José Mourinho passou cerca de seis anos ao serviço do Chelsea. É o treinador mais titulado da história do clube, o quarto que mais vezes se sentou no banco e as suas histórias cruzam-se. Por isso, é sempre especial quando Mourinho e Chelsea se apresentam em diferentes lados da barricada, algo que já aconteceu por nove vezes (entre Premier League, Taça de Inglaterra e Liga dos Campeões), com quatro vitórias para Mou, quatro para o Chelsea e um empate, curiosamente registado na última partida em que o técnico setubalense defrontou os Blues ao serviço do Manchester United.
Foi isso que aconteceu esta tarde em Londres, quando o Chelsea se deslocou ao campo do Tottenham para mais um dérbi da capital inglesa que, no fundo, era muito mais que isso. Para além da luta na tabela classificativa (Spurs e Blues estavam separados por três pontos, com vantagem para os últimos), de mais um confronto entre o treinador português e o "seu" Chelsea, havia ainda a curiosidade de assistir, pela segunda jornada consecutiva, a mais uma disputa entre o técnico português e uma equipa treinada por um seu ex-jogador. Se na semana passada foi Nuno Espírito Santo e o Wolverhampton — jogo que o Tottenham venceu mesmo em cima dos 90 minutos —, desta vez era Frank Lampard, uma espécie de extensão de Mourinho em campo aquando da sua passagem pelo Chelsea.
Por tudo isto, e mesmo que na antevisão da partida Mourinho tenha dito que este reencontro era apenas "um jogo", a verdade é que era muito mais.
E logo aos 12 minutos Willian, avançado brasileiro que Mourinho contratou ao Anzhi aquando da sua segunda passagem pelos Blues, foi tudo menos "meigo" para a equipa do homem que o resgatou ao futebol russo há pouco mais de seis anos. Num canto batido à maneira curta, o internacional canarinho recolheu a bola, partiu para cima de Aurier e, depois de entrar na área, rematou em arco para fazer um grande golo e abrir o marcador.
Quando nos aproximávamos do final da primeira parte — e porque um dérbi é sempre um dérbi, mesmo que estejamos em Inglaterra e na Premier League, onde os sangues latino-efervescentes costumam estar arrefecidos — houve ainda tempo para o chamado "sururu": Dele Alli acabou uma jogada às cavalitas de Kovacic, os dois jogadores acabam caídos no relvado e a trocar palavras que provavelmente não poderão ser reproduzidas em horário nobre, e a coisa esquentou ainda mais quando das palavras se passaram aos atos, mais concretamente a puxões e empurrões entre os intervenientes e mais um quantos jogadores de ambos os conjuntos. Resultado? Amarelo para os dois atores principais e segue jogo, que daqui a nada é hora de ir para o intervalo.
Contudo, ainda antes do apito que terminaria com os primeiros 45 minutos de jogo, Willian prolongou a "traição" à equipa do homem que um dia disse ter sido o melhor treinador que já teve — foi em agosto do ano passado e existiam rumores de que o Manchester United queria resgatar o brasileiro ao Chelsea para o voltar a reunir com Mourinho. Se bem que esta segunda fase da traição foi perpetrada a meias com Gazzaniga, guarda-redes dos Spurs que, num golpe karateco-inexplicável (sim, às vezes também se inventam palavras em crónicas, não perceberam pelo "latino-efervescentes" lá em cima?) atingiu Alonso dentro da área, permitindo a Willian bisar na partida através da marca de penálti e levar o Chelsea a vencer por 2-0 ao intervalo.
O reatamento trouxe Christian Eriksen, que termina contrato no final da temporada e que tem sido constantemente dado como tendo um pé fora do Tottenham, numa tentativa de dar mais critério ao ataque dos Spurs, algo que a dupla Sissoko-Dier (foi este último a sair) não estava a conseguir. E a verdade é que o Tottenham tomou conta do jogo e dos primeiros minutos do segundo tempo, ainda que o Chelsea tenha visto um golo anulado por fora-de-jogo de Tammy Abraham.
Contudo, este não era o dia de Mourinho e dos seus Spurs, que aos 62 minutos viram Son Heung-min ser expulso por vermelho direto numa jogada que envolveu Rudiger, o sul-coreano e um pé mais levantado depois de uma queda. O vermelho, para além de colocar o Tottenham a jogar com menos um, teve ainda o condão de irritar os adeptos da casa, que arremessaram objetos na direção da baliza de Kepa (guardião do Chelsea), obrigando o árbitro a parar o encontro durante algum tempo.
Percebendo as dinâmicas da partida, Frank Lampard foi ao banco buscar Jorginho, que substituiu o já amarelado Kovacic, não fosse a nunca-falada-mas-não-raras-vezes-usada "lei da compensação" entrar em jogo e, depois da expulsão de Son, afetar um jogador dos Blues. Mourinho, por outro lado, respondeu lançando Danny Rose e Ndombele por Verthongen e Lucas Moura, numa tentativa de reorganizar a equipa depois da expulsão e tentar um último assalto à baliza dos Blues.
Batshuayi e Reece James também entraram no Chelsea, para substituir Tammy Abraham e Azpilicueta, num momento em que o jogo e, nas imagens que estavam a ser mostradas na televisão, foi possível ver o central Antonio Rudiger a queixar-se de insultos racistas vindos da bancada.
Até final, os Blues foram gerindo a vantagem e superioridade numérica, num jogo em que pareceram sempre melhores que a equipa de José Mourinho e onde podiam ter vencido por mais, caso Batshuayi (depois de receber um passe incrível de Willian) tivesse a pontaria mais afinada no remate que, perto do fim, passou a rasar o poste de Gazzaniga. Com esta vitória, o Chelsea consolida o 4.º lugar do campeonato, aumentando para seis pontos a vantagem sobre o Tottenham, que termina a jornada na 7.ª posição.
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