"Estima-se que até ao final do período de vigência da moratória (setembro de 2021), as prestações devidas e não pagas possam ascender a cerca de 15% do stock de empréstimos das empresas (cerca de 11 mil milhões de euros, do qual um terço relativo a prestações devidas até setembro 2020)", pode ler-se no Relatório de Estabilidade Financeira hoje divulgado.
O documento revela que as pequenas e médias empresas (PME), os setores mais afetados pela crise, e as empresas com menor risco de crédito antes da pandemia registaram, "em termos relativos, um maior recurso a medidas de apoio".
"Este resultado reflete, em larga medida, o maior recurso às linhas de crédito com garantia pública, uma vez que o recurso à moratória de crédito foi relativamente homogéneo entre as diferentes dimensões analisadas, o que deverá refletir os critérios de elegibilidade", pode ler-se no relatório.
Segundo o Banco de Portugal, "a adesão à moratória de crédito contribuiu para reduzir as necessidades de liquidez das empresas", sendo que o alívio "temporário do serviço da dívida, que inclui a totalidade do montante em dívida no caso de empréstimos que se venceriam no período da moratória, deverá beneficiar relativamente mais as PME e os setores mais afetados pela crise".
"Entre março e setembro de 2020, cerca de 40% do montante dos novos empréstimos celebrados tinham como contraparte um mutuário que aderiu à moratória", revela o Banco de Portugal, apontando ainda que a adesão às moratórias, em alguns casos, foi "complementado com a contratação de novo crédito, incluindo com garantia pública, para o financiamento da sua atividade corrente".
Já relativamente às famílias, "em setembro de 2020, 17% do total de empréstimos concedidos a famílias encontrava-se em moratória, sobretudo empréstimos à habitação".
"Em setembro de 2020, cerca de 9% dos devedores com empréstimos à habitação e/ou ao consumo tinham empréstimos em moratória. Os devedores que aderiram à moratória em pelo menos um contrato de crédito caraterizam-se por estarem mais endividados, tendo um maior número de contratos de crédito e de relacionamentos bancários", revela também o documento.
No total, entre março e setembro de 2020, o Banco de Portugal estima que "as prestações devidas e não pagas tenham ascendido a aproximadamente 650 milhões de euros", na sequência da implementação das moratórias.
"Até setembro de 2021, e tendo em consideração os diferentes prazos de vigência para a moratória pública e para as moratórias privadas e a hipótese de não existirem saídas voluntárias de moratória, este montante poderá ascender a 2 mil milhões de euros, com cerca de 4% deste montante a corresponder a juros não pagos", refere ainda.
O Relatório de Estabilidade Financeira de dezembro do Banco de Portugal foi hoje divulgado, e identifica seis principais vulnerabilidades e riscos para o sistema financeiro.
Esses são as "reduções abruptas e significativas de valor em ativos financeiros, face a potenciais episódios de volatilidade extrema nos mercados", a "correção em baixa dos preços do imobiliário residencial", ou o "agravamento da dívida das empresas, podendo pressionar a sua solvabilidade".
Foram também identificados como potenciais riscos o "endividamento dos particulares e das Administrações Públicas no médio prazo", o "aumento do nexo entre sistema bancário e setor público, expectativa de aumento dos NPL [crédito malparado] e perspetivas de rendibilidade baixa no setor bancário" e a "desadequação dos estímulos monetários e orçamentais aos diferentes momentos da crise".
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