
As novas tarifas anunciadas por Donald Trump provocaram uma forte turbulência nos mercados financeiros globais na semana passada, com a maior queda desde a pandemia da Covid-19 em 2020. O plano do Presidente norte-americano de impor taxas alfandegárias entre 10% e 50% a diversos países resultou numa perda estimada de 2,5 biliões (ou trillion) de dólares em Wall Street e noutras bolsas internacionais.
Escreve o The Guardian que a nova política comercial de Trump, apresentada a 2 de abril, no chamado “Dia da Libertação”, ameaça demolir a ordem comercial internacional. Os analistas citados pelo jornal alertam que estas medidas aumentam significativamente o risco de uma recessão global e de uma contração económica nos Estados Unidos.
A palavra-chave? Protecionismo
O novo regime de tarifas estabelece uma taxa mínima de 10% para todos os países que exportam para os EUA. No entanto, as nações com maior défice comercial face aos EUA enfrentam taxas muito mais elevadas.
De acordo com a BBC, Trump justifica as medidas com a necessidade de incentivar os consumidores norte-americanos a comprarem mais produtos fabricados nos EUA, aumentar a receita fiscal e promover investimentos no país. O chefe de Estado quer reduzir a diferença entre o valor das mercadorias que os EUA compram de outros países e o valor das que vendem.
A PwC destaca que as novas políticas tarifárias expandem significativamente o âmbito dos produtos, indústrias e países sujeitos a tarifas em comparação com administrações anteriores. Mesmo bens chineses que anteriormente estavam isentos de tarifas serão afetados pelas novas propostas.
Qual o impacto nas empresas?
A incerteza gerada pelas novas tarifas levou várias empresas a alterar os seus planos. Eis cinco exemplos de empresas que viram os seus negócios afetados, desde IPO suspensas até paragens de produção e adiamentos estratégicos.
1. Klarna – IPO adiada
A Klarna, empresa sueca de pagamentos BNPL (Buy Now, Pay Later), suspendeu a sua oferta pública inicial (IPO na sigla em inglês) planeada, que estava prevista para começar a comercializar ações na semana passada. De acordo com o The Wall Street Journal, a empresa tinha como objetivo uma avaliação de 15 mil milhões de dólares. A Klarna, que oferece os serviços BNPL incorporados nas páginas de checkout online para retalhistas e outros prestadores de serviços, fala em potenciais riscos associados às tarifas.
A CNBC conta que a Klarna não tem uma data definida para quando irá prosseguir com a oferta, mas espera-se que avance quando a maré acalmar.
2. StubHub – Planos de IPO em pausa
A plataforma de venda de bilhetes StubHub também adiou os seus planos de IPO. A ideia era apresentar a empresa aos investidores, mas a incerteza criada pelas tarifas de Trump levou ao cancelamento das reuniões. Segundo o The Wall Street Journal, os responsáveis da StubHub recearam que os investidores não teriam disponibilidade para os encontros neste ambiente de volatilidade.
A CNBC confirma que a empresa, que planeava ser cotada na Bolsa de Valores de Nova Iorque, também não tem uma data para quando irá prosseguir com a oferta.
3. Nintendo – Pré-encomendas da Switch 2 atrasadas
A Nintendo adiou as pré-encomendas da sua nova consola Switch 2 devido a preocupações com as tarifas recentemente anunciadas. Segundo o The Verge, as pré-encomendas não começarão a 9 de abril como planeado, para que a empresa possa “avaliar o potencial impacto das tarifas e a evolução das condições de mercado”.
Apesar deste atraso, a Nintendo mantém a data de lançamento para 5 de junho de 2025.
4. Stellantis – Lay-off e paragem de produção
A Stellantis anunciou o lay-off de 900 funcionários em cinco instalações nos EUA e a suspensão da produção numa fábrica de montagem no México e outra no Canadá, em resposta às tarifas de Trump. A Reuters cita o diretor de operações da Stellantis para as Américas, que afirmou que a empresa está “a continuar a avaliar os efeitos a médio e longo prazo destas tarifas nas operações”.
As ações da Stellantis, que produz localmente apenas metade dos seus veículos vendidos nos EUA, caíram 9,3% na semana passada. Fazem parte da Stellantis marcas como a Jeep, Chrysler, Dodge, RAM e Fiat.
5. Prada – Aquisição da Versace em risco
Há rumores de que a Prada, que estava próxima de adquirir a Versace da Capri Holdings, poderá pausar a negociação até que o mercado se estabilize, segundo o The Guardian. A indústria da moda foi particularmente afetada pelas tarifas, com quedas acentuadas nas ações de várias marcas de luxo. A Burberry viu as suas ações caírem mais de 10%, enquanto a Kering, empresa-mãe de marcas como Gucci e Yves Saint Laurent, também registou uma queda acentuada, assim como a LVMH, cujo portfólio inclui Dior e Louis Vuitton.
E agora?
Os mercados continuam voláteis, e muitas empresas enfrentam decisões difíceis nos próximos tempos. Diz o The Guardian que estas medidas podem reduzir o crescimento económico global para a taxa anual mais baixa desde a crise financeira de 2008, excluindo o auge da pandemia da Covid-19.
Enquanto isso, os vários países estão a avaliar o impacto destas taxas alfandegárias e a considerar retaliações. A China condenou as “práticas de intimidação unilaterais”, e a Comissão Europeia, que detém a competência da política comercial na União Europeia, também já deu conta de que está a preparar uma retaliação.
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