Em entrevista no ‘Jornal da Noite’ da TVI, o ministro das Finanças referiu que, se for possível conter a crise sanitária neste segundo trimestre, “provavelmente” ao fim de “dois anos” a economia estará a voltar a “números não muito longe dos de 2019”, ano em que, pela primeira vez nos últimos 40 anos, o país fechou as contas públicas com excedente orçamental.

Antes, Mário Centeno tinha referido que as estimativas do Governo apontam para uma queda de 6,5% do PIB anual por cada 30 dias úteis em que a economia esteja paralisada devido à covid-19.

"As estimativas que existem e apresentaremos brevemente números nesse sentido estão enquadradas em factos que vão desde 6,5% do PIB anual por cada 30 dias úteis em que a economia esteja, como ela está hoje em Portugal", disse, avisando que este impacto dos 30 dias úteis no PIB (Produto Interno Bruto) "não é linear" e vai-se deteriorando à medida que o tempo passa.

Relativamente à dimensão do défice em 2020 afirmou não ter ainda números para avançar com essa projeção. “Pensamos que os estabilizadores automáticos possam representar, juntamente com as medidas de apoio ao emprego, números próximos dos 6,7 mil milhões de euros”, referiu.

Aquele valor tem, assim, em conta quer o aumento da despesa com as medidas de apoio ao emprego – como o ‘lay-off’ simplificado – ou com o subsídio de desemprego e também a queda da receita que irá resultar do aumento esperado do desemprego na sequência da quebra de atividade que as medidas de contenção do surto de covid-18 impuseram.

Mário Centeno reiterou que o país está mais preparado agora para enfrentar esta situação do que estava em 2011, quando teve de avançar para um resgate financeiro, e acentuou que a situação que teremos em 2020 não será muito diferente da de ouros países europeus.

Tal como o primeiro-ministro referiu em entrevista à agência Lusa, também Mário Centeno afastou o cenário de medidas de austeridade. “O que temos de garantir é que há dinheiro para acudir à fase aguda da crise”, referiu, acentuando que esta é uma crise temporária, que não é estrutural.

Queda do PIB é de 6,5% por cada 30 dias úteis com economia parada, diz Centeno

"As estimativas que existem e apresentaremos brevemente números nesse sentido estão enquadradas em factos que vão desde 6,5% do PIB anual por cada 30 dias úteis em que a economia esteja, como ela está hoje em Portugal", referiu o ministro em entrevista à TVI.

O ministro avisou que este impacto dos 30 dias úteis no PIB (Produto Interno Bruto) "não é linear" e vai-se deteriorando à medida que o tempo passa.

"Não basta multiplicar por frações de 30 dias, porque o processo vai-se deteriorando", precisou, assinalando a necessidade de ter de ser dada uma "resposta urgente e rápida à economia" assim como se está "agora a dar à saúde".

Questionado sobre se a queda do PIB poderá este ano atingir os dois dígitos, devido ao travão à atividade económica imposto pelo surto de covid-19, o ministro das Finanças admite que no conjunto do ano poderá não se atingir valores dessa magnitude, mas avisou que a queda homóloga no segundo trimestre será "com certeza de quatro a cinco vezes o máximo que alguma vez o PIB caiu num trimestre”.

Esse máximo, precisou, foi uma queda de 4,3% registada em 2012.

O Governo irá em breve avançar com novas estimativas sobre o impacto na economia, devendo estas ser vertidas no Programa de Estabilidade que este ano não será entregue em 15 de abril, tal como Bruxelas já admitiu.

Mário Centeno referiu ainda que a covid-19 está a fazer os países sofrerem “um choque de escala absolutamente inimaginável”, pelo que quando, daqui a quatro, cinco meses, houver estimativas do PIB para o segundo trimestre perceber-se-á “que nada disto tem qualquer comparação com qualquer coisa próxima que tenhamos vivido”.

O também presidente do Eurogrupo reforçou a mensagem de que a resposta a esta crise terá de ser coordenada a nível europeu e salientou que a reunião do Eurogrupo, que terminou com um acordo sobre um pacote de ajuda financeira de emergência no valor de mais de 500 mil milhões de euros aos Estados-membros, não é “o fim da linha”, mas uma forma de garantir que todos os países têm capacidade financeira para responder aos desafios que se colocam perante a pandemia do novo coronavírus.

“O que estamos aqui a criar são as garantias para que os países europeus possam no imediato dar resposta a esta crise”, referiu, precisando que os países estão a agir perante esta crise como quem joga um jogo sem ter lido as regras. “Tudo isto é novo. Não há nenhum texto, nenhuma análise em que isto tenha sido escrito”.

O acordo alcançado no Eurogrupo engloba três componentes de empréstimos: apoio às empresas através do Banco Europeu de Investimentos (BEI), num valor de 200 mil milhões de euros; aos Estados-membros através do Mecanismo de Estabilidade Europeia (MEE), num total de 240 mil milhões, e ao qual cada país pode recorrer até ao máximo de 2% do seu PIB (no caso de Portugal ascende a cerca de 4,7 mil milhões de euros); e finalmente, o apoio à proposta da Comissão Europeia para a criação de uma espécie de seguro de desemprego que corresponda às medidas que são necessárias para sustentar o emprego e o rendimento dos trabalhadores (programa SURE), de 100 mil milhões de euros.

(Notícia atualizada às 22h17)