O adiamento foi benéfico para a preparação ou foi mais um momento de ansiedade?

Sinceramente, encaro como benéfico. Estava preparado se os Jogos tivessem sido na altura que estava anunciado (2020). Obviamente, mais um ano permitiu-me, acima de tudo, aumentar a confiança na competição porque acabei por competir em provas do World Tour (Circuito Mundial) com atletas internacionais, o que me dá sempre uma preparação mais sólida.

Beneficiou com o adiamento dos JO ou está nos Jogos devido a esse facto?

Nem uma, nem outra. Garanti a vaga da nossa seleção (2019) e, depois, qualifiquei-me para representar Portugal (junho de 2021). Penso que os timings não tiveram qualquer influência.

BI Olímpico

Frederico Morais

Modalidade: Surf

Idade: 29 anos

Naturalidade: Cascais

Clube: não tem

Treinador: David Raimundo (selecionador nacional) e Richard Marsh (treinador pessoal)

Participações: O surf fará a estreia como modalidade olímpica em Tóquio. Em quatro atletas possíveis por país, Portugal leva três. Frederico Morais, Teresa Bonvalot e Yolanda Sequeira Hopkins.

Factos & Curiosidades: Primeiro, nos mundiais ISA de 2019, garantiu uma vaga para Portugal. Dois anos depois, na mesma competição, registou o seu nome no bilhete de ida para Tóquio.

Frederico Morais é surfista residente do Circuito Mundial da WSL, Liga Mundial de Surf. “Kikas” tinha esse sonho desde pequeno. Conseguiu-o em 2016. Em ano de estreia chegou a uma final de um campeonato do circuito mundial de surf. É o primeiro e único português a consegui-lo. Sai de cena no ano seguinte e regressa em 2019. Na pausa para os Jogos Olímpicos é o 11º do ranking mundial.

Há quanto tempo está a preparar os JO?

A minha preparação é constante, tenho campeonatos o ano inteiro. Estou no World Tour, logo tenho de me manter no pico da minha forma durante a minha época competitiva.

Neste momento, até aos JO, posso dedicar-me apenas a tentar encontrar as condições que mais se assemelhem à praia onde iremos competir no Japão.

Ao longo deste ciclo Olímpico, quando é que pensou: este é momento do “tudo ou nada”?

Esse pensamento apareceu no campeonato em que consegui a minha vaga. Teria de ser o melhor europeu no evento e havia bastantes surfistas europeus a disputar aquela vaga. Esse mindset foi o que me deu a calma e a frieza para conseguir um 5º lugar e garantir a vaga para os Jogos Olímpicos.

Qual o pior momento na preparação?

Não considero ter tido um pior momento. Diria que no início da pandemia, quando não se podia surfar e os JO ainda não tinham sido adiados, senti que a minha preparação não estava a ser a melhor. Apesar de treinar e de manter-me bem fisicamente, quando não estamos na água a preparação não é a ideal. Os Jogos Olímpicos acabaram por ser adiados, por isso, não foi um assunto e continuei a respeitar o confinamento e a treinar em casa. Arranjei motivação extra e investi na minha preparação física.

Que preparação específica foi feita? (Por exemplo, vai alterar os ciclos de sono antecipadamente face à diferença horária?)

Quando a data dos JO se aproximar um pouco mais irei ter em conta todas essas questões e detalhes que podem fazer a diferença na minha performance.

Qual a maior dificuldade que espera encontrar em Tóquio?

Nesta altura do ano, a praia onde se irá realizar a competição não é conhecida por ter as melhores ondas. Diria que as condições do mar vão acabar por ser o maior adversário.

Qual a coisa mais inusitada que leva na bagagem para o Japão?

Gosto de viajar com pouca coisa, por isso tudo o que vai na minha mala acaba sempre por ter uso para mim de alguma forma. Claro que bandeira de Portugal não falta, mas isso vem sempre.

Quais são os objetivos em termos de resultados/marcas?

A minha forma de estar na competição é sempre a mesma: compito para ganhar. Aliás, esse tem que ser o foco, senão não faz sentido, deixa de ser competição. É muito importante para mim ter este foco e mindset. No entanto, ao longo destes anos também aprendi que para a vitória temos uma série de variáveis que controlamos e outras que não controlamos. Investir ao máximo nas que controlamos e gerir as outras faz parte da minha forma de estar na competição. Por isso, “parto os objetivos”, heat a heat, apercebendo-me que cada vez estou mais perto do objetivo final. Estar nos JO a representar Portugal é a concretização de um sonho de qualquer desportista, é o expoente máximo de reconhecimento que poderíamos ter, e obviamente, trazer uma medalha para casa seria a forma de retribuir. Vamos com calma e concentração.

O que é um bom resultado olímpico para Portugal?

É a estreia do surf e não havendo antecedentes, também não há comparação. É sempre uma conquista para esta modalidade que se tem vindo a profissionalizar cada vez mais. Temos ótimos representantes, por isso acredito que temos grandes hipóteses de deixar a nossa marca.

Qual a primeira memória que tem dos Jogos Olímpicos?

Venho de uma família com tradição no desporto, nada relacionado com surf, mas os Jogos Olímpicos eram um marco sempre. A abertura dos Jogos, para mim era olhar e reconhecer os melhores do mundo.

Quem é o melhor atleta olímpico de sempre na sua modalidade? 

Não há, vamos fazer história.

Se ganhar uma medalha, a quem a vai dedicar?

Esse é o tipo de coisas em que não penso. Se ganhar uma medalha é nossa, de Portugal, de todos os portugueses que têm lutado pelo surf, desde profissionais a espetadores. Se chegar aí, também sei que só foi possível pela família que me rodeia, mas prefiro deixar esses pensamentos para depois.

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Memórias, objetivos e até uma pandemia. Rumo aos Jogos Olímpicos, que se realizam de 23 de julho a 8 de agosto em Tóquio, no Japão, desafiámos alguns dos nossos atletas a responder a um Questionário Olímpico.