a realizarem-se na Ásia. A capital japonesa já tinha ‘apadrinhado’ o judo, em 1964, sendo agora o primeiro palco olímpico do karaté, cujas competições vão estar divididos nas variantes de kumite, com 60 atletas em combate, e kata, com 20 competidores numa especialidade que valoriza a arte dos combates imaginários, a solo.

Os Jogos Olímpicos começaram em 1896, em Atenas, mas Portugal falhou as primeiras quatro edições, estreando-se apenas à quinta, em 1912, em Estocolmo, na Suécia. A assinalar a primeira aparição lusa, ocorreu um dos episódios mais dramáticos da história do evento, a morte do maratonista Francisco Lázaro, um dos seis atletas portugueses presentes, em três modalidades (atletismo, luta e esgrima).

A halterofilista Laurel Hubbard vai ser a primeira mulher trans nos Jogos Olímpicos, depois de hoje ter sido convocada pela seleção da Nova Zelândia. Hubbard, de 43 anos, será também a mais velha halterofilista em prova, chegando ao ponto mais alto de uma carreira que inclui uma medalha de prata nos Mundiais de 2017 e o ouro nos Jogos do Pacífico de 2019.

Já que falamos em idades. A mesa-tenista síria Hend Zaza tem 12 anos e é a atleta mais nova a competir nestas olimpíadas.

 

Quando soa o hino 

2.523 vezes para os Estados Unidos. O "Team USA" está confortavelmente instalada no topo do ‘ranking’ de medalhas, com 1.022 das quais de ouro, 795 de prata e 706 de bronze.

A representação lusa conquistou, em Paris1920, a primeira medalha, de bronze, na prova de obstáculos por equipas.

A primeira prata veio de Londres1948 e foi conquista pelos velejadores Duarte de Almeida Bello e Fernando Coelho Bello, em Swallow.

Em 1984, numa edição marcada pelo boicote dos países de Leste, Portugal contou com 38 atletas e somou, finalmente, o seu primeiro título olímpico. Carlos Lopes fez soar ‘A Portuguesa’ em Los Angeles, ao vencer a maratona, numa edição em que a representação lusa somou mais duas medalhas de bronze no atletismo, por António Leitão (5.000 metros) e por Rosa Mota, que se tornou a primeira mulher portuguesa medalhada, ao ser terceira na maratona.

Tóquio2020 vai ter 339 medalhas de ouro em disputa nas 33 modalidades do programa, sendo que mais de um quarto (28,6%) serão distribuídas por natação e atletismo e quase metade (45,7%) pelo conjunto dos cinco maiores desportos.

créditos: EPA/ISSEI KATO

 

Quem ganha é o ambiente

As medalhas foram feitas a partir de mais de 6,21 milhões de aparelhos eletrónicos reciclados. Os japoneses foram convidados a doar smartphones, tablets e outros dispositivos eletrónicos já usados, e assim contribuir para o fabrico das 5.000 medalhas olímpicas atribuídas aos atletas que conquistarem o pódio.

Das mais de 78.985 toneladas de materiais recolhidos, foram extraídos mais de 32 quilos de ouro, 3,5 quilos de prata e 2,2 quilos de bronze.

Mas as medidas sustentáveis não se ficam por aqui. As camas para os atletas olímpicos são feitas de cartão para poderem posteriormente ser reutilizadas e recicladas.

Esta é a justificação oficial, ainda que tenham circulado alguns rumores de um outro motivo para serem assim: evitar contactos íntimos entre os atletas ("anti-sex beds"). Porém, Rhys McClenaghan, ginasta irlandês, filmou-se a saltar na cama, provando que estas não se quebram assim com tanta facilidade.

 

Com os olhos em Paris2024

Os próximos Jogos voltam à capital francesa em 2024, exactamente cem anos depois das primeiras olimpíadas em Paris.

Surf, a escalada e o skate continuam como modalidades olímpicas em Paris, mas o karaté não. Ao programa será, porém, acrescentado o breaking [break dance].

Além da igualdade de género, que será plena pela primeira vez em Paris2024 – no Japão as mulheres têm 48,8% das quotas -, os Jogos procuram ainda reduzir o número de eventos e atletas, pelo que os 11.092 competidores no Japão dão lugar a somente 10.500, dentro de três anos, e o número de medalhas de ouro vai passar de 339 para 329 em França.