O estudo, encomendado pela Câmara Municipal de Matosinhos à Universidade do Porto para avaliar os impactos socioeconómicos do fecho do complexo petroquímico no concelho, traça um “cenário particularmente grave” para a região Norte e para o país, caso não seja dado qualquer destino àquela instalação industrial.
“No cenário de não existirem alternativas para o complexo de refinação da Petrogal estima-se a perda de 1.600 postos de trabalho em Matosinhos e de 5.000 na Área Metropolitana do Porto [AMP]”, refere.
Já em termos de Produto Interno Bruto (PIB) as perdas previstas são de 5% em Matosinhos e de 1% na Área Metropolitana do Porto (AMP).
Perante estes resultados, o estudo sugere a criação de um Centro Tecnológico da Energia e do Mar, solução defendida pela presidente da Câmara, a socialista Luísa Salgueiro.
Este centro deverá ser constituído por um laboratório para a energia e para o mar, uma incubadora de empresas, hospedaria de laboratórios industriais e um parque de pilotos industriais, adianta o estudo.
Além disso, preveem-se ainda áreas para serviços auxiliares como cantinas, residências temporárias e áreas de lazer, estando ainda contemplada uma área de crescimento do complexo.
“Esta solução criará mais emprego, mais sustentabilidade e mais valor acrescentado do que a refinaria agora encerrada, permitindo a criação de um ecossistema de inovação e desenvolvimento, liderado por instituições âncora como universidades e grandes empresas”, refere o estudo.
O objetivo é, acrescenta, que este centro seja “um viveiro para novos recursos e novas ideias em áreas como a mobilidade inteligente ou a valorização energética de resíduos”.
Luísa Salgueiro ressalvou que a “localização da atual refinaria é um ativo estruturante para a região e para o país, dado estar no coração da AMP e ter acessibilidades únicas com a proximidade do aeroporto e do porto de mar, sendo ainda servida por comboio e vias rápidas de acesso direto a Espanha.
Perante estas características, a autarca considerou ser o momento de “transformar este encerramento numa oportunidade”, aproveitando fontes de financiamento “inéditas” em Portugal, referindo-se ao Portugal 2030.
A presidente da autarquia entendeu que o Portugal 2030 tem de “virar as agulhas” para Matosinhos e para a região, não podendo os responsáveis regionais e o Governo ficar de “braços cruzados”.
A constituição de um Centro Tecnológico da Energia e do Mar é a “melhor solução”, sendo o recurso aos fundos comunitários “fundamental” para o mesmo ser uma realidade, sublinha.
Luísa Salgueiro reforça que o foco está na criação de emprego e defesa do ambiente e da saúde pública.
“É para isso que estamos a trabalhar. Ainda não é conhecida nenhuma estratégia, plano ou projeto da Galp para aquele território, mas sabemos que este é o tempo da decisão e de assumir responsabilidades e, por isso, a nossa expectativa é que a empresa esteja alinhada com a nossa visão para o futuro”, conclui.
A Galp desligou a última unidade de produção da refinaria de Matosinhos em 30 de abril, na sequência da decisão de concentrar as operações em Sines.
A petrolífera justificou a “decisão complexa” de encerramento da refinaria de Matosinhos com base numa avaliação do contexto europeu e mundial da refinação, bem como nos desafios de sustentabilidade, a que se juntaram as características das instalações.
Após ter decidido o encerramento da refinaria, a Galp encetou conversas individuais com os 401 trabalhadores em causa, chegando a acordo com mais de 40%.
“Dentro desses, mais de 100 continuarão a sua atividade, quer no parque logístico de Matosinhos, que manterá as suas funções de abastecimento ao mercado de combustíveis do Norte do país, quer por via da mobilidade interna para as áreas das renováveis, inovação, novos negócios e também para a refinaria de Sines”, adiantou à Lusa, em maio, o administrador da Galp Carlos Silva.
Por outro lado, mais 30% do total dos trabalhadores da refinaria de Matosinhos irão manter-se, pelo menos, até janeiro de 2024, no âmbito das operações de desmantelamento e descontinuação.
O Estado é um dos acionistas da Galp, com uma participação de 7%, através da Parpública.
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