“Temos de momentos dois jovens em vias de poder participar nos Jogos Olímpicos de Tóquio2020. Estariam ambos já nas fases de qualificação se não tivesse havido a pandemia, mas continuam no programa, segundo a informação do Comité Olímpico Internacional (COI). Continuam a integrar a possível equipa, contudo precisam de mínimos para se qualificar”, esclareceu a responsável pelo projeto do Comité Olímpico de Portugal (COP).
Maria Machado, coordenadora do projeto “Viver o desporto, abraçar o futuro”, que o COP promove desde 2016 e que nestes anos já envolveu entre “1.200 a 1.400 refugiados”, acredita que os dois jovens têm “grande potencial” para cumprirem o sonho olímpico em Tóquio2020.
O COI permitiu, pela primeira vez, que uma equipa de refugiados de todo o mundo competisse no Rio2016, desafio bem-sucedido e que agora se repete nos Jogos Olímpicos que se irão disputar no verão de 2021.
Várias condicionantes impediram Portugal de ser representado nessa delegação no Brasil, no entanto, agora, há a “grande esperança” de que Farid Walizadeh e Dorian Keletela - que devido à covid-19 estão a treinar sozinhos, mas orientados - façam história no desporto solidário em Portugal.
Na altura em que a crise de refugiados na Europa se fez sentir de forma mais severa, o COP avançou para a ideia “que pretende utilizar o valor social do desporto para integração dos refugiados na sociedade portuguesa”.
“O programa não se destina exclusivamente a atletas, tem a intenção da integração. Desde 2016, a ideia é que todos os refugiados, independentemente do género, idade, origem, participem. O objetivo era proporcionar-lhes atividade desportiva para se poderem integrar na comunidade portuguesa”, reforçou em declarações à agência Lusa.
Maria Machado diz que o “Viver o desporto, abraçar o futuro” já ajudou “a grande maioria, 65% dos refugiados chegados a Portugal, sobretudo os mais jovens e do sexo masculino que gostam de jogar futebol”, revelando que os que “sobressaem passam a ter uma relação diferente com o desporto”, podendo construir uma carreira a partir das suas aptidões.
O “Viver o desporto, abraçar o futuro” tem contado com a ajuda de federações, clubes, diversas empresas e instituições, que assim permitem aos refugiados uma melhor inclusão, que no desporto tem passado ainda pelo basquetebol, andebol, natação, taekwondo, artes marciais e kickboxing.
“A ideia não é criar equipas de refugiados, mas que estes se integrem em equipas, em colaboração com as federações, clubes, diversas instituições e parceiros”, esclareceu.
O orgulho do COP é ainda maior quanto à história do jovem afegão Farid que, depois de anos de superação face a inúmeros obstáculos de vida, chegou a Portugal sem ‘arranhar’ uma única palavra da língua e neste momento já está no ensino superior a cumprir o sonho da arquitetura.
“Não sabia uma palavra de português e já está no primeiro ano na Universidade de arquitetura. É um orgulho. História de resiliência e vida incríveis. Mesmo que não vá a Tóquio2020, já é uma história de sucesso e o desporto já tem uma quota parte importante de contributo para isso”, concluiu.
Dorian Keletela diz que desporto mudou a sua vida
“[Os outros refugiados] têm de acreditar nos seus talentos. Não há impossíveis na vida. Basta estarem focados nos seus objetivos. O programa facilitou a minha integração em Portugal. Por exemplo, neste momento estou a aprender a falar português e já o compreendo muito bem”, enaltece o atleta.
Em declarações à Lusa, Dorian elogia as virtudes do programa “Viver o desporto, abraçar o futuro” desenvolvido pelo COP, apoiado pela Solidariedade Olímpica do COI, que no Rio2016 estreou a inclusão nos Jogos de uma equipa de refugiados.
“O programa mudou muito a minha vida. Esta bolsa olímpica ajuda-me muito. Neste momento, tenho condições para treinar e ser um atleta de alta competição”, congratula-se o velocista que cedo ficou órfão.
Dorian, que depois de ficar sem pais ficou a viver com uma tia, alvo de perseguição política no Congo, veio sozinho para Portugal aos 17 anos. Conhecer o treinador Carlos Silva, do Sporting, abriu-lhe novos horizontes, a ponto de estar na equipa dos que, a nível internacional, vão lutar pelo apuramento para Tóquio2020 entre os refugiados.
“Ir aos Jogos Olímpicos é um sonho. É algo enorme. É um sentimento que não tem descrição. É algo imenso”, sublinha.
O congolês recorda que foi por intermédio de Carlos Silva que teve “acesso a poder discutir uma ida aos Jogos Olímpicos através do estatuto de refugiado”, destacando a iniciativa do seu técnico em contactar o COP, que posteriormente enviou o processo para o COI, que o validou e lhe atribuiu bolsa.
“Quando cheguei a Portugal, não tinha ideia de praticar atletismo. Foi quando cheguei ao gabinete de refugiados que perguntei se podia praticar desporto e foi através deste gabinete que conheci o Carlos Silva”, conta.
A pandemia da covid-19 adiou a concretização do sonho olímpico, além de “complicar muito a preparação”, já que o atleta ficou “sem instalações ou meios para treinar”.
“Estou a fazer alguns treinos no alcatrão e em subidas para ganhar resistência física, mas, ao nível do desenvolvimento muscular, não é a mesma coisa que trabalhar com os instrumentos necessários”, lamenta o exilado político.
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