“Foi uma reunião profícua porque conseguimos explicar às pessoas o compromisso que o Governo assumiu, de apresentar uma solução até ao final do mês de dezembro. Tivemos a perceção real que as pessoas estão ansiosas para que a solução seja materializada e que acreditam que é desta, mas, como é lógico, ao fim de tanto tempo só mesmo depois do papel assinado”, afirmou Ricardo Ângelo em declarações à agência Lusa no final da reunião magna, que decorreu em Santa Maria da Feira.
Segundo o responsável, a “perceção” da associação é que cerca de 85% do universo de 2.100 lesados do papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES), adquirido aos balcões do Banco Espírito Santo (BES) poucos meses antes do colapso do grupo, “aceitarão o acordo” que está em cima da mesa, que prevê que recebam 75% do capital investido.
“Depois há cerca de 15% que vão receber entre 50 a 60% [do capital aplicado] e dessas, 5% das pessoas é provável que não aceitem a solução, porque não lhes é apelativa o suficiente”, acrescentou.
De acordo com Ricardo Ângelo, trata-se de um grupo de “cerca de 80 pessoas” com as quais a associação está “solidária”, até porque a decisão de aceitar ou não o acordo “é individual”, mas o facto é que, admite, “melhorar a solução tem sido difícil”.
O facto de o acordo - que está a ser ultimado pelo grupo de trabalho que integra o Governo, o Banco de Portugal (BdP), a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o BES e a associação - prever diferentes percentagens de reembolso face ao capital investido foi, segundo Ricardo Ângelo, o “tema mais quente” da reunião de hoje.
“Há pessoas que, com razão, questionaram porque é que uma pessoa que tem 100 mil e foi enganada da mesma maneira vai receber 35 e uma pessoa que tem quatro milhões não recebe nada… é uma questão difícil de explicar e que não é justa com certeza, mas foi a solução que nos foi proposta e que nós tivemos que acatar, porque seria criminoso inviabilizá-la”, afirmou.
Segundo o representante dos lesados, foi também hoje visível “um descontentamento pelo protelar constante de prazos para uma solução definitiva, mas o facto é que a questão técnica é difícil e todo o processo indemnizatório demora a montar”.
“Tentámos explicar da melhor maneira possível as condicionantes que todo este processo tem. As pessoas compreenderam até determinado ponto, mas ao fim de dois anos à espera de uma solução começam a ter alguma descrença e tem sido difícil controlar os mais radicais, que continuam a querer vir para a rua descredibilizar o Novo Banco e ter atos que não se coadunam com a fase em que estamos neste momento”, disse.
Convicto “que o Governo não vai voltar com a palavra atrás”, Ricardo Ângelo afirmou-se “confiante que os prazos que foram apresentados serão cumpridos” e que, “até ao final de dezembro, estará na mão das pessoas uma solução para minimizar as suas perdas”.
O Governo, o BdP, a CMVM, o BES e a associação têm participado, desde abril, num processo de diálogo com vista a "explorar a possibilidade de encontrar eventuais soluções para minorar as perdas económicas e financeiras sofridas pelos investidores não qualificados" titulares de papel comercial emitido pela Espírito Santo International (ESI) e pela Rio Forte Investments (Rio Forte), subscrito junto do BES, do BEST – Banco Eletrónico de Serviço Total, e do Banco Espírito Santo dos Açores, num total de cerca de 432 milhões de euros.
A solução passa pela criação de um fundo de indemnização que irá adiantar a cada cliente parte do dinheiro perdido, ficando em troca com os direitos judiciais dos processos colocados contra o Grupo Espírito Santo e seus administradores.
Será depois esse veículo que irá continuar com a litigância na Justiça e receber eventuais compensações decididas pelos tribunais.
Em termos agregados, estima-se que do total dos 432 milhões de euros colocados em papel comercial das empresas Espírito Santo International e Rioforte os clientes venham a recuperar entre 250 e 260 milhões de euros.
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