Em termos trimestrais, Bruxelas aponta para uma recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) português do segundo ao quarto trimestre, quer em cadeia (3,2%, 3,9%, e 1,0% respetivamente), quer face aos mesmos trimestres do ano passado (13,5%, 4,0% e 4,9%, respetivamente).
Em termos anuais, as previsões de um crescimento de 3,9% hoje anunciadas pela Comissão Europeia estão exatamente alinhadas com as do Banco de Portugal (BdP) e as do Fundo Monetário Internacional (FMI), estando uma décima abaixo dos 4,0% esperados pelo Governo e acima dos 3,3% do Conselho das Finanças Públicas (CFP) e dos 1,7% da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
"A economia portuguesa irá crescer novamente a partir do segundo trimestre de 2021, à medida que as medidas para conter a pandemia de covid-19 são gradualmente relaxadas", pode ler-se no texto sobre Portugal nas 200 páginas das previsões económicas de primavera conhecidas hoje.
Bruxelas antecipa ainda que o PIB português deverá chegar ao seu nível pré-crise "a meio de 2022" (ano em que a Comissão Europeia espera um crescimento de 5,1%), algo ajudado pelo Mecanismo de Recuperação e Resiliência (MRR), uma previsão mais otimista do que a do Governo, que aponta para o final do próximo ano.
"A projeção tem em conta um forte crescimento do investimento, ajudado pelo desenvolvimento do MRR. Assume-se que a recuperação no turismo ganhará velocidade no terceiro trimestre de 2021, mas não se espera que o setor tenha atingido o seu nível pré-pandemia no final do horizonte de projeções", ou seja, em 2022.
De acordo com Bruxelas, os riscos para Portugal permanecem, devido à "alta dependência do turismo externo, onde a incerteza acerca do caminho para a recuperação permanece alta".
A Comissão Europeia aponta também que "tanto as exportações como as importações deverão crescer a níveis altos durante o horizonte de projeções, devido sobretudo a efeitos na indústria das viagens".
"O setor externo deverá ter uma contribuição positiva para o crescimento do PIB em 2021 e 2022", e a balança corrente também deverá melhorar, mas "permanecerá ligeiramente negativa", dado que o fluxo líquido de receitas do turismo "deverá permanecer abaixo dos níveis pré-pandemia".
Bruxelas aponta, em 2021, para um crescimento do investimento total de 4,6% e uma inflação de 0,9%.
Bruxelas piora previsões para o défice português mas melhora as da dívida
Comissão Europeia piorou hoje em duas décimas as previsões para o défice português, esperando um saldo negativo das contas públicas de 4,7% este ano, mas melhorou as da dívida pública em três pontos percentuais, para 127,2%.
De acordo com as previsões económicas de primavera hoje divulgadas, o défice português ficará assim duas décimas acima do esperado por Bruxelas no outono passado (4,5%), mas a dívida pública baixa dos 130,3% do Produto Interno Bruto (PIB) esperados anteriormente para os 127,2%.
Quanto ao défice, Bruxelas está mais otimista do que o que o Fundo Monetário Internacional (FMI) (5,0%) e do que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) (6,3%), mas mais pessimista do que o Governo (4,5%) e o Conselho das Finanças Públicas (CFP) (4,1%).
Já relativamente ao rácio da dívida pública face ao PIB, a Comissão Europeia tem as previsões mais otimistas do que a generalidade das instituições, com o Governo a prever 128,0%, o FMI 131,4%, o CFP 131,5% e a OCDE (139,7%).
Para 2022, de acordo com as previsões de primavera hoje divulgadas por Bruxelas, o défice português deverá descer para 3,4%, e a dívida pública para 122,3% do PIB.
No texto dedicado a Portugal, a Comissão Europeia assinala que "o perfil de apoio orçamental deverá moldar as perspetivas do orçamento no horizonte de projeção", assinalando que, "à luz das renovadas restrições do confinamento no primeiro trimestre, as medidas de mitigação da crise foram prolongadas e expandidas".
"Consequentemente, o tamanho do pacote de medidas de política deste ano é agora projetado como sendo de certa forma semelhante às de 2020", mas as transferências do programa REACT-EU e o reembolso das margens pré-pagas de um empréstimo antigo do Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira "devem contribuir para reduzir o défice".
Para o futuro, "a melhoria das finanças públicas deverá ganhar ímpeto em 2022, no meio da retirada das medidas de apoio orçamental e da recuperação económica".
"Esta previsão tem em conta os gastos do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, bem como as subvenções associadas", e os riscos permanecem devido "ao crescimento dos passivos contingentes, derivados das garantias públicas vindas da crise”.
Quanto à dívida pública, a descida dos 133,6% de 2020 para 127,2% e 122,3% dever-se-á sobretudo "aos diferenciais favoráveis entre crescimento e as taxas de juro, devido à melhoria das condições económicas".
Comentários