O MEO Rip Curl Pro Portugal, 3.ª etapa do Championship Tour (CT, ou Circuito Mundial) da Liga Mundial de Surf (WSL), arranca em Peniche (Supertubos) a 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

A janela de competição prolonga-se até 16 de março e é a mais curta (8 dias) das cinco etapas que ditam o cut do meio da temporada do CT, corte a partir do qual seguem só os atletas apurados para as restantes outras cinco etapas, um campeonato a culminar em mais uma triagem na final, em setembro, onde serão apurados os campeões de 2023.

Entalada entre a perna havaiana — onde se deram as duas primeiras etapas do Circuito Mundial — e a perna seguinte, na Austrália – em abril, no fecho do cut (corte) a meio da temporada —, a prova portuguesa, a 13.ª edição, é única paragem europeia do calendário do World Tour. Peniche será, pela primeira vez na história do surf feminino português, de duas representantes lusas e logo em estreia absoluta.

Na praia de Supertubos, Teresa Bonvalot continuará a usufruir do estatuto de primeira suplente, à imagem do sucedido nas primeiras duas etapas do CT 2023, no Havai, Pipeline (nono lugar) e Sunset Beach (17.º). Entra, pela primeira vez, nas águas de Peniche numa etapa do CT depois de já ter sido wildcard (convite), quando a prova feminina esteve estacionada em Cascais (2013 a 2017).

Por sua vez, Yolanda Hopkins, recém-campeã europeia (vencedora do circuito regional europeu do Qualifying Series) recebeu o wildcard da organização e fará a estreia numa etapa da elite mundial.

Baterias onde entram os portugueses:

  • Heat 1: Tyler Wright (AUS), Bettylou Sakura Johnson (HAW), Teresa Bonvalot (POR)
  • Heat 3: Carissa Moore (HAW), Isabella Nichols (AUS), Yolanda Hopkins (POR) 
  • Heat 5: Jack Robinson (EUA), Barron Mamiya (HAW), Frederico Morais (POR).

Frederico Morais é o terceiro surfista português a surfar em casa. "Kikas", 10.º do ranking CT, em 2021, tem nas mãos igualmente o convite da WSL e regressa aos palcos dos CT após ter saído, no ano passado, a meio da temporada, no cut, e ter falhado a requalificação via Challenger Series (CS), circuito de acesso à elite mundial de surf.

Na categoria feminina, “Teresinha”, olímpica, campeã europeia (2021) e tetracampeã portuguesa (2014, 2015, 2020 e 2022), substitui Johanne Defay (lesionada) e entra no heat 1 da ronda inaugural. Terá como companhia Tyler Wright (eliminou-a em Cascais, em 2017) e Bettylou Sakura Johnson.

Yolanda Hopkins, surfista olímpica, sucessora de Bonvalot no título europeu, está no heat 3. Enfrentará um peso pesado do CT, Carissa Moore, 30 anos, atual líder do ranking mundial, campeã do circuito feminino em 2011, 2013, 2015,2019 e 2020, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, e Isabella Nichols.

Frederico Morais, surfista de 31 anos, vai medir forças com Jack Robinson, líder do ranking, e Barron Mamiya.

O outro convite disponível foi endereçado pela Liga Mundial de Surf (WSL) a Gatien Delahaye, atleta europeu melhor classificado nas Challenger Series (competição que dá acesso ao circuito de elite). Carlos Muñoz (primeiro suplente) vai substituir Ramzi Boukhiam, lesionado, e Joan Duru, ex-CT, foi escolhido para substituir Jadson André, de fora também por lesão.

A inspiração de Patrícia Mamona e de ... Teresa Bonvalot

A 13.ª paragem do World Tour (WCT) em Peniche coincide, à imagem do ano passado, com o Dia Internacional da Mulher. A World Surf League associou-se à data e lançou um desafio aos surfistas, masculinos e femininos, para vestirem, nesse dia, 8 de março, a licra com os nomes das atletas que os e as inspiram.

Patrícia Mamona, atleta do triplo-salto, é uma fonte de inspiração de Teresa Bonvalot e foi esse o nome escolhido pela surfista de Cascais para colocar na parte de trás da licra branca.

“Num passeio de barco organizado pela WSL que juntou atletas olímpicos conheci a Patrícia [Mamona]. É inspiradora em tudo o que tem feito, pela perseverança e nunca desistir. Ainda ontem [domingo] li o post que ela escreveu em Istambul [nos Europeus de Atletismo de Pista Coberta] em que fala sobre o dar tudo e nunca desistir”, salientou em conversa com o SAPO24. “Foi a primeira atleta em que pensei”, disse Bonvalot, de 23 anos, ao elogiar a iniciativa da WSL por “mostrar respeito pelas mulheres”.

