O número de pedidos de ajuda ao Gabinete de Proteção Financeira (GPF) da Associação de Defesa do Consumidor — Deco tinha caído em 2017 para os 29.000, mas voltou a aumentar no ano passado, segundo revelam os dados do GPF, coordenado por Natália Nunes.
Mais de metade (51,2%) destes pedidos foram feitos por parte de pessoas casadas ou em união de facto, mas os dados mostram que estão a aumentar os casos de viúvos, divorciados e solteiros que vêem a sua situação financeira entrar em rutura.
O desemprego continua a liderar a tabela das causas de sobre-endividamento, mas o seu peso, como afirmou à Lusa Natália Nunes, “tem vindo a diminuir ao longo dos tempos”.
Em contrapartida, “a causa da deterioração das condições laborais subiu bastante face a 2017, passando de 8% para 19%”, o que se deve a situações de precariedade e de baixos salários.
Em declarações à Lusa, a coordenadora do GPF assinalou que “a grande constatação é que as famílias em dificuldades não estão a diminuir e surgem novas dificuldades, novas causas de sobre-endividamento”.
Entre essas novas causas inclui-se o apoio a ascendentes (pais e avós), a descida de rendimento nas reformas antecipadas e o aumento de despesas com saúde, ou seja, causas que têm a ver com rendimentos baixos e que, por esse motivo, acabam por estar relacionadas com o mercado de trabalho, ainda que não de forma direta.
“O aumento dos encargos com a saúde representa já 7% das situações que levam ao sobre-endividamento, o apoio a ascendentes – e estamos a falar de filhos que têm de contribuir para o pagamento dos lares -, são já 3% das situações, e a reforma antecipada representa já 2% das causas”, precisou Natália Nunes.
A par de um aumento de pedidos de apoio e do surgimento de novas causas, 2018 trouxe ainda outras mudanças face ao perfil observado nos anos anteriores.
As famílias sobre-endividadas têm um número médio de créditos mais reduzido do que antes da crise (em 2008), mas a taxa de esforço é agora mais elevada e agravou-se face a 2017.
De acordo com os dados da Deco, o número médio de créditos era sete em 2008, tendo baixado para cinco em 2017 e 2018.
Em contrapartida, a taxa de esforço (ou seja, a parcela do rendimento mensal que é desviada para pagar prestações de empréstimos e cartões de crédito) passou de 65% em 2008, para 79,8% em 2017 e para 80% no ano passado.
O valor das prestações de créditos suportadas pelas famílias em situação de sobre-endividamento rondou os 924 euros em 2018, contra os 850 euros em 2017, sendo que nestes mesmos anos o rendimento médio caiu para os 1.150 euros em 2018, contra os 1.200 euros um ano antes.
“Olhando para o valor das prestações de crédito e o tipo de créditos, compreendemos que são os créditos pessoais e os cartões de crédito os grandes responsáveis pelo agravamento das taxas de esforço, nomeadamente os créditos contratados recentemente”, precisou aquela responsável.
Entre 2017 e 2018, o valor médio dos créditos pessoais aumentou de 9.527 euros para 16.111 euros, enquanto nos cartões de crédito, o valor médio usado subiu de 4.400 euros para 7.580 euros. Já o da habitação manteve-se estável, a rondar os 81.000 euros.
Cerca de 67% dos consumidores que recorreram a este gabinete da Deco têm entre 40 e 65 anos de idade, o que reflete uma subida deste grupo etário por comparação com o que sucedeu em 2012, quando Portugal estava a cumprir o programa de assistência financeira. Nessa altura, as pessoas naquela faixa etária responderam por cerca de 55% dos pedidos.
Estes pedidos de ajuda deram origem à abertura de 2.737 processos de renegociação de dívidas junto das entidades credoras, o que representa um acréscimo face aos 2.422 iniciados em 2017.
A subida tem por base, segundo referiu Natália Nunes, o aumento dos pedidos de ajuda e também o facto de haver menos situações de créditos em incumprimento — o que inviabiliza a intervenção e ajuda desta associação de defesa do consumidor.
Entre os que pedem ajuda, eram 45% os que tinham já prestações em atraso. Em 2017, esta percentagem era mais elevada, chegando aos 55%.
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