Palmeiras-Santos. A 61ª edição da Taça dos Libertadores coloca frente a frente dois clubes brasileiros, facto que acontece pela terceira vez no historial da “Liga dos Campeões” da América do Sul, 15 anos depois da última final brasileira.
Verdão e Peixe, assim são conhecidos os dois emblemas de São Paulo, viajaram até ao Rio de Janeiro e sobem hoje, às 20h00, ao relvado do Maracanã, um estádio despido de público, mas decorado por ambas as “torcidas”.
A “casa” do carioca Flamengo, templo do futebol brasileiro e mundial, será palco da final sul-americana exatamente 424 dias depois do “Fla”, então treinado por Jorge Jesus, vencer, a 23 de novembro de 2019, os argentinos do River Plate, por 2-1, no Monumental de Lima, no Peru, naquela que foi a primeira final disputada a uma mão.
O Santos, que arrancou a época sob o comando de Jesualdo Ferreira, orientado por Cuca, 57 anos, terá a oportunidade de inscrever a quarta placa no mítico troféu feito de prata. Em caso de triunfo, transforma-se no clube brasileiro com mais títulos (São Paulo e Grémio somam três vitórias) na prova.
Já o Palmeiras, do português Abel Ferreira, 42, aterrado no “Brasileirão” em outubro, luta obcecadamente pela segunda vitória na competição e espera ver cravado na base de madeira do troféu, o nome e escudo do clube, 22 anos depois da primeira e única vez que provaram o sabor da glória (campeão em 1999, com Luiz Felipe Scolari).
Apitada pelo argentino Patrício Loustau, é, para os dois emblemas de São Paulo, a quinta final na competição sul-americana. No entanto, igualdades à parte, uma pequena grande diferença separa os dois “times”.
O Santos, primeiro clube brasileiro a elevar aos céus a Libertadores, foi vencedor em três finais, 1962, 1963 e 2011 e perdeu em 2003. Por sua vez, o Palmeiras, venceu uma (1999) e perdeu três (1961, 1968 e 2000). Em caso de derrota, será o quarto jogo eterno perdido, assinalando um recorde (negativo) brasileiro.
Duelo entre Pelé e Divino dos novos tempos
Santos e Palmeiras revivem na final da Libertadores uma rivalidade datada nas décadas de ouro do futebol brasileiro: anos 60 e 70 do século passado.
Na altura, o Paulistão, campeonato estadual de São Paulo, tinha mais importância do que o nacional, e a competição era dominada por Santos e Palmeiras. Pelé era, então, o Rei do clube da Vila Belmiro, enquanto do lado do Verdão, no panteão das lendas brasileiras, desfilava Ademir da Guia, genial meio-campista conhecido como “o Divino”.
Reconhecidamente, no que toca à magia do futebol, nenhum dos finalistas terá nos plantéis seres majestáticos ou eminências vindas do Além.
No entanto, não faltam nomes a prender as atenções dos torcedores e amantes do futebol.
Seja o veterano artilheiro de pé quente, Marinho ou o avançado Kaio Jorge, que celebra 19 anos no dia seguinte à final, um dos jovens talentos a emergir na academia do Peixe, clube onde nasceram, nos anos recentes, Neymar e Rodrygo.
Do outro lado, estará Gabriel Veron e Gabriel Menino, estrelas à espera de trilharem os caminhos da “Canarinha”, provavelmente antes mesmo de vestirem a camisola de grandes clubes europeus.
Fé e superstição estampadas na camisola da Virgem Maria e em gel para o cabelo
Dois jogadores do “outro mundo”, José Macia, mais conhecido como “Pepe” e Evair Aparecido Paulino, apelidado de “Matador”, apadrinham a final, transportando o troféu.
Ao serviço do Santos, Pepe anotou 403 golos, um total que o consagra como o segundo melhor marcador do Peixe, atrás do Rei Pelé, e conquistou a Copa dos Libertadores em 1962 e 1963.