Na terceira etapa como estatuto de primeira suplente entre a elite mundial, não se cansa de referir: “é aqui que quero pertencer e estar entre as melhores do mundo”.

Os acontecimentos da temporada passada, na qual terminou em 6.º do ranking no Challenger Series e ficou à porta do Circuito Mundial por um único lugar, estão bem presentes na memória. “Na altura questionamos e ponderamos tudo. Agarrei-me à parte de que as coisas não acontecem por acaso. Não era para ser, porque não tinha de ser”, relembrou. “O meu dia vai chegar”, garantiu.

A ingratidão de ficar à porta do céu não foi esquecida pelo amigo Frederico Morais. "Kikas" resolveu, por isso, homenagear a surfista conterrânea de Cascais.

“A escolha de Teresa Bonvalot ... é uma guerreira, uma rapariga exemplar com bons valores, vê-la enfrentar o que ela enfrentou no final do ano serviu-me como inspiração. O que passou é duríssimo. A maior parte das pessoas não tem a ideia da frustração que é trabalhar um ano inteiro e não chegar lá [ao CT] por um lugar. É horrível”, exclamou o surfista que “saltou” fora da elite em 2022.

“No final de contas é o nosso sonho. Vi de perto como encarou e vejo como está a encarar este ano e a vontade de voltar a brilhar e qualificar-se e estar aqui, porque merece estar e não por estar alguém a faltar. Inspirou-me a querer ainda mais voltar para o tour”, rematou.

Supertubos é um palco de boas memórias para Frederico Morais. Eliminou Kelly Slatter, no ano de 2013 e foi 5.º, em 2015. “Se há etapa que tenho saudades é Peniche. Este ano não há pressão de pontos, do cut, não conta para o ranking, e eu não estou nisso, infelizmente e felizmente. Só há a pressão de competir em casa e essa temos de canalizar”, frisou.

“É uma etapa para ganhar ritmo. Em maio começa a minha campanha de campeonatos, o CS, que é o meu foco para o ano voltar ao CT e estar aqui como integrante do circuito e não wildcard”, referiu pouco depois de ter recebido um pão de ló da Região Oeste, o mesmo que “deu sorte ao Ítalo quando foi campeão mundial”, segundo confidenciou o promotor. O doce tinha, de acordo com os votos de quem entregava, igualmente outro destinatário: Teresa Bonvalot.

De regresso à competição, após uma paragem por motivos de saúde mental, o brasileiro Gabriel Medina não esqueceu a futebolista brasileira, Marta. “É uma mulher que inspira milhares de pessoas, homens e mulheres”, disse o tricampeão mundial em conversa aos jornalistas após a conferência de imprensa do Meo Rip Curl Pro Portugal, que teve lugar no hotel MH Peniche. “As mulheres merecem o 1.º lugar no pódio”, acrescentou, enquanto elogiou a iniciativa da WSL de “colocar as mulheres no topo”, finalizou.

Sobre a Peniche e a temporada, reconheceu que o ano de paragem e o regresso ao campeonato “é difícil”. Medina admitiu estar ainda “a entrar no ritmo da competição” e a faltar-lhe “ritmo de bateria”. Feliz por voltar a Portugal — não esteve em 2022 —, não esquece a relação de “amor e ódio” com a onda portuguesa. “É difícil de competir, em 2017 consegui a vitória, mas já perdi”, recordou.

Uma casa onde todos se sentem bem

Australiana Sophie McCulloch (esteve lesionada) terá finalmente a oportunidade de estrear na elite mundial. A etapa contará com a participação de 10 surfistas do Brasil (nove homens e uma mulher). Entre eles, os campeões mundiais Filipe Toledo, Gabriel Medina e Italo Ferreira.

Peniche acolhe os melhores surfistas (masculinos) do World Tour desde 2009 (este ano decorrerá a quarta edição do Unwanted Shapes) e muitos dos 54 atletas reconhecem familiaridade à paragem portuguesa do circuito de elite da WSL. Carrisa Moore, líder do ranking, disse “estar grata” por regressar a um país onde já ganhou um título mundial...em Cascais.

Na apresentação do evento, Jack Robinson, líder da tabela masculina, afirmou “sentir-se em casa”. O mesmo sentimento foi partilhado por Tatiana Weston-Webb, vencedora no ano passado na praia de Supertubos (Griffin Colapinto venceu a competição masculina).

Kanoa Igarashi, japonês que tem uma casa na vizinha Erceira, eleva Peniche a local com “as melhores ondas do mundo”. Por fim, e porque a etapa portuguesa do CT, a decorrer no inverno, surge após as águas quentes do Havai, Molly Picklum, jovem de 20 anos, n.º 1 ex-aequo com Clarissa, deixou cair que o “maior desafio será a água fria”.