O coordenador de análise e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China, Tulio Cariello, considera que a guerra comercial está a favorecer a entrada dos exportadores brasileiros no mercado chinês: “a China colocou algumas sobretaxas em produtos americanos do agronegócio, o que obviamente abriu um canal de oportunidades gigantesco porque o Brasil, junto com os Estados Unidos e a União Europeia são os grandes exportadores. Este é um dos poucos setores em que o Brasil é um competidor feroz no mercado internacional”.
Por isso, esta crise, acabou por abrir “espaço para o Brasil. Houve sobretaxa em produtos norte-americanos como a soja, carne suína e carne bovina, que dão ao país algumas vantagens”, afirmou.
No entanto, Túlio Cariello salientou que estes benefícios são pontuais já que a guerra comercial trará prejuízos estruturais: “A relação comercial dos Estados Unidos com a China é a mais importante do mundo e isto afeta a economia global”.
Por seu turno, o presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Charles Tang, é mais otimista que Cariello: “O benefício para os países produtores de alimentos, como o Brasil, Argentina e a Austrália já são visíveis e serão ainda maiores no longo prazo porque esta guerra comercial EUA-China, mesmo que haja um acordo agora, também é algo de longo prazo”.
Cariello defende que o Brasil deve aproveitar a oportunidade de expansão no mercado chinês porque está bem posicionado, mas frisou que é muito importante manter a neutralidade, sem declarar apoio à China ou aos Estados Unidos neste embate.
“O Brasil não deve se posicionar na guerra comercial até porque ela já se tornou um conflito que passa pela área da tecnologia e da política”, argumentou.
Já Tang salientou que mesmo que o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, anuncie a intenção de estabelecer relações mais estreitas com os Estados Unidos dada a convergência ideológica com Donald Trump, o país sul-americano não deve esquecer-se da China.
“Quando a China comprar mais soja aos Estados Unidos ela compra menos do Brasil. Quando a China comprar mais soja do Brasil vai comprar menos dos Estados Unidos. Na safra passada, 90% da soja produzida no Brasil foi exportada para a China e o país teve até que comprar soja norte-americana, usufruindo de tarifas vantajosas para abastecer o consumo interno”, lembrou Tang.
“Agora que Bolsonaro se tornou Presidente ele precisa entender que não é a sua preferência pessoal que vai prevalecer, mas sim o interesse da nação brasileira (…) Entendo que a visita que ele fará a China [em outubro] é um sinal positivo. Acredito que a relação do Brasil com a China vai estreitar-se cada vez mais porque Bolsonaro reconheceu que a China é estratégica para o Brasil”, concluiu.
Em 2018, as trocas comerciais entre o Brasil e a China registaram resultado favorável de 29 mil milhões de dólares (26,5 mil milhões de euros) ao país sul-americano, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) brasileiro. De janeiro a agosto deste ano, a China continuou a ser o primeiro destino dos produtos brasileiros com balança comercial indicando crescimento das exportações ao mercado chinês de 27,9%.
O Governo do Brasil apontou que há, neste ano, um saldo positivo da balança comercial com a China de 17,7 mil milhões de dólares (16,1 mil milhões de euros). Já as trocas comerciais do país com os Estados Unidos terminaram 2018 com um défice de 271 milhões de dólares (246,5 milhões de euros).
Nos oito primeiros meses de 2019, os números indicam que as exportações brasileiras aos Estados Unidos atingiram 19,7 mil milhões de dólares (17,9 mil milhões de euros) saltando 13,3%. Porém, neste caso a balança comercial também acumula défice para o Brasil de 351,5 milhões de dólares (319,8 milhões de euros).
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