A Grécia, o país europeu mais atingido pela crise económica e financeira, foi o primeiro e último a pedir assistência financeira — e o único “reincidente” –, e a conclusão do seu terceiro programa assinala também o fim do ciclo de resgates a países do euro iniciado em 2010, e que abrangeu também Portugal (2011-2014), Irlanda, Espanha e Chipre.
“O dia 20 de agosto de 2018 é para marcar no calendário e celebrar”, disse no início de julho o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, perante o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, poucos dias após o fórum de ministros das Finanças da zona euro ter acordado a conclusão do terceiro resgate à Grécia, lançado em agosto de 2015 depois de meses de uma crise profunda na União Europeia.
O histórico da crise grega e da zona euro recua no entanto, pelo menos, a 2010, altura em que tem lugar a primeira cimeira extraordinária de líderes da UE para discutir o “problema grego”, à luz das revelações de que as autoridades gregas haviam ocultado os verdadeiros dados macroeconómicos do país e manipulado os números do défice público, que era afinal, na altura, de 12,5%, mais do dobro do valor anunciado.
Em maio desse ano, e ultrapassadas as reticências iniciais da Alemanha, é aprovado o primeiro resgate para a Grécia, no valor de 110 mil milhões de euros, naquele que seria o início de uma série de resgates a países da zona euro — com participação também do Fundo Monetário Internacional (FMI) –, em plena crise da dívida soberana, incluindo, precisamente um ano depois, em maio de 2011, Portugal.
Em março de 2012, é aprovado um segundo resgate à Grécia, no valor de 130 mil milhões de euros, mas Atenas tarda em conseguir o “ajustamento” das suas contas públicas, e a crise mais profunda tem lugar em 2015, quando o partido de extrema-esquerda Syriza de Alexis Tsipras sobe ao poder e enfrenta os credores, a “‘troika’, nas negociações para a conclusão desse segundo programa de assistência, ficando famoso o confronto entre os então ministros das Finanças grego, Yanis Varoufakis, e alemão, Wolfgang Schäuble.
Numa altura em que Portugal já tinha concluído o seu programa de assistência, Bruxelas conhece então dos momentos mais agitados da sua história, com uma “maratona” de cimeiras extraordinárias, ao nível de ministros das Finanças mas também de chefes de Estado e de Governo, durante as quais chegou a pairar a ameaça de uma “expulsão” da Grécia da zona euro.
Finalmente, em agosto de 2015, e já com Varoufakis afastado do governo de Tsipras, é alcançado um acordo entre Atenas e os seus credores para um terceiro e derradeiro programa de assistência (num montante máximo de 86 mil milhões de euros), que chega então agora ao fim, com uma “saída limpa” da Grécia, que continuará todavia a ser alvo de uma vigilância reforçada.
Na sua intervenção em 04 de julho perante o Parlamento Europeu, Centeno, que assumiu a presidência do Eurogrupo em janeiro deste ano, advertiu que as autoridades de Atenas devem imperiosamente prosseguir uma “política orçamental prudente” e reformas estruturais, recordando que haverá lugar a uma “vigilância pós-programa reforçada”.
Esta vigilância reforçada — como missões de três em três meses — não significa todavia que a Grécia continue de alguma forma sob programa, asseverou Centeno: “Deixem-se ser claro: «fora do programa» para a Grécia significa «fora do programa»”, disse, acrescentando que “a Grécia deve participar no euro como qualquer outro país”.
E, a partir de segunda-feira, o euro deixa de ter qualquer membro sob resgate, oito anos volvidos.
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