“Temos de cortar os nossos custos de trabalho no curto prazo, mas não de forma pouco razoável. Temos de cortar agora e depois restaurar o pagamento, para tentar manter os postos de trabalho, o mais possível”, indicou Eddie Wilson.
O presidente da Ryanair pretende chegar a um acordo nesse sentido com os trabalhadores portugueses, indicou.
“Temos um sindicato muito vocal, que não conseguiu um acordo com a Ryanair e que parece passar todo o seu tempo com a comunicação social em vez de com a companhia e acho isso lamentável, especialmente tendo em conta que conseguimos concluir acordos na maioria dos outros países europeus”, assegurou.
Indicou ainda que o grupo está “a fazer uma avaliação agora sobre os custos de pessoal e aeroportos e qual a situação de quarentena em Portugal, para decidir quais serão os números do tráfego [que pretende atingir]”.
Eddie Wilson defendeu ainda que a empresa é um “um grande contribuidor para a economia portuguesa”, operando “o ano todo”, e apoiando o turismo e o emprego.
No dia 21 de agosto, o diretor de Recursos Humanos da Ryanair disse, em entrevista à Lusa, que há "uma perspetiva real de cortes selvagens em Portugal" na temporada de inverno em termos de capacidade e aviões, devido à pandemia de covid-19.
"Estamos a enfrentar tempos muito incertos, e há uma perspetiva bem real de cortes selvagens em Portugal este inverno em todas as nossas bases, em termos de capacidade e em termos de aviões", disse o diretor de Recursos Humanos da Ryanair, Darrell Hughes, numa entrevista por telefone à Lusa.
Instado a concretizar e a dar números, o responsável da companhia aérea irlandesa de baixo custo referiu que "há a possibilidade de cortes selvagens em qualquer lado" na operação da empresa na Europa, remetendo para o anúncio já feito de que a empresa iria cortar 20% do seu horário planeado para setembro e outubro.
Darrell Hughes lembrou que a empresa tem um acordo com os pilotos "para manter as pessoas empregadas, o que pelo menos lhes dá alguma proteção", mas afirmou que "não está em modo de recrutamento", mas sim "em modo de sobrevivência e reconstrução".
O diretor da Ryanair disse ainda que, tal como a empresa já tinha adiantado à Lusa, não planeia "usar nenhum pessoal da Crewlink no inverno", numa referência à empresa de trabalho temporário que opera há mais de 10 anos em Portugal e tem como único cliente a Ryanair.
Apoio à TAP é “escandaloso”
O presidente executivo da Ryanair, Eddie Wilson, considera o apoio concedido à TAP, num total de 1,2 mil milhões de euros, de “escandaloso”, chamando-lhe ainda “o maior desperdício de dinheiro de sempre em Portugal”.
“A ideia de que os contribuintes portugueses tenham de pagar 1,2 mil milhões de euros para manter uma companhia aérea que tem uma cor especial na cauda do avião é escandalosa. Não existem transportadoras nacionais, estamos todos na União Europeia”, afirmou o líder da companhia aérea ‘low-cost’ irlandesa em entrevista telefónica à Lusa, mostrando-se confiante no resultado de um processo que o grupo apresentou, junto do Tribunal de Justiça da União Europeia, a contestar esta ajuda.
Eddie Wilson disse ainda que “se o Governo português tem 1,2 mil milhões de euros em trocos para companhias áreas o que devia ter feito era abolir as taxas nos aeroportos portugueses nos próximos três anos e encorajar as companhias aéreas a trazer mais tráfego, o que criaria mais empregos”.
“Esta ideia é escandalosa, antieuropeia e anticoncorrencial e não faz nada para promover o investimento em Portugal”, vincou.
O presidente da Ryanair acredita que “a capitalização da TAP vai ser o maior desperdício de dinheiro de sempre em Portugal e não fazer nada para criar mais rotas e conectividade”.
A Ryanair apresentou, para já, seis processos contra as ajudas às companhias aéreas europeias, incluindo a concedida à TAP.
“O projeto europeu passava por abrir os mercados para que os cidadãos da União Europeia tivessem acesso a preços de alimentação mais reduzidos, a menos custos bancários, a telemóveis e carros mais baratos. Quando chegamos à aviação toda a gente perde a cabeça e diz que tem de ter uma companhia aérea nacional”, lamentou Eddie Wilson, rematando que esta estratégia “vai fazer estragos enormes ao projeto europeu e à credibilidade da Comissão Europeia”.
De acordo com informação oficial a que a agência Lusa teve acesso no dia 27 de agosto, confirmada pela Ryanair, um dos recursos apresentados pela companhia aérea de baixo custo contra autorizações da Comissão Europeia a ajudas estatais à aviação em altura de profunda crise no setor causado pela pandemia diz respeito ao apoio português à TAP e deu entrada no tribunal geral no passado dia 22 de julho.
Esse recurso visa anular a decisão de 10 de junho, quando o executivo comunitário deu 'luz verde' a um auxílio de emergência português à TAP, um apoio estatal de 1,2 mil milhões de euros para responder às "necessidades imediatas de liquidez" dada a pandemia de covid-19, com condições predeterminadas para o reembolso.
De acordo com uma notícia do jornal Público, no caso da TAP, a Ryanair apresentou ao tribunal geral cinco fundamentos legais para tentar anular o apoio estatal, argumentando desde logo que não ficou devidamente definido que "o auxílio de emergência contribui para um objetivo bem definido de interesse comum, adequado e proporcionado, e sem efeitos negativos indevidos" na concorrência.
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