Um clássico depois de almoço. Em quase 100 anos de jogos entre Sporting e Porto, no 231.º confronto entre os dois clubes, o apito inicial soprou da boca do árbitro Hugo Miguel, da associação de Lisboa, às 15h30.
Horário pouco habitual na era do futebol moderno, com direitos de transmissão televisiva a ditarem regras, mas que mereceu rasgados elogios de Sérgio Conceição, treinador portista, na antevisão da partida.
"Desde já os meus parabéns a quem escolheu este horário porque faz bem ao futebol. É importante os espetáculos serem a esta hora. Nós também já tivemos um jogo a esta hora, com o estádio totalmente cheio....Prefiro ter um estádio cheio de gente, porque é extremamente motivante para quem joga. É um horário que permite às pessoas irem ao estádio com a família, como acontecia antigamente", disse.
A resposta a esta mudança horária surge na forma numérica: 45174 espetadores em Alvalade num clássico para as famílias que responderam em massa.
No jogo da 17.ª jornada da I Liga de futebol, o Sporting foi a primeira equipa a criar perigo. Esperava-se mais do livre à entrada da área mas o pé esquerdo de Mathieu (13’) que só “deu” canto.
Neste duelo vintage, à moda antiga, os jogadores de ambas as equipas demoraram, no entanto, a aquecer. E a entrar em jogo.
Os oito pontos de vantagem dos portistas em relação aos leões talvez sirvam de explicação para o pouco “nervo” dos azuis e brancos na primeira parte.
Do lado contrário, o “Kaiserball” via-se pouco. Alguns pontapés para a frente para Diaby, encostado à direita, era a tónica utilizada para chegar à área do FC Porto.
De resto, do outro lado, sobrava Jefferson, que substituiu o castigado Acuña. O defesa brasileiro lá ia tentando tirar centros para Bas Dost, a referência atacante e goleadora dos leões. Aos 36 minutos a bola chega pela primeira vez à cabeça do avançado holandês que teve pela frente um imperial Militão (secou tudo à sua volta).
Com o relógio a caminhar para o final da primeira parte surge o primeiro remate à baliza do encontro. Bas Dost com o pé direito, à entrada da área, após cruzamento de Jefferson.
Maxi Pereira saiu lesionado obrigando Sérgio Conceição a meter Oliver e a recuar Corona.
Até os pombos vieram ver o clássico. Mas os golos não apareceram
O futebol dos anos 80 era dado a alguns episódios com galinhas mortas no balneário e sacrifício de outros animais voadores. Uma espécie de parapsicologia que era fértil no mundo da bola.
Ao dia 11 janeiro de 2019, oito pombos teimavam em voar (e pousar no relvado) durante mais de 60 minutos, inclinando-se mais para a zona defensiva da equipa que viajou da Invicta. Olhando para este quadro, com pombos que aterravam de paraquedas na zona do Lumiar para verem o clássico, cheirava a pozinhos do futebol à moda antiga.
A segunda parte começa como terminou a primeira: com uma substituição, por lesão. A mesma posição, defesa direito, só mudou a camisola: Bruno Gaspar deu o lugar a Rivtovski na defesa leonina.
O Porto começou a carregar e Marega a desperdiçar. O maliano esteve desinspirado (assim como o colega da frente, Soares) durante o encontro todo. E quando poderia ter matado o jogo, isolado na área, fez, com um pontapé de ressalto, “três pontos para o País de Gales”.
O jogo começava a abrir a partir do minuto 60. Já sem sol a iluminar parte da bancada central oposta à que são colocadas as câmaras de televisão, Bruno Fernandes aquece as mãos ao guarda-redes espanhol, testando o reflexo Casillas por duas vezes.
Brahimi, ora à esquerda, ora à direita, empurrava os dragões para a frente. Herrera foi o companheiro neste pêndulo ofensivo. Bas Dost volta a tocar com a cabeça na bola depois de um centro repleto de mel (não confundir com o MEL, Movimento Europa e Liberdade) de Rivtovski.
Um outro centro adocicado aconteceu já nos derradeiros minutos da partida. Hernâni, na esquerda tenta colocar a bola a pingar em Marega, um desejo interrompido por Coates.
Apito final e o clássico das famílias disputado à tarde como nos tempos do futebol vintage termina com um nulo que característico dos jogos resultadistas desta nova era.
O Porto que não vence em Alvalade há mais de uma década acrescenta um empate à série triunfal de 18 vitórias seguidas. Os dragões continuam a ser a melhor defesa do campeonato, com dez golos sofridos e, acima de tudo, mantém o rival Sporting (e Braga) à mesma distância com que iniciou esta última jornada da primeira volta: 8 e 6 pontos, respetivamente.
Bitaites e postas de pescada
O que é que é isso, ó meu?
Wendel, médio leonino, é apresentado como um jogador box-to-box.
É uma espécie de todo o terreno, andando para a frente e para trás, para a direita e esquerda. Ao minuto 18 poderia ter dado seguimento a um contra-ataque. No meio campo, com a bola nos pés, rodou 360 graus, voltou ao lugar de partida e entregou o esférico a Danilo. Que iniciou o contra-ataque portista.
Militão, a vantagem de ter duas pernas
Nos poucos caracteres que dispomos não cabem tantos elogios ao jovem defesa brasileiro, embora tenha sido Mathieu, o central do Sporting, a ser considerado o homem do jogo. “Secou” Bas Dost. Se com os pés, roubou bolas, de cabeça, foi imperial no duelo com o avançado holandês.
Fica na retina o cheiro de bom futebol
Danilo. Não é propriamente o jogador que possamos definir como um portento de técnica. Força e pulmão tem. Sentido posicional, também, e de sobra. Vê-lo ganhar a bola junto da área leonina, picar uma, duas e três vezes, alternando entre o pé direito e a testa, para depois colocar a bola com uma finta de calcanhar em Alex Teles junto na linha final mereceu não só o forte aplauso dos adeptos como a honra de escrita destas singelas linhas.
Nem com dois pulmões chegava à bola
No meio das mexidas habituais de Sérgio Conceição, Hernâni volta a entrar para a frente de ataque dos azuis e brancos com o comboio da partida em andamento. Teve pouco tempo em jogo mas ainda assim, o suficiente para um verdadeira “cueca” a Mathieu.
Uma jogada simples, tão rápida quanto mortífera, uma troca de pés, receção e condução da bola, uma finta e túnel debaixo das pernas do central francês. Que em virtude do tempo de jogo pareceu ter deixado, pelo menos, um rim em campo. Ou terão sido mesmo os dois?
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