"O que está a passar vai ter consequências muito complicadas para a economia e para os seus agentes e no meio desses agentes estão os bancos e penso que não podemos, ou não devemos, colocar em cima dos bancos todo o peso de resolução das situações que vêm pela frente, porque vai ser impossível", disse o administrador do BPI, em audição perante os deputados das comissões parlamentares de Economia e de Orçamento e Finanças.

O responsável defendeu que "vários outos agentes têm de vir a terreno dar o seu contributo", caso da União Europeia mas também do próprio Estado, que "terá de ter outra intervenção, outro tipo de iniciativas", até porque para já as garantias bancárias que dá nos créditos bancários às empresas ainda não pesam sobre défice ou dívida pública (passarão a pesar se os bancos as acionarem de futuro face ao incumprimento das empresas).

"Todos temos de ter uma postura e abordagem construtiva face a tudo o que vem pela frente, não vai ser possível o setor financeiro sozinho acudir a todas as situações", acrescentou.

O administrador do BPI questionou se um cinema irá abrir quando se fala de vender bilhetes de duas em duas filas e três em três lugares ou um restaurante para ter 100 lugares (e despesas a essa escala) que só pode servir 20 almoços.

"Estas questões preocupam-nos a todos e isto tem de ser preocupação de todos e não só de uns", afirmou.

O administrador do banco detido pelo grupo espanhol Caixabank disse ainda que os bancos têm de continuar a cumprir as exigências do regulador, nomeadamente rácios de liquidez e de capital, e sobre os rácios de capital terem sido aligeirados recentemente pelos reguladores, disse que isso aconteceu mas que é "momentâneo", pelo que os bancos ou mantêm as almofadas financeiras ou de futuro terão de fazer aumentos de capital.

A partir de outubro, disse, vê com preocupação o que vai acontecer (uma vez que em 30 de setembro acabam as moratórias impostas pelo Governo para crédito à habitação e créditos a empresas), antevendo um aumento do crédito malparado e impacto negativo na rentabilidade.

"Vamos ter de estar disponíveis para estar com clientes que estão connosco há anos, mas mais uma vez não vamos conseguir estar com todos, pelo que - reforço - teremos de estar todos juntos nesta batalha", afirmou.

Sobre o BPI, João Oliveira e Costa disse que o banco prevê um "impacto significativo" desta crise nas provisões e na rentabilidade.

"O BPI tem uma capacidade razoável para acomodar algum nível de imparidades e a rentabilidade vai ser afetada de forma bastante significativa", afirmou.

Também o administrador do BPI Pedro Barreto, que hoje também esteve a responder às questões dos deputados, considerou que as moratórias impostas pelo Governo até setembro "podem não ser suficientes" mas sobre a sua prorrogação disse que provavelmente terá de ser avaliado setor a setor pelo que é normal que "quem tem de decidir queira esperar antes de tomar uma decisão".

"Uma crise desta natureza vai levar ao aumento do crédito vencido na economia, isso parece-me inevitável, infelizmente", afirmou.

Sobre os dividendos referentes a 2019, em que o BPI foi o último dos grandes bancos a informar que ia cancelar a distribuição, João Pedro Oliveira e Costa disse que o banco tardou uma vez que era o único que já os tinha aprovado formalmente, pelo que o seu cancelamento demorou pois obrigou a nova aprovação dos órgãos sociais.

"O tempo que demorámos foi o tempo de organizar e reunir os órgãos próprios para tomar essa mesma decisão", informou.

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