O Vitória Futebol Clube escolhe hoje um novo presidente e uma nova direção entre as três listas de candidatos que querem assumir a liderança do emblema sadino. Fundado a 10 de novembro de 1910, o clube que não se assume como “Grande”, mas sim como “Enorme”, assiste, talvez, às eleições mais importantes da sua história centenária.
Caído no Campeonato de Portugal, a disputa pela cadeira do Vitória de Setúbal despertou a vontade de Vítor Hugo Valente, antigo presidente, “com mais 15 anos de direções”, de alguém que ajudou a resolver “os problemas financeiros de diversas direções” (Paulo Rodrigues), o primeiro candidato a dar a cara, e de um ex-árbitro e empresário de futebol, conhecedor do “clube como poucos”, conforme confidenciou Nuno Soares.
Unânimes em qualificarem estas eleições como as mais importantes do clube depois de uma “descida para lá dos infernos”, todos acenam com uma mão investidora para colocar o Setúbal no lugar que lhe é devido: o principal escalão do futebol português. Uma subida à Liga NOS, feita no campo, ou por via administrativa através do recurso jurídico no qual todos depositam fé.
A venda do capital da SAD está em cima da mesa em todas as listas, assim como o namoro com os antigos sócios e com a cidade, uma relação que definhou ao longo dos últimos anos.
O SAPO24 falou com os três candidatos.
Paulo Rodrigues: “Apelo às sócias que façam a diferença”
Paulo Rodrigues, sócio nº6494, Lista B, apresenta-se como alguém que sempre ajudou financeiramente o clube. “Já ajudava o Vitória com outros presidentes. De Paulo Gomes a Fernando Oliveira”, relembra no início de conversa. “A questão financeira é um problema crónico. Na altura da inscrição na Liga, ajudava sempre o clube a arranjar o financiamento. Ajudei sempre os problemas financeiros de diversas direções”, reforça o primeiro candidato a apresentar-se a escrutínio.
Depois de se assumir como uma mão invisível, critica o amadorismo vigente e reconhece ter chegado a altura de “assumir a candidatura”, em especial num momento em que a instituição setubalense “necessita de mais ajuda”.
Caso seja eleito, no imediato pensará no Campeonato de Portugal, mas na mira está o regresso à I Liga. “Pode ser por via do recurso e aqui temos um dos melhores advogados (Luís Miguel Henrique, advogado de Jorge Jesus) para nos ajudar”, referiu. “Os setubalenses e os portugueses querem o Vitória na I Liga”.
Assente nas siglas, “Verdade. Trabalho. Futuro”, o empresário promete recuperar o número de “perto de 25 mil” associados sadinos. “Apelamos aos sócios e às sócias que venham e apareçam. Elas podem fazer a diferença, podem dar um não às más gestões anteriores”, desafia. “Queremos ter os sócios com clube. As últimas direções fizeram tudo para que a cidade, sócios, adeptos ou famílias não estivessem com o clube”.
Vítor Hugo Valente: “O clube necessita de um investidor”
“O Vitória atravessa a pior crise de sempre. As eleições são as mais importantes de sempre. Uma coisa está ligada à outra”, dispara Vítor Hugo Valente, antigo presidente, entre dezembro de 2017 e janeiro de 2020 (antecedeu a Paulo Gomes) e sócio 850.
Com trabalho desenvolvido “há quase 15 anos nas direções”, não se lembra de eleições “com cinco ou três candidatos”. Um dado que demonstra “desunião”, atesta. “Enquanto não houver união, o clube não vai para a frente”, avisa.
O investimento é a palavra-chave. “Em janeiro, apresentei um investidor com Luís Campos e os sócios não quiserem. Agora é mais urgente. O clube necessita de um investidor”, avisa. “Quem quer colocar um fim à SAD, põe fim ao clube”, alerta.
Sobre as críticas aos investidores é muito claro. “A ideia dos investidores aparecerem para ficar ricos... já têm de ser ricos”, atira. “Onde estamos necessitamos de 3 milhões de euros. O retorno é zero. No ano seguinte, se subirmos, poderemos ter 600 mil euros de patrocínios. Chegados à primeira divisão, demora muitos anos a recuperar o investimento”, antecipa o candidato da Lista A.
Vítor Hugo Valente pega no lema de campanha - “Um Vitória com futuro, um Vitória de primeira” – e reitera desejar um “Vitória de primeira para a SAD e para o clube”. A questão da maioria da venda do capital da SAD é uma questão fulcral para o anterior presidente, agora candidato. “Quem é que mete dinheiro se não for para ter a maioria da SAD?”, questiona.
Nuno Soares: “O Setúbal caiu para lá do inferno”
Esteve para apoiar outros, mas acabou por avançar. Nuno Soares tentou “reunir interesses”, mas não surgiu nenhum rosto e, por isso, encabeça a Lista C “Alma e Futuro”.
“Nunca fui dirigente ou candidato, mas conheço o Vitória como poucos”, remata. “As pessoas não se revêm em quem já perdeu eleições e noutros que podem ter conhecimentos, mas que não conhecem o Vitória como eu”, reforça.
O mundo do futebol não é estranho ao último candidato a apresentar lista. “Fui árbitro de futebol e empresário FIFA. Vivi nos dois lados”, descreve. “Já ajudei o Vitória, mas nunca como um negócio”.
Para o clube sadino, Nuno Soares considera a “formação com o pilar do clube, é prioritária. Tem de ter condições que não tem agora”.
Diz ter “soluções concretas para futuro imediato, estruturadas e com os pés assentes na terra”. Uma solução que passa pelo regresso ao lugar de onde desceu. “O Setúbal caiu para lá do inferno”, lamenta. “Queremos voltar à primeira divisão, seja via administrativa ou desportiva. Estão preparados para os dois cenários”, antecipa o antigo árbitro.
“Temos financiadores e parceiros para a SAD. Investidores diferentes que querem situações diferentes. Temos os dois”, garante. “Ninguém sério entra sem ter auditoria. E qualquer solução só passa em Assembleia-Geral”, finaliza.
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