"O que fez com que me tivesse demitido? Muito simples, eu ia ficar sem equipa. Dos 11 membros do Conselho de Administração demitiram-se sete, e se considerar o Conselho Fiscal, em 15, demitiram-se nove. Sem equipa teria dificuldade em gerir a Caixa", afirmou na audição que decorre na Comissão parlamentar de Orçamento e Finanças.

Domingues disse ainda que poderiam questioná-lo porque não escolheu uma nova equipa, continuando à frente da instituição, respondendo então que a forma como o debate em torno da CGD e da sua equipa foi conduzido não lhe dava condições para se manter no cargo.

"Uma das primeiras responsabilidades do gestor de uma empresa é saber se tem condições para a gerir e eu, no meu melhor juízo, entendi que não tinha condições para o fazer", considerou.

Domingues frisou que quis garantir que a sua renúncia não poria em causa o processo de recapitalização da CGD que hoje se inicia - com a conversão de 900 milhões de euros de obrigações de capital contigente (CoCos) em capital e a entrada da Parcaixa no balanço do banco público -, uma vez que não implicava mudanças na injeção de capital negociada com Bruxelas.

Domingues afirmou que teria gostado de continuar como presidente da CGD, já que foi uma "experiência muito rica", mas acrescentou que perante as mudanças de posição do acionista Estado também tinha direito de ele alterar o seu posicionamento.

"Quando me perguntaram se eu estava zangado eu disse, como se recorda, pelo amor deus', porque o acionista tem direito de tomar decisões e de mudar de opinião. Respeito isso, mas eu tenho direito de me bater pela minha opinião, meus objetivos e minhas responsabilidades", sublinhou.

Domingues apresentou a sua demissão da CGD no final de novembro, a qual foi concretizada a 31 de dezembro passado, depois de um curto mandato marcado por várias polémicas, nomeadamente a sua recusa bem como dos administradores que integravam a sua equipa de entregarem as suas declarações de rendimentos e património junto do Tribunal Constitucional.

A demissão aconteceu depois de uma votação na Assembleia da República que obrigava a equipa de gestão da CGD a entregar as declarações, isto depois de o Governo ter garantido a Domingues - quando o convidou em março para gerir o banco - que não teriam de o fazer, acordando com a não aplicação da regra do gestor público à CGD.

A nova equipa da CGD deverá ser liderada por Paulo Macedo, ex-ministro da saúde do Governo PSD/CDS-PP de Passos Coelho, que aguarda a 'luz verde' do Banco Central Europeu (BCE) para entrar em funções.