A visita do líder Manchester City a Londres, para defrontar o Tottenham, era um dos pratos fortes da semana passada da principal competição de futebol de terras de Sua Majestade. E o que é um facto é que o jogo não desiludiu: emoção, intensidade e um “baile” do clube de Londres aos comandados de Pep. Os motivos para uma vitória tão convincente são vários e explicamo-los de seguida.

Primeiro, a ‘tração’ do onze de Pochettino. São poucos os jogos em que podermos assistir ao que aconteceu no fim de semana passado. Os jogadores do Tottenham não deixaram de lutar por uma bola que fosse durante os noventa minutos. Em cima do adversário em todos os lances, foram raríssimos os momentos em que o City foi capaz de acalmar o jogo. Quer a defender, quer a atacar, a intensidade dos Spurs foi o fator mais determinante para a vitória por dois golos. Consequentemente, Victor Wanyama - o homem que veio do Southampton no início da época para dar músculo ao meio campo londrino - foi o elemento-chave dessa estratégia. A sua capacidade física, que lhe permite “encher o campo”, deixou os jogadores do City sem soluções e sem perceberem bem o que se estava a passar durante o jogo.

Em segundo lugar, a superioridade numérica. Ao longo de todo o jogo, o Tottenham recorreu a superioridades numéricas constantes à volta da bola (como que dando a provar aos comandados de Guardiola um pouco do seu próprio veneno). O City acabou por não conseguir ter posse de bola durante largos períodos de tempo e isso levou a que não conseguisse ‘sacudir’ a pressão efetuada pelo clube da casa. Colocar o líder da Premier League numa posição em que não tinha estado até ao momento foi a estratégia de Pochettino e, diga-se, resultou na perfeição. Tanto a defender como a atacar, as constantes vantagens numéricas tornaram o campo demasiado “pequeno” e “apertado” para os Citizens terem o habitual controlo sobre a partida.

De notar ainda a constante liberdade de posicionamento de jogadores como Dele Alli, Christian Eriksen, Érik Lamela e Son Heung-min quando os Spurs atacavam, e de um pormenor a defender que ajudou a empurrar o primeiro classificado da liga às cordas de forma extremamente eficaz: sempre que o City lateralizava o jogo, a pressão era “sufocante”. Com a ajuda de Kyle Walker ou Danny Rose, (dependendo da ala em questão), juntamente com Wanyama (primeiro a socorrer quem quer que fosse onde quer que fosse), Alli (na esquerda) ou Sissoko (na direita), o Tottenham  “asfixiou” os jogadores do City, tornando quase impossível para a equipa de Manchester ter a bola no pé, encontrar soluções, “virar” o jogo ou até recuar e aliviar a pressão recorrendo a Claudio Bravo. A estratégia normal de Guardiola foi, assim, anulada.

O terceiro aspeto decisivo prende-se com as “loucas correrias” para o ataque. Por vezes de forma pensada, outras apenas com o “coração”, sempre que o Tottenham encontrava uma brecha de espaço, três, quatro ou cinco jogadores criavam as vantagens numéricas acima referidas. Recorrendo a combinações, jogadas individuais ou explorando espaço nas costas da defesa do City, foram capazes de colocar a defesa do clube de Manchester à beira de um ataque de nervos.

Nestes dois últimos aspetos, nota-se com clareza a influência do treinador argentino Marcelo Bielsa – de alcunha El Loco - na filosofia de Pochettino. O treinador dos Spurs foi comandado por Bielsa, tanto no Newell’s Old Boys da Argentina (de 1990 a 1992), como na própria seleção albiceleste e a influência de El Loco em Pochettino é evidente, principalmente quando se trata da energia com que a equipa transporta para o terreno e da forma ‘extrovertida’, dinâmica e constante com que sai para o ataque.

Por último, um fator que, não tendo tido influência no resultado do jogo contra o City, poderá, noutros embates, custar alguns dissabores à equipa do norte de Londres. Falo da gestão do jogo e da falta de capacidade de reter a bola nos últimos 10/15 minutos da partida. O City era, nessa altura, uma equipa derrotada, sem soluções e sem grande esperança de renascer para o jogo. Não obstante, o Tottenham continuava a explorar desenfreadamente o ataque, deixando o jogo “aberto” - no sentido em que a bola andava constantemente perto de ambas as balizas -, e recusando-se a recuar as tropas, gerindo o resultado e a posse de bola. Isto levou a que o City tivesse chances para reduzir a desvantagem com poucos minutos para jogar, e se tal tivesse acontecido, poderíamos estar aqui a falar de outro feito que não a vitória do Tottenham por 2-0.

Os comandados de Mauricio Pochettino foram claramente superiores em todos os aspetos do jogo, mas o que aconteceu nos últimos dez minutos poder-se-á refletir na reta final da época. Sem conseguir controlar o final das partidas, “descansando” com bola, “guardando” os três pontos e gerindo física e mentalmente os jogos, o Tottenham poderá não chegar ao fim do campeonato com o discernimento físico e mental necessário para lutar, quem sabe, pelo primeiro lugar da liga. Rever e trabalhar esse aspeto do jogo dará ao Tottenham de Pochettino mais e melhores hipóteses de surpreender o mundo do futebol e arrebatar a mais desejada liga do mundo. Principalmente quando, este ano, o Tottenham se vê envolvido numa das competições mais exigentes do mundo: a Liga dos Campeões.

Na próxima jornada, que terá início apenas no dia 15 de Outubro devido à paragem para jogos das seleções nacionais, temos o Chelsea a receber o campeão Leicester ou o Everton a visitar o City (desejando evitar a todo o custo pagar a fatura após esta semana infeliz para os pupilos de Guardiola). Mas o jogo grande da jornada está reservado para a segunda-feira, dia 17 de Outubro. Trata-se de um sempre empolgante Manchester United-Liverpool com Klopp a querer tornar o início de época de Mourinho um pouco mais difícil.

Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Neste momento a representar a academia do Luton Town, o Pedro deseja fazer aquilo que nenhum outro treinador português fez, ir do 4º escalão das Ligas Inglesas até ao estrelato da Premier League. Até lá, podemos sempre ir lendo as suas crónicas.