“A recente revisão em baixa do rating da Zâmbia pode desencadear uma série de ‘defaults’ na África subsaariana, onde vários país enfrentam pressões agudas de liquidez e níveis de dívida muito altos, e onde o peso da dúvida subiu abruptamente na maioria dos países durante a última década”, dizem os analistas.
Numa nota enviada aos investidores, e a que a Lusa teve acesso, os analistas desta agência de rating detida pelos mesmos donos da consultora Fitch Solutions apontam que “para além da Zâmbia, em C, a Fitch avalia quatro países da região no nível CCC, indicado que o ‘incumprimento financeiro’ é uma possibilidade real”, e pormenorizam que esses países são Angola, República do Congo, Gabão e Moçambique, todos com uma nota de CCC, abaixo da recomendação de investimento.
“Os ratings de Angola e Gabão foram revistos em baixa em setembro e abril, respetivamente, Cabo Verde está em B- com Perspetiva de Evolução Estável, e outros seis estão no nível B”, acrescenta-se na nota
A Fitch desceu o rating da Zâmbia na semana passada, considerando que “a suspensão dos pagamentos dos juros sobre as três emissões de dívida, conforme pedido na ‘solicitação de consentimento’ enviada aos credores privados pelo Governo em meados de setembro constituiria uma troca problemática de dívida, que, se aprovada, faria o rating descer para ‘Default Seletivo'”, explicam.
A pandemia de covid-19 e a descida da procura mundial, a que se junta a queda do preço das matérias primas, atirou muitos países africanos para uma crise económica, que é particularmente grave em África devido ao alto nível de endividamento da generalidade dos países.
“Este ano já houve um número recorde de ‘defaults’ de países, incluindo o Líbano, o Equador, o Suriname e a Argentina”, diz a Fitch Ratings, notando que em África “a percentagem de países em que o rácio do pagamento de juros face às receitas é superior a 30% é agora maior do que antes das iniciativas de redução da dívida que aliviaram as finanças destes países durante os anos 2000″.
A Zâmbia foi um dos países que aderiu à Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) do G20, que defende que os credores privados devem participar em termos semelhantes, mas que não torna isso obrigatório no acordo que já foi pedido por 46 países, cerca de 30 deles africanos.
“Se os países pedirem a suspensão do serviço da dívida aos credores privados, isto pode qualificar-se como uma ‘troca problemática de dívida’ e levar à revisão do ‘rating’ para Default Seletivo”, concluem.
África registou mais 141 mortos devido à covid-19 nas últimas 24 horas, subindo para 35.440, e quase mais dez mil casos, para um total de 1.459.714 infetados, segundo os dados mais recentes sobre a pandemia no continente.
De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), nas últimas 24 horas houve nos 55 Estados-membros da organização mais 9.666 casos da doença e 5.840 recuperados, para um total de 1.205.671.
O primeiro caso de covid-19 em África surgiu no Egito, em 14 de fevereiro, e a Nigéria foi o primeiro país da África subsaariana a registar casos de infeção, em 28 de fevereiro.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de um milhão de mortos e mais de 33 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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