126 golos contabilizados e goleador-mor nos anos 90, “Matador” foi um dos heróis a sacudir as redes na conquista do Palmeiras, em 1999.
O supersticioso Cuca, com penteado de gel e t-shirt da Virgem Maria a servir de superstição divina, vencedor da Copa em 2013 (Atlético Mineiro), enfrentará, na sua segunda final, um dos seus antigos clubes com o qual se sagrou campeão do Brasileirão, em 2016, colocando fim a um jejum de 22 anos.
Ocupando o 10º lugar na tabela, os alvinegros, assumem-se como o underdog da final. Exatamente o mesmo estatuto assumido na meia-final, frente aos argentinos do Boca Juniores. Antes desse jogo, foi-lhe atribuído “4% de hipóteses” de chegar ao jogo decisivo. A numeração viria a ser usada para incendiar a motivação dentro e fora do balneário através da inscrição “4% de hipóteses e 96% de fé”. Resultou.
Já em relação ao 5.º classificado na competição doméstica, a nível nacional, o Verdão do português Abel, já conquistou o Paulistão, em agosto e está na final da Taça do Brasil, a disputar no próximo mês, frente ao Grémio. Hoje, pode levantar a Libertadores frente ao atual 10.º classificado e rival estadual.
Um triplete em expectativa, numa das mais imprevisíveis competições desportivas. É como se o West Ham ou Aston Vila, Villareal e Celta de Vigo ou Borussia Mönchengladbach e Estugarda, respetivamente 5.º e 10.º classificados dos campeonatos inglês, espanhol e alemão, disputassem o último jogo da Liga dos Campeões.
No Maracanã, a final da Taça dos Libertadores da América de 2020, é a primeira final, e jogo, rm que os dois emblemas de São Paulo se defrontam no mítico palco. E será a terceira final entre os dois rivais paulistas desde 2015. O Santos triunfou, nesse ano, na final do Campeonato Paulista, vingando-se o Palmeiras, no jogo da Taça do Brasil.
A réplica de um troféu de 10 kg e um anel para o melhor jogador
O troféu, entregue ao vencedor da competição sul-americana, tem 10 kg de peso e 99 cm de altura, medido da base à cabeça do jogador (em bronze) colado em cima da bola.
Os 60 anteriores vencedores estão perpetuados na base de madeira. Um espaço onde ficam a faltar três placas para preencher a totalidade do troféu criado no Peru, em 1959.
Ganhe quem ganhar, uma certeza já se sabe à partida. O vencedor ergue, desde 2007, uma réplica da taça que simboliza a glória eterna. A original, feito de prata, permanece no museu da Conmebol, em Assunção, no Paraguai, e nem ao estádio se desloca.
Só dois clubes, por sinal, argentinos (todos juntos somam 25 títulos), vencedores em três ocasiões seguidas, orgulham-se de tê-la nas respetivas vitrinas museológicas: o Estudiantes, entre 1968 e 1970 e o Independiente, após quatro títulos, entre 1972 e 1975. Este último, conhecido como o Rei de Copas, venceu todas as sete edições em que foi finalista (1964, 1965, 1972, 1973, 1974, 1975 e 1984) e é o clube com mais títulos na Libertadores.
Os uruguaios Nacional e Peñarol, ambos com 48 entradas no torneio, são os clubes com mais participações na prova. No lado do Brasil, Grêmio, Palmeiras e São Paulo são os emblemas com mais participações (20, no total).
Sem receitas de bilheteiras para os clubes, a Conmebol premiará o vencedor da Libertadores com uma quantia superior a 12 milhões de euros (aproximadamente 80 milhões de reais), o maior prémio alguma vez atribuído. Ao vice-campeão cabe um quinhão de aproximadamente, cinco milhões de euros.
O melhor jogador do torneio vai para casa com um anel personalizado com pedras preciosas, desenvolvido em homenagem ao Estádio Maracanã. 30 gramas de ouro, 131 diamantes, uma safira amarela, uma esmeralda e a inscrição “Best of the Tournament Conmebol Libertadores”.
Comentários