“Nos últimos dois anos, a ACT realizou mais de 40 intervenções inspetivas nas quais foram adotados procedimentos contraordenacionais por infrações” de sete tipos, pode ler-se em respostas da entidade a questões enviadas pela agência Lusa.
Os procedimentos contraordenacionais foram abertos em matérias relacionadas com “prática de coação e substituição de trabalhadores grevistas”, “cedência ilícita de trabalhadores entre a Ryanair e a Crewlink Ireland [empresa de trabalho temporário de tripulantes], uma vez que esta última não se encontrava licenciada para o efeito” ou “trabalho prestado à Ryanair por trabalhadores temporários para além dos limites legalmente estabelecidos”.
A Autoridade para as Condições do Trabalho abriu ainda processos por infrações relacionados com o “incumprimento do período mínimo de férias legalmente previsto e que é de 22 dias úteis em cada ano”, com a “falta de pagamento do subsídio de férias e de Natal”, com “descontos no montante da retribuição em violação da lei, falta de pagamento pontual da retribuição” e “falta de contratualização do horário de trabalho”, e ainda “falta de seguro de acidentes de trabalho”.
“Foram igualmente efetuadas as devidas participações crime ao Ministério Público relativamente às situações verificadas de coação e substituição de grevistas, bem como outras à Segurança Social e Autoridade Tributária, no âmbito das respetivas competências”, pode ler-se nas respostas enviadas pela ACT à Lusa.
A autoridade assinalou ainda que “acompanha a situação laboral nas várias entidades do grupo Ryanair [que não estão formalmente associadas] realizando intervenções inspetivas, interpelando as entidades empregadoras e contactando com os trabalhadores e com o Sindicato Nacional do pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) sempre que se justifica ou (…) é solicitado, com o objetivo de assegurar o cumprimento da legislação laboral”.
Em entrevista telefónica à Lusa divulgada hoje, o diretor de recursos humanos da Ryanair, Darrell Hughes, afirmou que a empresa paga os subsídios de Natal e férias em Portugal desde janeiro de 2019 mensalmente, e que se não faz o pagamento do salário anual em 14 meses é por escolha dos trabalhadores.
“O SNPVAC parece pensar que com a transição para a legislação laboral portuguesa se tem de pagar às pessoas mais dois salários. Não é assim, é o salário anual pago em 14 meses em vez de dividido por 12″, disse Darrell Hughes à Lusa.
O sindicato acusa a empresa de “nunca” ter pago subsídios de Natal e férias desde que está em Portugal, juntamente com a Crewlink, empresa de trabalho temporário que emprega alguns dos tripulantes da companhia aérea irlandesa.
Darrell Hughes disse também à Lusa que a empresa já fez os descontos de trabalhadores que estavam em falta à Segurança Social, dizendo que se tratou de um erro administrativo da empresa.
A Ryanair desregulou o regime de escalas habitual à “pequena minoria” de trabalhadores que recusou os cortes da empresa na sequência da pandemia de covid-19, retirando-lhes qualquer direito a bónus, segundo documentos a que a Lusa teve acesso.
Na entrevista à Lusa, o diretor da Ryanair Darrell Hughes referiu que se tratava de um comportamento apropriado por parte da empresa, quando questionado sobre o tema.
“Claro que vemos isso como comportamento apropriado. Há uma pequena minoria de pessoas que não assinaram os acordos de poupança de custos, e estão a ser empregados conforme os seus contratos de trabalho, o que significa que estão a ser pagos de acordo com os contratos existentes e escalados de acordo com os contratos existentes”, respondeu o diretor de recursos humanos da Ryanair.
O SNPVAC já anunciou, na semana passada, que irá processar a companhia processar a Ryanair por assédio laboral e discriminação, exigindo também a restituição de créditos laborais.
Segundo o dirigente sindical Diogo Dias, os trabalhadores “a sofrer uma discriminação gravíssima, onde lhes retiraram o padrão do ‘roster’ [escala]”, estando “a voar menos de 10 horas, quando o normal seria entre 70 a 80″, não acontecendo o mesmo com quem assinou os cortes.
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